“O que dá resultado: ter um motorista treinado e capacitado para uma direção segura e assistido por tecnologia e gestão”

“O que dá resultado: ter um motorista treinado e capacitado para uma direção segura e assistido por tecnologia e gestão”

Um acidente é uma grande dor de cabeça para qualquer frotista, como confirma a “Análise de Grandes Riscos do Setor de Transporte”, da Confederação Nacional do Transporte (CNT), onde o aumento da sinistralidade aparece entre os maiores riscos apontados pelos empresários do setor. Além do risco de perda de vidas, um acidente é prejuízo certo, tanto pelos gastos diretos atrelados a reparos e seguro quanto pelos indiretos, como o tempo de veículo parado e perda da carga. Segundo levantamento da CNT, acidentes e mortes nas rodovias federais custaram ao país quase R$ 13 bilhões em 2022.

A boa notícia é que as ações de prevenção funcionam e novas soluções de tecnologia chegam ao mercado para ajudar, inclusive com o uso de inteligência artificial. Fomos conversar com o Willian Oliveira, líder de Prevenção de Acidentes da nstech, que se apresenta como “a mais completa plataforma de tecnologia open logistics do mundo”. Além de oferecer produtos desenvolvidos para o Transporte Rodoviário de Cargas (TRC), eles têm levantamentos com dados muito interessantes sobre o tema, que o Willian compartilha nesta conversa.

A entrevista, você confere logo abaixo. Boa leitura!

Pingue-pongue

Willian Oliveira

Líder de Prevenção de Acidentes da nstech

Frotas em movimento: A nstech fez um levantamento de dados sobre acidentes no TRC. Compartilha com a gente os principais aprendizados?

Willian Oliveira: As estatísticas impressionam. O Brasil, hoje, é o terceiro país com o maior número de acidentes no TRC. Só que, se a gente projeta isso de acordo com a população, o Brasil sobe para primeiro lugar, ultrapassando China e Índia. Quando a gente olha acidentes com mortes, vemos que 47% das mortes nas estradas têm envolvimento com caminhão – eles são menos frequentes, mas um acidente com caminhão acaba sendo mais grave. Em média, a gente perde, por ano, 2.500 pessoas em acidentes que envolvem caminhão. Isso equivale a 28 aviões comerciais lotados, mas, infelizmente, isso não tem o mesmo destaque e a mesma comoção de quando cai um avião. Por isso, uma de nossas missões é dar luz a esse tema e aplicar tecnologia para que o TRC tenha os mesmos índices e a mesma mentalidade de segurança da aviação. Nas análises das gerenciadoras de risco que trabalham com a gente, 72% dos sinistros, entre roubo, furto e acidentes, foram de acidente. Desde o início dos anos 1990, houve um esforço muito grande de toda a cadeia logística para combater roubo e furto. Quem nunca viu um caminhão passando na estrada com três carros de escolta armada? Mas o acidente sempre foi tratado como questão de sorte, como algo que “não vai acontecer comigo”. Só que não é.

Frotas em movimento: E como a tecnologia pode ser usada na prevenção dos acidentes?WO: De inúmeras maneiras. Hoje, nós temos parcerias com fabricantes de hardware promovendo a instalação de telemetria. Esse é um equipamento que nasceu na Fórmula 1 – Ayrton Senna era um grande entusiasta – para o piloto ver que “naquela curva, eu entrei em tal marcha, e poderia ter ganhado tempo se tivesse entrado com outra” e hoje é aplicada para avaliar como o motorista está dirigindo aquele caminhão. Na nossa plataforma, a gente consegue fazer toda a gestão desses dados, por exemplo, mostrando o excesso de velocidade com base no limite da via e até em customizações por setor – para determinado tipo de carga, se o limite é 80 km/h, ele tem que andar a 70 km/h. Também usamos câmeras com inteligência artificial e sistema ADAS [Advanced Driver Assistance Systems, ou Sistema Avançado de Assistência ao Condutor], com monitoramento do motorista em tempo real. Com isso, sabemos como ele está dirigindo, velocidade, curvas, excesso de freadas bruscas, tudo o que o caminhão está gerando de dados, além da condição do motorista, desde uma fadiga, uma distração, até a utilização de celular. 

Frotas em movimento: E quão relevantes são esses fatores para um acidente?

