O que é ser uma mulher trans não binária?
Coluna "Repense" escrita por Bielo Pereira para o Instituto Dona de Si
Já começo com um questionamento que muitas de nós (se não todas) já nos fizemos em algum momento das nossas vidas “O que é ser mulher?” Pra mim é ter o direito de ser e expressar quem eu realmente sou! Ser mulher é uma luta diária para ser ouvida, validada e respeitada, é ser alguém que nasceu para ter estamina e um resiliência que nos permite realizar sempre o impossível.
Eu, mulher preta, trans, não binária e intersexo estou aqui para repensarmos as nossas narrativas de gênero, corpo e comportamento. Quero que cada uma de vocês, minhas irmãs que estão me lendo peguem uma boa xícara de chá se aconchegue e vamos ter uma conversa franca sobre o que é ser mulher hoje e sempre.
Meu reconhecimento enquanto uma mulher trans chegou como uma avalanche de um rio que estava adormecido e congelado dentro de mim, sou de uma família muito religiosa e desde muito pequena tive uma criação para me entender como sendo uma pessoa que merecesse ser demonizada pela sociedade pelo simples fato de ser quem sou, e eu me deixei sentir assim por muito tempo, eu escondia minha verdadeira natureza de mim mesma, o meu corpo de fenótipo Intersexo sempre me deu indícios claros de que eu nasci marcada para ser uma guerreira, uma Dandara desde que conseguisse encontrar esse caminho dentro de mim mesma.
Ao nascer fui identificada como macho, socializada como menino, tive um
desenvolvimento corporal intersexo e sempre fui mulher, ao mesmo tempo que me via e sentia que também era o que a sociedade esperava de mim, ora essa, será possível eu ser od 2? Todas as possibilidade que foram apresentadas me diziam que só podemos ser apenas 1 em um mundo binário, sempre existe uma luta criada entre o bem e mal, preto e branco, azul ou vermelho, seria possível eu ser violeta? E sim minhas irmãs isso é possível. E digo mais, as misturas não se dão apenas dentre essas cores, a paleta do gênero ainda é muito pouco explorada pela nossa sociedade de base extremamente conservadora.
Quando falamos de não-binarismo, estamos falando de um espectro amplo que foge a todas as convenções de gênero à qual a nossa sociedade nos impõe a todo momento, entender o que ser quem realmente somos vai muito além da nossa genitália, da forma como sentimos prazer, ou da forma como nos apresentamos socialmente, mas é sobre como nos programamos para ser.
Sou mulher e homem ao mesmo tempo, o tempo todo, independente da imagem social que eu esteja apresentando – roupas, maquiagem, trejeitos, signos que são estereotipados para serem marcadores de gênero – sendo assim sou bigênere, ou intergênere, como preferirem. Muito prazer, Bielo Pereira.
Definir a nossa existência é processo único e pessoal no qual o outro deve apenas nos observar e respeitar, todas nós em algum momento de nossas vidas, nos olhamos e nos reconhecemos enquanto mulher, isso mesmo TODAS nós, o gênero que nos foi dado ao nascer por um terceiro, para muitas é o mesmo com o qual elas tiveram o prazer de se reconhecer, e isso de maneira alguma invalida a existência ou vivência de uma irmã que foi
pré-designada com um gênero dissonante de quem ela realmente é.
Libertar quem nós somos e entender que esse processo está desassociado do nosso corpo e da nossa sexualidade é um processo muito novo, e que merece uma atenção especial, esse é meu processo de mulheridade, e qual é/foi o seu processo de mulheridade? Vamos conversar mais sobre isso! Me escreva e vamos a cada mês nos aprofundar ainda mais nessa temática que nos conectam enquanto irmãs, nossa existência se interconecta no espectro da nossa sobrevivência, de luta para (r)existir em um sistema que foi criado para nos aniquilar, vamos ter a audácia de viver, dar as mãos e quebrar a roda desse sistema.
E eu respondo a provocação que encabeça essa coluna, ser um mulher trans não binária é Ser Mulher!
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Bielo Pereira é consultora de Diversidade, mentora, artista e comunicadora. Promove as pautas de gordoativismo, empoderamento de pessoas negras e luta contra a discriminação da população LGBTQI+. É apresentadora do programa Coisa Boa Pra Você no canal do GNT no YouTube.
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