O que é um sistema?
Normalmente, quem trabalha com informática, com engenharias e com diversas outras profissões técnicas e tecnológicas encontra o termo “sistema” embutido nos seus estudos. Muitos outros cientistas também se deparam com esse termo quando pesquisam estruturas que têm um modo de funcionar específico dentro de um conjunto. Ultimamente, por estranho que pareça, também é comum encontrarmos discursos entre integrantes de grupos radicais ou alternativos quando se referem à sua posição ideológica como contrária e subversiva ao “sistema”. Mas o que de fato significa esse termo?
O conceito de sistema é complexo. A palavra tem origem, na Grécia antiga, sem uma data exata, mas aproximadamente entre os séculos IV e V a. C. Esse vocábulo vem da conjunção de duas outras, sys e histemis, pelas quais se compreenderia um conjunto lógico e ordenado de raciocínios no qual poderíamos nos apoiar para demonstrar racionalmente uma verdade ou a interpretação de um fato.
Tal interpretação intelectualista do sistema vigorou, por muito tempo, sem grandes alterações, até que ao final do período renascentista, na Europa, especialmente, na Alemanha e na Itália, esse conceito deixa de ser totalmente abstrato e passa a se ligar a conteúdos empíricos, quer dizer, passa a ser compreendido como todo objeto, materialmente composto, que contém outros objetos dentro de si (subsistemas) e que se relacionam de modo interdependente, funcionando como uma unidade dentro de um contexto. Por isso, a ideia de sistema, naquela época, seria aplicada gradualmente a diversas estruturas desvendadas pela ciência, como por exemplo, o “sistema heliocêntrico”, o “sistema circulatório” e o “sistema feudal”.
Nos dias de hoje, o conceito se encontra completamente disseminado e dando sentido a diversas outras estruturas, como por exemplo, o sistema bancário, o sistema termodinâmico ou apenas o sistema operacional do seu computador. Nesse sentido, podemos dizer que não vivemos sem sistemas e sistematizações. Estamos imersos neles, produzindo e reproduzindo-os, principalmente quando organizamos racionalmente nossas observações para depois construir qualquer tipo de coisa com sentido (um argumento, uma teoria, um produto, etc.). Mas se sabemos agora um pouco da origem, do significado e da importância do conceito, ainda nos sobra um ponto a esclarecer: o que significa defender a posição de “ser contra o sistema”?
Aparentemente, essa posição pode parecer interessante àquele que se autodenomina rebelde e inovador, independentemente de sua área de conhecimento e de luta. Ser “contra o sistema” parece, para este, um estado de negação de tudo aquilo que já foi proposto ou que é tradicional, e que, além disso, seria passível de ser destruído em prol de “algo melhor”.
Não podemos negar que existam várias maneiras de destruir, aqui e ali, partes de um sistema. Mas os problemas são basicamente três: primeiro, romper definitivamente com qualquer sistema é desprezar tudo aquilo que também foi construído com muita dificuldade durante muito tempo – inclusive as produções de cientistas que já foram rebeldes em suas épocas; segundo, quando se busca romper com qualquer sistema, tenha a certeza de que outro sistema (melhor ou pior) sempre se esconde por trás; terceiro, todo sistema (criado pela mente humana ou descoberto na natureza) é um conjunto de esforços e contribuições individuais. Ninguém constrói qualquer sistema sozinho, e muito menos, da noite para o dia. É isso que nos faz entender, aos poucos que, criticando ou defendendo, nós mesmos somos o sistema.
Felipe de Lucca, Mestre em Filosofia pela USP, Pesquisador, na área de Filosofia da Ciência pela mesma Universidade e Professor titular, no Colégio de Aplicação Dr. Alfredo José Balbi, da Universidade de Taubaté e na Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Contato: luckdelucca@usp.br