O que é perfil sensorial e como ele pode lhe auxiliar no desempenho das suas tarefas?
Nós nos relacionamos com o ambiente - seja externo, seja interno - a partir da nossa experiência sensitiva. A resposta que damos à essa experiência, resulta em um comportamento.
Com base nessa premissa simples, em 1.963, uma terapeuta ocupacional, psicóloga e também neurocientista, chamada Jean Ayres, formulou a teoria da Integração Sensorial (IS). Definiu a IS como “o processo neurológico que organiza a sensação do corpo e do ambiente, e torna possível usar o corpo eficientemente no meio”. Ou seja, é um processo neurológico – inconsciente – que permite que recebamos todos os estímulos sensoriais que estão ao nosso redor e os “filtremos” para que consigamos nos manter focados na tarefa que estamos executando no momento.
Sensibilidade e processamento sensorial
É importante que façamos a diferenciação entre sensibilidade e processamento sensorial. Sensibilidade é a transmissão das propriedades físicas de um estímulo para o cérebro. Por exemplo: a textura da casca de uma fruta, seu cheiro, seu sabor, sua cor, forma, consistência são propriedades físicas percebidas por nosso cérebro por causa da sensibilidade advinda dos órgãos dos sentidos (visão, olfato, gustação, tato e audição). O processamento sensorial é a modificação dos estímulos, em busca de um equilíbrio mediador entre esse estímulo e a resposta provocada, bem como a organização e a comparação com experiências pregressas para determinar o significado do estímulo sensorial. Ou seja, aquela fruta que percebemos por causa da nossa sensibilidade é agora avaliada por meio do processamento sensorial para identificarmos se já a conhecemos, experimentamos e gostamos, ou não. Do resultado do processamento sensorial, advém a resposta atração ou repulsa pela fruta (comportamento).
Tudo seria muito simples se a questão se encerrasse no que gostamos de comer. Mas nas palavras de Dunn (2.011): “Existem muitas maneiras de caracterizar a experiência humana. Nós podemos considerar os aspectos psicológicos, físicos e cognitivos de ser humano. Independente da perspectiva que utilizamos, a sensação é o combustível que alimenta todas as nossas experiências. Nós adquirimos informações sobre nossas experiências psicológicas, físicas e cognitivas a partir de nossos sentidos. (...) Nós não conseguimos compreender as experiências das pessoas em suas vidas sem entender como seu sistema nervoso recebe, processa e dá significado às informações sensoriais que lhes são apresentadas”.
Integração sensorial
De modo bem resumido, o processo de integração sensorial se dá por:
- Registro sensorial: consciência da sensação. Percepção do estímulo (sentir algo);
- Orientação: atenção seletiva ao estímulo;
- Interpretação: atribuição de significado da sensação baseada em experiências prévias e de aprendizagem. Associação de uma emoção à sensação;
- Organização da resposta: determinação da resposta cognitiva, afetiva ou motora. Decisão do que e como fazer;
- Execução de uma resposta: concretização da resposta previamente elaborada.
Evidentemente, o assunto é complexo e há mais nuances e aspectos a serem considerados no processamento sensorial. O que foi apresentado até aqui é o "básico do básico" para a compreensão do que é o perfil sensorial e como isso pode influenciar a sua concentração e produtividade nas atividades de vida diária, inclusive, no seu trabalho.
Porém precisamos, ainda, apresentar dois conceitos importantes na determinação do perfil sensorial. Como o seu sistema nervoso realizará o processamento sensorial é baseado em limiares para a resposta (forma como o cérebro reage aos estímulos) e mecanismos de autorregulação (forma como o indivíduo reage).
-Limiares para a resposta: volume excitatório necessário para ativar um determinado neurônio ou grupo de neurônios. Algumas pessoas precisam de um volume maior (limiar alto) do que outras (limiar baixo) e uma mesma pessoa pode apresentar limiar alto para determinado estímulo e baixo para outro. Por exemplo: a pessoa pode ser facilmente irritável a sons altos, mas ter baixa percepção a toques leves.
- Mecanismos de autorregulação: ocorre dentro de um continuum entre os extremos “mecanismos ativos” e “mecanismos passivos”. Algumas pessoas apresentam resposta ativa para autorregular um estímulo que não lhe seja agradável. Por exemplo, sair da sala onde está o som alto. Outras são passivas, aguardam e somente depois, respondem. Por exemplo, em vez de sair da sala para limitar o nível de estímulo que recebe, a pessoa permanece no local, mas fica irritada.
