O que eu aprendi com 7 artistas contemporâneos brasileiros
Além de uma mudança brusca de carreira, ter pulado de ponta no mercado de arte para fazer a Artboom decolar me trouxe aprendizados inesperados. Eu já sabia do poder transformador da arte, mas nunca imaginei que o simples fato de observar uma obra atentamente ou de conversar com os artistas que admiro pudesse me fazer entender coisas tão distintas e aparentemente desconexas como o papel do trabalho na minha vida ou que o meio importa tanto quanto o fim.
O melhor formato é a verdade
A arte de Ariel Spadari ganha sentido quando você conhece os contextos que sustentam o artista. Os restos do que foi um peixe boiando em resina ou a vértebra de uma baleia remendada com chumbo são a porta de entrada para histórias que fazem sua obra verdadeira: a infância cercado de plantas, a faculdade de biologia e a vida de professor. Sem verdade, temos apenas a maquiagem. E ela não diz quem de fato somos.
Os meios também importam
Iansã Negrão subverte a lógica de que os fins justificam tudo uma vez que o público só terá acesso ao resultado. Ela empresta notoriedade a elementos que sempre foram coadjuvantes de um grand finale. O papel ordinário, o traço do carvão e o rascunho por pintar são a obra de arte. Eu, que só via sentido em projetos finalizados (e aprovados), passei a viver a beleza do processo de fazê-los. A obra de Iansã Negrão me mostrou que quando os meios ganham notoriedade, o fim nunca chega.
Você é o que viveu
As aquarelas de André Calazans são a antítese da vida pregressa do artista, que iniciou sua carreira atuando como diretor de arte na efusiva indústria criativa da publicidade. Com preto, branco e cinza, Calazans compartilha a memória agitada das campanhas publicitárias, mas também a contemplação infantil diante dos retratos monocromáticos do pai, fotógrafo amador. Com agulha e linha, parece costurar o que viveu, formando cadeias de sentido.
A originalidade vale o dobro
Bárbara Scarambone faz mais do que colagens: comete minúcias com as pontas da tesoura e dos dedos, imprimindo um novo olhar no que até então era gasto pelo tempo. O ato contínuo de visitar sebos e livrarias esquecidos liberta imagens da prisão do passado para que vivam outros presentes. As obras de Bárbara me avisam que o digital não matou o analógico, mas fez dele algo original. E o original vale mais.
Faça você mesmo (inclusive arte)
Flávio Grão foi moldado no movimento punk. Dos zines às telas de guache e costura sobre papel algodão, suas obras refletem rebeldia sem flertar com nenhum clichê. Independente e alheio às regras do mercado de arte tradicional, Grão pinta, borda, abre o ateliê para visitação, divulga, vende, embala e entrega ele mesmo as peças que vendeu, aprendendo a cada ciclo. Os aprendizados tornam seu ímpeto criativo mais forte, o que o permite experimentar mais.
Transforme o ordinário em algo incrível
Mesmo com o advento do Instagram e sua enxurrada de registros fotográficos, o olhar de Jorge Sato prevalece como um dos meus preferidos. Em alguns de seus projetos, novas paisagens são formadas a partir da fusão de instantes que ele extrai do seu dia a dia, das suas viagens ou ideias. É instigante ver o edifício do MASP flutuar disfarçado de pintura ou notar que Tóquio se parece com São Paulo. No trabalho de Sato, o ordinário ganha um apelo extra. E sem Photoshop.
Desconstrução enquanto verbo
O trabalho de Sonia Gomes é um verbo que nos oferece o luxo de reimaginar as coisas como estão e propor a elas um novo papel. A partir de objetos que perderam o sentido, a artista expressa nova utilidade, abrindo novas oportunidades de interpretação. Com ela, entendi que desconstruir é obrigatório tanto para quem quer dialogar quanto para quem quer negociar com a contemporaneidade. Dá trabalho, claro. Não à toa tanta gente defende o retrocesso como moda. Mas vale muito.
Além de co-fundador, Janu Schwab é líder de estratégia de marca e produtos da Artboom.
Analista de Sucesso do Cliente Pleno | Customer Success Analyst | Atendimento ao Cliente
4 aLindo texto, Janu. Trabalhar com o coração faz toda a diferença.
Phd's student in Design, Interface and Cognitive Interactions. Master in Design Interaction and UX, Digital Communication Specialist. Brand and Business Designer
6 aArtistas maravilhosos e aprendizados transformadores! clap clap clap