O que o isolamento social fez comigo?

O que o isolamento social fez comigo?

Senti a necessidade real de escrever sobre algo que me remoeu por dentro por muito tempo: porque eu me levanto para ir trabalhar todos os dias, e se o motivo deu fazer isso, tem algum real valor para mim e para quem eu amo!

Bem, antes de qualquer coisa, acredito que você ainda não me conheça, então, eu me apresento: Sou Magno, sou pai do Theo e da Isa, sou professor por formação, pai e educador por paixão! Isso mesmo, eu amo ser pai e por consequência - ou não - amo educar e ser educado por eles.

Trabalhei por 12 anos numa grande instituição cultural do terceiro setor. Entrei lá com 22 anos e fiz um pouco de tudo, estudei muito. Neste período de 12 anos, concluí 2 faculdades e 3 especializações e vários cursos livres, fora ou que aprendi 'por conta'.

Sempre fui muito curioso, sempre gostei de aprender coisas novas, é natural para mim.

Mas, em 2020, em plena pandemia do Coronavírus, algo aconteceu!

Comecei a trabalhar em home office.

Meses antes, eu passei por mudança de área e de equipe que me pareceram muito interessantes à princípio. Novos ares, novos 'desafios' - vou manter aqui o clichê!

Depois de alguns meses trabalhando de casa, horas e horas de reuniões infindáveis e muitas desnecessárias - um e-mail seria mais eficiente -, comecei a me sentir estranho. A palavra é essa mesma: 'ESTRANHO'.

'Estranho' porque, no fundo, eu não sabia exatamente o que eu estava sentindo.

Para você entender melhor: Eu sempre me vi como uma pessoa e profissional muito coerente, crítico, sensato, equilibrado, que gostava de entregar tudo no prazo sem erros, com eficiência e precisão. Eu me via assim, e acho - somente acho - que muitas pessoas também me viam assim.

Quando esse tal sentimento estranho bateu à porta da minha consciência, foi amedrontador, um tapa de realidade nos meus ideais.

Eu acreditava que o meu trabalho realmente ajudava as pessoas, que de fato, tinha um impacto relevante, e que meus conhecimentos estavam sendo bem aproveitados e reconhecidos.

Eu acreditava que o meu 'emprego' era um trabalho que me fazia bem! e foi aí, que o isolamento social na pandemia me fez enxergar por outras perspectivas.

Depois de semanas de angústias, choros e tristeza, me permiti parar por alguns dias e refletir sobre o que eu estava fazendo com o meu tempo, porque e para quem?

Eu sabia que não era mais aquela rotina que eu quero para mim, e não era o que eu desejava que meus filhos presenciassem e achassem normal. Não era o exemplo que eu quero deixar para eles!

Em Junho de 2020, depois de muitos sentimentos 'estranhos', que nada mais eram que sentimentos desconhecidos por mim até aquele momento: ansiedade, nervosismo, angústia, decepção, tédio, depressão - e alguns outros mais -, me afastei do trabalho por 1 mês.

Foi o tempo que eu precisava para assentar todos os sentimentos, emoções e ideias que borbulhavam na minha mente.

Não foi fácil. Pensar que eu tinha responsabilidades financeiras, que qualquer atitude equivocada poderiam levar a consequências ruins para as pessoas que eu amava. Isso me corroía por dentro.

Por outro lado, eu tinha consciência que a minha saúde física e mental também dependiam de uma decisão.

Depois de 12 anos de certa estabilidade profissional, e em plena pandemia - com milhões de desempregados no país - tomei a decisão de pedir demissão.

Uma decisão difícil, mas necessária. Não só necessária, mas libertadora, e que depois de algumas semanas se transformou em motivadora!

Durante essa transição de momento de vida, fiquei noites sem dormir de preocupação e a ansiedade, vez ou outra, ainda batia à porta. Eu percebia quando isso acontecia, sempre que conseguia ouvir meu coração batendo, mais do que o som da voz de quem comigo falava. Não é nada agradável!

Uma pessoa especial e que me ajudou muito nesta fase, foi minha esposa. Ela foi a primeira e única pessoa no mundo que me viu 'chorar como um bebê' - desculpem o trocadilho.

Também, é a única pessoa que sabe coisas de mim - sobre o que eu sou e não o que eu fiz -, e que eu nunca contei para ninguém.

Ela me deu apoio, compreendeu minhas angústias e soube me dar a segurança que eu precisava para tomar uma decisão que eu acreditava ser a mais correta naquele momento.

Enquanto eu duvidava da minha capacidade e do meu potencial, ela teve a coragem de assumir o risco por nós.

Em Agosto de 2020 eu já estava 'desempregado'. Este foi o primeiro adjetivo que me veio à mente quando deram a baixa na carteira de trabalho. Mas eu não me via assim, não era verdade, não foi por isso que pedi demissão!