WO: Um dado do Detran mostra que 90% dos acidentes são causados por falha humana. A infraestrutura conta muito, mas o que a gente percebe é que o motorista profissional, com o uso da tecnologia, consegue evitar o acidente. Manutenção também não é mais uma questão crítica, porque um caminhão quebrado na estrada é um prejuízo enorme para o transportador, então ele já usa até a telemetria para fazer o que a gente chama de oficina conectada, prevendo quebras e traçando um plano forte de manutenção. Então, de fato, é preciso cuidar da falha humana. Nós fizemos uma análise de mais de 500 mil horas de monitoramento e conseguimos identificar comportamentos ao volante que podem aumentar consideravelmente as chances de um acidente. O primeiro é mão fora do volante. Depois, outros que a gente acompanha: objetos soltos na cabine, distração, celular, ingestão de água, postura incorreta, carona não permitida e o uso do cinto de segurança (que parecia algo superado, mas infelizmente não é). Interação com objetos aparece como algo novo, de que o mercado fala muito pouco, mas identificamos aqui, na prática. Postura incorreta parece algo simples, mas sinaliza distração e fadiga. Algo interessante que identificamos é que boa parte da fadiga ocorre das 13h30 às 15h, o pós-almoço. Com a tecnologia, a gente estimula uma atenção maior do motorista na boleia. O sistema conversa com o motorista de forma autônoma e com a IA. A ideia é que a tecnologia vem para auxiliar o motorista que, no final do dia, é um trabalhador que quer levar o sustento para casa e chegar vivo e saudável para estar com a família.

Giro rápido

"Nós trabalhamos com o dadode que a cada 3 mil ocorrências(fadiga, distração, excesso develocidade etc.) resultam em umamorte no trânsito. Reduzindo asocorrências, vamos chegar a zeromorte nas estradas, que é nossoobjetivo.”

Frotas em movimento: Quem já está usando essas tecnologias?Ainda é algo acessível só para grandes frotistas?

WO: Quem está puxando o mercado são as grandes. Ninguém quer mais os números de que falamos no começo da conversa. Além da questão de exposição de marca – ninguém gosta de ter um caminhão tombado fotografado e circulando nas redes sociais. Também pesa o tipo de carga. Uma transportadora de produto químico ou combustível tem que lidar com um prejuízo imensurável, se o caminhão tomba perto de um manancial, então eles puxam a curva. Mas temos vários clientes de pequeno e médio portes e embarcadores menores nos procurando. Mesmo com frotas mais antigas. Os veículos novos vêm com tecnologia embarcada, mas já existe muita tecnologia after market que torna esse caminhão de 15, 20 anos tão tecnológico quanto um novo.

Frotas em movimento: Isso tudo envolve também uma mudança importante de cultura? Qual o papel do frotista na prevenção?

WO: Fundamental. Ele é a pessoa-chave. Primeiro, na busca dessas tecnologias. Segundo, na implementação da cultura e da utilização. É lógico que a tecnologia ajuda, mas é preciso disseminar o conhecimento dentro da empresa, fazer o acompanhamento, o treinamento do motorista, saber os principais indicadores de risco. É preciso ter como filosofia da empresa a cultura do acidente zero, não só com campanhas institucionais. Para além disso, todo o ecossistema precisa respirar essa mentalidade: o transportador, o embarcador, a seguradora. E ter dados, todos os indicadores para monitorar e promover a melhoria. O motorista tem a principal responsabilidade, mas outras pessoas também podem promover e ser responsáveis por essa mudança.

Para ler, assistir e consultar:

  • O Instituto Paulista do Transporte de Cargas (IPTC) lançou um e-book sobre acidente de trânsito no transporte de cargas. Acesse aqui.
  • E a CNT lançou a nova edição do seu guia com recomendações para motoristas sobre segurança no trânsito, com os dados mais recentes dos trechos rodoviários mais perigosos, principais tipos e causas de acidentes. Saiba mais sobre o Viagem Segura – Guia CNT de Segurança nas Rodovias 2024.
  • O canal da nstech no YouTube tem uma porção de bate-papos e casos de sucesso na prevenção de acidentes, como este aqui, da ArcelorMittal, e o webinar que realizaram sobre o tema. Vale dar uma navegada.

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