O que as Empresas Podem Fazer para Lidar com a Baixa Produtividade Brasileira?

O que as Empresas Podem Fazer para Lidar com a Baixa Produtividade Brasileira?

A nova matriz econômica foi implementada oficialmente em 19/12/2012, pelo então Ministro da Fazenda Guido Mantega, em uma coluna de sua autoria no Jornal Valor Econômico. Ao final desse texto o ex-Ministro afirmou: “A recuperação de taxas mais vigorosas de crescimento do PIB já está em curso.... Mas o mais importante é que estão fixadas as bases para que o Brasil tenha taxas elevadas de crescimento por muitos anos, melhorando o emprego, a renda e diminuindo as desigualdades que subsistem em nosso país.  A economia brasileira vive, hoje, as consequências desastrosas dessa política equivocada e desfazer todo esse estrago é prioridade do novo governo. 

Para reverter essa situação, a nova e bem-conceituada equipe econômica está se voltando para o velho e bom tripé econômico. O tripé econômico de metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário, estabelecido no segundo mandato FHC, foi responsável pela estabilização da economia brasileira e serviu de base para o crescimento vivenciado no período 2000-2012. Sem dúvidas, essa política estabilizará a economia novamente. Mas, essa estabilização ocorrerá em um patamar ruim. Por isso, é preciso aprofundar a discussão econômica para além do tripé e dar foco na importância da produtividade do trabalhador brasileiro.

Produtividade significa a quantidade de produto que se obtém com uma unidade de fator de produção. Essa é uma medida importantíssima, pois determina o crescimento do produto de um país no longo prazo. Um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) de 2015 mostrou que a produtividade brasileira foi a que menos cresceu entre 2002-2012, quando comparado a 11 países desenvolvidos. Isso significa que o crescimento daquele período se deu pelo emprego de mais fatores e não por uma utilização mais eficiente deles. 

Considerando o trabalho como fator de produção, temos a produtividade do trabalho que representa uma medida de eficiência de quanto cada trabalhador contribui para o PIB de seu país. A realidade do trabalhador brasileiro é que este trabalha muito e produz pouco, ou seja, emprega muitas horas em atividades que não adicionam ao produto final. De acordo com uma reportagem da Folha de S. Paulo em 2015, “são necessários quatro trabalhadores brasileiros para atingir a mesma produtividade de um norte-americano”. Ainda de acordo com este jornal, esse baixo nível de produtividade está próximo daquele registrado pelo Brasil em 1950.

Quais os motivos para a baixa produtividade brasileira?

Há vários motivos que encarecem a produção, levam ao adiamento ou cancelamento de investimentos e contribuem diretamente para a baixa produtividade brasileira. Segue abaixo uma lista que, certamente, pode ser expandida:

  1. Baixo nível educacional do povo brasileiro;
  2. Falta de qualificação da mão-de-obra na economia;
  3. Gargalos na infraestrutura do país;
  4. Baixo nível de investimentos em inovação e tecnologia no país;
  5. Juros elevados;
  6. Carga tributária estratosférica;
  7. Riscos cambiais;
  8. Inflação elevada;
  9. Custos trabalhistas altos;
  10. Menor disponibilidade de máquinas e equipamentos;
  11. Burocracia é má regulação;
  12. Barreiras ao comércio exterior;
  13. Escassez de mão-de-obra especializada;
  14. Intervenções discricionárias do governo em mercados e preços;
  15. Outros, infelizmente.

Ao olhar a lista acima, pode-se pensar que há muito pouco que as empresas podem fazer para melhorar a produtividade, já que muitos itens são de responsabilidade do governo. Afinal, o que uma empresa pode fazer para, por exemplo, diminuir o tempo de embarcação de contêineres nos portos? Ou, o que fazer para abrir a economia e facilitar o acesso a novas tecnologias e aumentar a participação de estrangeiros no mercado de trabalho local? Ou, ainda, o que fazer para obter licenças (ambientais, por exemplo) mais rapidamente?

Quais ações podem ser tomadas pelas empresas para sobreviver nesse contexto?

As empresas precisam se organizar e pressionar o governo para que muitos dos itens listados acima possam avançar e ser resolvidos. Contudo, as empresas não podem esperar por soluções vindas do governo brasileiro (afinal, fala-se em reforma tributária, trabalhista, fiscal e etc., há décadas neste país!). Dessa forma, seguem abaixo algumas ações que as empresas podem implantar para melhorar a produtividade de sua mão-de-obra:

  1. Investir no treinamento de seus trabalhadores;
  2. Investir em inovações tecnológicas;
  3. Repensar seus processos produtivos – buscar formas mais baratas, mais rápidas e melhores de fazer a mesma coisa;
  4. Priorizar o planejamento – explorar melhores formas de conduzir atividades antes de sucumbir ao ímpeto inicial de “fazer” uma atividade;
  5. Implementar uma cultura de melhoria contínua de processos em toda organização;
  6. Desenvolver métricas formais de avaliação da eficiência e eficácia de processos, iniciativas, projetos e investimentos;
  7. Identificar os gargalos das operações e mensurar seus impactos nos negócios;
  8. Implementar ferramentas que auxiliem a gestão em tempo real;
  9. Estimular a cultura da meritocracia;
  10. Cultivar a comunicação aberta e uma gestão de conhecimento eficaz.

A retomada da economia brasileira começará com a ocupação da capacidade ociosa. Vai demorar um pouco até que esse efeito chegue ao mercado de trabalho, pois a economia está longe de seu PIB potencial. Contudo, ao se aproximar dessa média, a economia voltará a sentir os problemas da baixa produtividade do trabalhador brasileiro. Há, portanto, um período de oportunidade que as empresas podem tomar ações no intuito de aproveitar seus trabalhadores de forma mais eficiente. Mesmo que de forma devagar, a conjuntura econômica vai melhorar devido ao retorno do tripé econômico. Porém, esse é o máximo de ajuda que as empresas devem esperar do governo brasileiro. Até que a discussão de política econômica se aprofunde e passe a discutir medidas efetivas de combate à baixa produtividade no país, as empresas precisarão encarar esse embate, infelizmente, sozinhas. 


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Excelente Reflexão ! Parabéns !

Rafael Luz

Senior Project Manager (complex projects) at Veolia Water Technologies MEA - Oil & Gas Systems

8 a

Bento, Parabens pelo texto.

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