O que aprendi com o medo de baratas sobre finalizar ciclos, ignorar a reação alheia e ter coragem de agir

As conexões fatídicas que fazemos ao longo da vida nos trazem a releituras inimagináveis de repente. Podemos pensar que um grande milagre acontece quando percebemos aquele “clic” que interliga vários fatos que um dia aparentemente não tinham relação nenhuma e de repente, “conversam entre si” com uma habilidade extraordinária.

Mas quem concede esse diálogo a não ser nossas permissões a nós mesmos? Quanto mais nos conhecemos, mais engenhoso fica. Quanto mais abrimos as cortinas de fumaça de nossa mente, mais percebemos que as histórias que contamos sobre nós mesmos são contos que podemos adaptar, traduzir e reconfigurar, pelo resto das nossas vidas, se dissermos aquele “sim” que traz luz ao nosso sistema comportamental. E ilumina todo nosso ambiente a seguir.

O perfeccionismo já foi uma trave muito consistente ao longo da minha vida. Cobrei ao mundo a perfeição que nunca alcancei — mesmo porque o universo tende a nos conduzir à entropia. Tudo equilibra pelo desequilíbrio. O medo vai fazer parte. A procrastinação também. Seu conjunto de desculpas vai reforçar sua paralisia porque o corpo prefere o conforto e nossa mente acredita nisso. Pare e sinta. Descubra o que te causa a trava das suas mudanças. Olhe pra trás…

Tive uma infância em busca da congruência que eu acreditava ser a vida perfeita. Só que o perfeito tem a ver com nossos próprios valores e crenças, com quem somos, com o que aprendemos com nossos pais e referências da primeira infância. A paz que eu buscava estava no mundo interno que eu acessava para me blindar da vida lá fora, cheia de inesperados e reações alheias que poderiam me desestabilizar. E eis que um dia… alguém me trouxe um medo pra lidar. De tantos, esse marcou drasticamente. E apresento essa história pra falar dele para vocês.

Era tardezinha e eu era um pinguinho de gente que brincava no playground do prédio com amiguinhos. Em algum momento, encontramos uma barata. E alguém simulou jogá-la em mim. Se jogou de fato ou não, meu medo foi tão grande naquele momento que apaguei da memória consciente pra sempre. Apenas me coloquei imediatamente em posição fetal e pronto. O que aconteceu depois? Desconheço. A vida foi passando e o medo de baratas sempre esteve presente. Não conseguia ver nem estar perto, matar, muito menos. Sou capaz de sentir a sensação física do casco, consigo descrever detalhadamente suas partes corporais. Devo ter tido um contato ainda maior com o bicho naquele momento de ameaça do meu amiguinho, a sensação de invasão ao imaginar a proximidade física me apavorava a vida inteira. Mas o que tudo isso afinal significa hoje?

Após meu primeiro treinamento de formação em PNL, parte dessa fobia foi curada. Meses depois de passar por uma dinâmica de cura no Practitioner, consegui enfrentar uma barata dentro de casa e a matei. Mas não consegui recolher o cadáver… o que essa cena metafórica me dizia?

Minha máscara de personalidade adquirida na infância (sou traço 4 no Eneagrama) é uma excelente lente de leitura para isso. Sempre tive questões com rompimentos. Com términos. Com o fechar de portas. Com o possível sofrimento de ser abandonada. Já no segundo treinamento de formação em programação neurolinguística, acessei a lembrança mais viva da minha primeira infância: de estar num pronto-socorro sozinha ao ter o queixo fraturado e costurado numa emergência. Quis fugir a todo custo e fui contida por uma legião de enfermeiros na marra. Entretanto, minha mãe estava lá vendo tudo. E me amando com todo seu amor ao deixar que cuidassem de mim. Eis a percepção de uma cura sistêmica… Um segundo pode ter sido necessário para eu me contar a história de abandono que marcaria meus relacionamentos pra frente, lá de trás até pouco tempo atrás. Já parou pra pensar que nossa imaginação é fértil demais e a gente acredita tanto em histórias que pesam e bastaria ver com mais leveza e aceitação o que passou pra tudo ganhar um novo sentido?

Passei a entender meu padrão de dificuldade de finalizar projetos, de adiar decisões, de abandonar coisas, sonhos e desejos pelo simples fato de me agarrar na defesa da vitimização. Admitir isso me liberta para fazer diferente, para seguir sabendo que posso tirar da minha frente o que precisa ser cíclico e fechar as portas com percepções de compaixão. O que o outro vai pensar? É dele. Basta tomar a decisão sem ponderar. Ou a barata pode fugir ;)

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