O que a ciência diz sobre essa tal “gratidão”?

O que a ciência diz sobre essa tal “gratidão”?

Para quem, assim como eu, segue uma rotina com pragmatismo e foco em solução, não é muito comum ser tomado por discursos de “gratidão”. Muitos acabam parecendo rasos, forçados, como se fosse mesmo uma “viagem” agradecer por tudo e mais um pouco.

E mais, relacionar gratidão ao ambiente de trabalho muitas vezes parece até hipócrita e coisa de quem está fora da realidade do momento. Imagina uma situação de extrema pressão, cobrança e mil e uma dificuldades?!

Não é que eu não tenha o hábito de agradecer. Pelo contrário, me considero uma pessoa muito grata. Meus valores estão ligados à disciplina, à luta, a um caminho que abraça certas dores, pois as experiências fazem parte do nosso crescimento.

Mas, depois que escrevi sobre atitude e mentalidade, o algoritmo provavelmente imaginou que “gratidão” fosse algo que iria fazer sentido e me bombardeou de materiais sobre isso.

E, dessa vez, me deparei com conteúdos com base científica, que colocavam a gratidão como algo realmente válido para desenvolvimento pessoal e profissional.

O que a ciência diz sobre agradecer

Existem alguns milhares de estudos científicos que apontam os benefícios de sermos pessoas mais gratas. Há pesquisas que associam o sentimento de gratidão à produção de neurotransmissores que ajudam no controle do estresse, como a serotonina – o tal hormônio do prazer.

Agradecer também tem relação com a redução de sentimentos menos construtivos – ainda que humanos e válidos –, como inveja e ressentimento.

Segundo a ciência, a prática constante de gratidão leva a transformações no cérebro que nos ajudam a tomarmos menos as coisas como pessoais e, assim, escutamos melhor e agirmos com mais sabedoria e inteligência emocional.

Ou seja, até aqui já temos boas respostas sobre como a gratidão tem impactos relevantes no ambiente corporativo, um lugar de muitas conexões e relacionamentos.

Receber gratidão é ainda melhor

Alguns especialistas sugerem fazermos uma lista diária de motivos para sermos gratos. Separar poucas coisas dignas de gratidão, todos os dias. Se você já faz isso e funciona para você, maravilha, mas vou seguir um pouco além.

Entre vários conteúdos que vi sobre gratidão, um que mais me chamou atenção foi o episódio “Ciência da Gratidão”, do podcast de um dos neurocientistas mais respeitados da atualidade, Andrew Huberman, que é professor do Departamento de Neurobiologia da faculdade de Medicina da Universidade de Stanford, nos EUA.

Vou fazer um resumo de uma parte, mas o conteúdo pode ser acessado no YouTube – em que é possível ativar legendas automáticas em português – ou no Spotify.

Huberman explica que, com base em estudos científicos, as transformações nos circuitos cerebrais são realmente mais efetivas quando as pessoas recebem gratidão.

Ou seja, alguém que nos faz um agradecimento, seja pessoalmente, por mensagem, email ou até carta, acaba promovendo mudanças positivas em nosso cérebro.

Para gestores, uma sugestão é organizar no meio da correira da rotina do dia a dia, uma sessão diferente de quebra-gelo, em que os colaboradores escrevem em um papel algo pelo qual são gratos e, assim, trocam essas mensagens entre eles.

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Agradecimento precisa ser sincero

Pode parecer óbvio, mas todo agradecimento, seja dado ou recebido, precisa ser sincero. Não adianta fingirmos que somos gratos por algo, até porque nosso cérebro não vai se deixar enganar, certo?

Com isso, não devemos ficar simplesmente esperando ou “pedindo” que as pessoas saiam nos agradecendo. A solução para isso é nós mesmos procurarmos narrativas que envolvem gratidão. Como assim?

Segundo Huberman, o cérebro é capaz de responder a narrativas que são oferecidas a ele. Ele cita como exemplo um estudo que avaliou indivíduos assistindo a vídeos de sobreviventes de genocídios e suas posturas de gratidão a quem lhes ofereceu ajuda.

As pessoas que viram as histórias tiveram uma mudança na fisiologia envolvida no córtex pré-frontal, área do cérebro fortemente ligada ao comportamento.

A explicação para isso, segundo o neurocientista, é o fato de os circuitos neurais serem fortemente ativados por histórias. Por meio de narrativas, a mente vai formando conexões e aprendendo, armazenando informação e repertório.

Não é por acaso que somos seres sociais, contadores de histórias que, por sua vez, vão nos levando a criar contextos e associações em nossos cérebros.

Como ativar sozinho o “circuito da gratidão” no cérebro

Com base nessa ideia de exemplos de agradecimento, Huberman sugere que as pessoas que desejam estabelecer práticas diárias de gratidão podem escolher uma história significativa para elas.

Isto é, pensar num momento em que você ajudou alguém e como se sentiu após receber o agradecimento.

  • Qual foi a dificuldade que a pessoa estava passando?
  • Qual foi a ajuda que ela recebeu?
  • Como essa história te impactou emocionalmente?

O neurocientista menciona que, com pouquíssimos minutos, podemos pensar nessa tal história e, então, listar num papel ou no celular os pontos acima. Assim, cria-se uma rotina de gratidão realmente eficaz para transformar os circuitos neurais.

Cada um tem o próprio caminho

Bom, como falei logo no início, a “viagem” da gratidão pela gratidão pode não fazer sentido para você, assim como não faz para mim.

Mas não há dúvidas de que encontrarmos motivos para sermos gratos e, melhor ainda, dizermos a alguém o quanto somos gratos, certamente tem impactos positivos em nossas redes de convívio.

Se pararmos para pensar no que é ser grato, estamos diante de uma postura de validação do outro. E, para nós mesmos, é um sinal de otimismo e, por que não, resiliência.

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