O que a Costa Rica nos lembra sobre Unidades de Conservação?

O que a Costa Rica nos lembra sobre Unidades de Conservação?

Quem me acompanha nas redes sociais deve ter visto que passei o último mês rodando a Costa Rica – desculpem o overposting, colegas, não pude resistir! Mas o que eu quero compartilhar com vocês hoje, além das belas imagens – sim, teremos – são alguns dos (re)aprendizados que tive sobre o ecoturismo e o papel dos Parques Naturais e das unidades de conservação de forma geral.

Vamos começar por uma importantíssima e urgente:

As Unidades de Conservação criam um respiro no mundo

Mais da metade da área da Costa Rica, que tem pouco mais de 51 mil km², é coberta por florestas e concentra 5% da biodiversidade do mundo, segundo a CNN Brasil. São cerca de 27 parques nacionais, 11 áreas de conservação, além de refúgios selvagens, reservas e corredores biológicos, com ainda Patrimônios Naturais Mundiais da UNESCO:

  • Reservas de la Cordillera de Talamanca–La Amistad /Parque Nacional de la Amistad (1983, 1990)
  • Parque Nacional Isla del Coco (1997, 2002)
  • Área de Conservación Guanacaste (1999, 2004)
  • Asentamientos Cacicales Precolombinos con Esferas de Piedra de Diquís (2014)

O país tem florestas tropicais, vulcões, águas termais e praias divididas entre o Oceano Pacífico e o mar do Caribe. Em termos de população, são 5 milhões de habitantes no território.

Essa configuração cria um “mar de floresta” ali no meio do continente americano. É um bom respiro entre tantos usos urbanos, agrícolas de monocultura ou áreas de natureza menos conservada em geral. Na crise climática que vivemos, manter florestas deixou de ser uma gentileza global para se tornar uma necessidade urgente.

Parque Nacional Vulcão Arenal



Na aceleração do mundo e nas incertezas, a natureza nos ajuda a reconectar com quem somos – parte dela, lembra? “Estudos mostram que estar perto da natureza tem relação com a melhora de vários índices de saúde e de bem-estar, como a diminuição da pressão arterial, a redução dos hormônios associados ao estresse, a melhora dos batimentos cardíacos, do humor, da função cognitiva, por exemplo”, explica Mariana Napolitano, gerente de Conservação do WWF-Brasil.


Parque Nacional Manuel Antônio

 

 

O ecoturismo é uma forma de conservar esses territórios com benefícios econômicos para o lugar

Na Costa Rica os parques nacionais cobram 17 dólares dos visitantes internacionais e cerca de cinco dólares para moradores do país. Além desses recursos, que vão para o estado e para conservação da natureza, milhares de pessoas estão envolvidas na prestação de serviços e há grande oferta de parques privados (no Brasil se chamam RPPNs) e serviços de aventura como rafting, trekking, canoagem, arborismo, etc. De acordo com o WTTC, o emprego turístico ascendeu a 246.300 pessoas em 2019, o que representava 11,3% do emprego total, mas diminuiu em 2020 para 178.600 pessoas (-27,5%) e passou a representar 9,2% do emprego total por conta da pandemia pela Covid. Os dados são do Plano Nacional de Turismo da Costa Rica 2022-2027 e, em breve, devem ser atualizados para a realidade pós-pandêmica. 

Independentemente da crise do covid e da recuperação, o ecoturismo é a principal fonte de receitas do país.

Parque Nacional de Cahuita


O ecoturismo permite que as pessoas conheçam animais em seu habitat

É cada dia mais polêmica e controversa a prática de manter zoológicos como espaços para educação ambiental e conservação de espécies. A Costa Rica nos lembra que ecossistemas bem conservados permitem um turismo de observação da vida silvestre sem a necessidade de grades ou chips.

Parque Nacional de Tortuguero


Os animais são respeitados, diferente de orcas,  golfinhos “e outros 550 mil animais silvestres que atualmente vivem em cativeiro e sofrem abusos pelo turismo diariamente. Desse grupo fazem parte tigres e elefantes em falsos santuários, ursos em zoológicos tropicais, aves exóticas em gaiolas, e também botos cercados de gente na Amazônia, tubarões superalimentados em Palau ou dromedários em trabalhos forçados no nordeste”, como alerta Ana Duék, idealizadora do Viajar Verde.  

O que se percebe no dia a dia (o grande ganho da experiência de um slow travel por esse país) é que pura vida é uma cultura. Uma forma de ver o mundo que se entende parte da natureza. Os ticos (apelido carinhoso dos nativos costarriquenhos) tem orgulho de seu país, recebem com grande hospitalidade e exigem que seus visitantes sejam tão cuidadosos quanto eles nas questões ambientais. 

A Costa Rica abriu mão de um exército e se orgulha de ter altos investimentos na conservação da natureza. Um paradigma muito distinto da maioria dos países que conhecemos, não é mesmo?

Tendo o turismo como atividade econômica fundamental, espero que muitas e muitas pessoas possam visitá-la, não só para garantir a viabilidade financeira da conservação desse incrível patrimônio natural, mas sobretudo para que muitos possam se inspirar e aprender que é possível um olhar mais leve e uma prática mais sustentável de estar no mundo. 

 

Originalmente publicado no site da Raízes

Alberto Viana

Pesquisador UFBA do Grupo DARC/NERA, doutorando no PPGDC UNEB, Educador e Consultor em Ecogastronomia e Turismo Comunitário

6 m

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