Perfil sensorial
Agora, sim, podemos falar sobre o perfil sensorial das pessoas, que nada mais é do que a forma individual de processar a informação sensorial, que ocorre no ponto de encontro entre os limiares neuronais e o continuum da autorregulação. São descritos quatro perfis:
- Busca de sensação (os chamados buscadores): representa limiares altos e estratégia de autorregulação ativa. Essas pessoas se sentem mais confortáveis quando recebem um maior estímulo sensorial. Elas selecionam o comportamento para aumentar a quantidade e a intensidade das experiências sensoriais em suas rotinas diárias. Por exemplo, podem querer ouvir música, enquanto fazem outra atividade; podem morder lápis; levantar frequentemente da cadeira; balançar as pernas enquanto ficam sentadas. Com essa busca contínua de estímulos, podem ser mais distraídas durante a execução de suas tarefas.
- Prevenção da sensação: representa limiares baixos e estratégia de autorregulação ativa. Evitam situações nas quais novos estímulos sensoriais podem ocorrem; ou seja, pessoas com o padrão de prevenção de sensações selecionam o comportamento de modo a minimizar a possibilidade de situações sensoriais novas ou inesperadas. Seu conforto se dá frente a estímulos sensoriais familiares.
- Sensibilidade sensorial: representa limiares baixos e estratégia de autorregulação passiva. Pessoas com esse padrão percebem muito rapidamente os estímulos ao seu redor. Essa rápida percepção acarreta, consequentemente, à uma rápida reação – o que faz com que essas pessoas sejam tidas como distraídas ou aparentemente entediadas.
- Baixo registro: representa limiares altos e estratégia de autorregulação passiva. Pessoas com baixo registro sensorial podem parecer desinteressadas, mas, na verdade, demoram mais a perceber um estímulo do que outras pessoas. Podem, também, ser vistas como calmas demais, pelo mesmo motivo. Por causa do baixo registro, essas pessoas são mais tolerantes e ficam confortáveis em mais situações estressantes do que as demais.
Agora que já conhecemos os perfis sensoriais fica mais claro entendermos como isso influencia no comportamento das pessoas. Em um ambiente de trabalho, em uma equipe, encontraremos indivíduos de distintos perfis – visto que refletem a experiência humana no geral – e, portanto, é importante que os compreendamos para que sejam aliados no bom desempenho da pessoa. Estudos recentes demonstram como o uso de estratégias, como, por exemplo, a utilização de bolas terapêuticas para se sentar, em vez de cadeiras, promoveram melhora no desempenho das tarefas escolares em crianças com e sem incapacidades (Schilling, Washington et al., 2003). Esses estudos formulam a hipótese de como a ativação neuronal influencia no comportamento das crianças.
Mas e os adultos? Pode-se dizer que o processo seja o mesmo, pois vários outros estudos já demonstraram evidências a respeito dos perfis sensoriais em pessoas de todas as idades, desde o lactente até idosos sem incapacidades (Dunn & Brown,1997; Dunn, 1999; McIntosh, Miller et al. 1999; Dunn, 2001; Dunn & Daniels, 2001; Pohl, Dunn et al., 2001;Brown & Dunn, 2002; Dunn, 2002).
De posse da compreensão do perfil sensorial, como terapeutas ocupacionais e ergonomistas, devemos adequar o ambiente de trabalho para que o indivíduo se sinta o mais confortável possível e, consequentemente, mais produtivo e com melhor gerenciamento de estresse. Medidas simples e corriqueiras, como permitir a alternância de postura durante a tarefa, uso de fones de ouvido – tanto para limitar estímulo sonoro, quanto para possibilitar -, cuidado com a iluminação local e temperatura, esclarecimentos sobre as rotinas, eventos, fazem toda a diferença no nível de engajamento na tarefa das pessoas e qualidade de vida no trabalho, desde que essas ações estejam coerentes com os limiares neuronais e mecanismos de autorregulação de cada um. Entender o perfil sensorial ajuda a compreender um dos porquês o trabalho é que deve ser adaptado à pessoa.
Fonte: DUNN, Winnie. Sensibilidade e processamento sensorial, cap. 58, p. 1.104- 1.122. IN.: WILLARD & SPACKMAN, Terapia Ocupacional, 2.011, Guanabara Koogan, 11 ed.
ROLEY, Susanne Smith; JACOBS, E S Essie. Integração Sensorial, cap. 59, p. 1.124 – 1.145. IN.: WILLARD & SPACKMAN, Terapia Ocupacional, 2.011, Guanabara Koogan, 11 ed
SERRANO, Paula. A integração sensorial no desenvolvimento e aprendizagem da criança, 2.016, Ed. Papa Letras.
Terapeuta Ocupacional na Prefeitura Municipal de Salinas
2 aDepois de aplicado o Perfil sensorial qual a validade?
Ilustrador freelancer (Autônomo)
3 a👏👏👏👏