Depois de alguns dias 'desempregado' resolvi arriscar: comecei a enviar currículos para empresas que eu 'acreditava' estar alinhadas com meus valores, e que ao mesmo tempo, me trariam novos 'desafios' - esta aí o clichê aparecendo de novo!

Após 3 semanas de muitas entrevistas eu já estava empregado novamente, fiquei feliz e aliviado.

Era uma empresa da área da saúde - pelo menos assim me foi apresentada.

Passaram-se 4 semanas, e aquele sentimento 'estranho' de poucos meses atrás - que já não era tão estranho assim -, me fez perder o sono novamente.

Eu não podia crer que tudo estava acontecendo novamente. Porque?

Eu havia ficado sem emprego por poucas semanas apenas, conseguido um emprego numa empresa consolidada, com um bom salário e benefícios. Então, porque eu me sentia perdido?

Eu sentia que estava perdendo meu tempo, olhando aquele mundaréu de planilhas, dashboards, indicadores, KPIs e construindo gráficos, pra no final do dia - depois de 10 horas de trabalho de frente pro computador -, ouvir do gerente que eu precisava refazer porque alguém esqueceu de atualizar o banco de dados e as informações estavam equivocadas.

Eu não questionei o preciosismo sobre a qualidade dos dados, sempre dei valor aos bons dados.

Eu só 'ME' questionei:

O que estou fazendo aqui? é isso que quero fazer todos os dias? é dessa forma que quero usar o meu tempo? o que produzo aqui tem qual impacto para as pessoas e para o mundo? A minha entrega é legítima e autêntica com meus valores e ideias?

Talvez eu tivesse que ter me perguntado isso meses antes... mais vezes...com mais intensidade! mas não foi o que fiz. Meu medo de ficar desempregado e ser visto como um incompetente pela sociedade, me fez correr atrás de algo que eu não tinha certeza se era o que eu queria.

Inicialmente pensei: perdi o meu tempo, sou um fracasso, não sei nem o que eu quero! Isso pra mim também foi muito estranho, pois em 34 anos de vida, eu sempre soube o que eu queria - pelo menos era o que eu achava.

Minha esposa percebeu algo em mim. Certo dia, enquanto estava trabalhando ela me olhou e me disse:

-Você não está legal, não é?

Não tinha como fingir, a decepção e o desânimo estavam destampados no meu rosto.

Falei pra ela que não dava pra continuar. Aquela rotina não estava me fazendo mal, mas também estava longe de me fazer o bem. E isso já era o suficiente para mim.

Pra ficar mais claro:

Pedi as contas em Julho, ficando desempregado por um mês.

Em agosto já estava empregado novamente, ganhando mais do que antes.

Em Setembro pedi demissão novamente, antes mesmo de concluir o período de experiência.

Só que agora foi diferente: Não recomecei a procurar emprego, me dei um tempo para refletir sobre o que eu realmente buscava e queria para mim, profissionalmente.

Foi neste período de autoconhecimento que percebi o que estava me incomodando: Essa busca sem propósito por ser um 'profissional' exemplar, reconhecido pela minha produtividade, competência e conhecimentos, mas que não eram considerados e muito menos eram exigidos.

Eu doava uma significativa parte de mim, do meu tempo, dos aprendizados... parte da minha história, por algumas moedas no banco no final de cada mês.

A busca por ser reconhecido como o 'profissional', para mim já não fazia mais sentido. Eu sempre fui um Amador, mas não queria que as pessoas ao meu redor vissem esse meu lado!

Prefiro me dedicar e trabalhar por horas a fio, se for necessário, naquilo em que acredito, que me entusiasma. Acordar cedo e trabalhar com aquilo em que aprecia e não por que é obrigado é possível, ainda que não seja o seu ideal - existe ideal?

Pode parecer uma história de paixão, por busca de reconhecimento e propósito, e em parte até o é. Mas, está mais para uma história sobre autoconhecimento e evolução pessoal.

Propósito eu tinha, só não era consciente.


A rotina nos atropela e nos perdemos naquilo que de tão superficial e corriqueiro parece ser natural.


Fazer algo que não te faz um ser humano melhor, trabalhar com aquilo que não te deixa dormir à noite ou que você não consegue dizer, ao menos, o porque continua ali, não deveria ser normal. Eu achava que sim, afinal, era o que pagava minhas contas e trazia mais conforto para minha família.

Alguns filósofos dizem que os valores, ao contrário das crenças, não mudam. Eu posso afirmar, que pelo comigo, isso não é verdade.

Eu sempre valorizei a família, a presença e a convivência com meus filhos, este é um valor que eu escolho e decido categoricamente nunca mudar!

Viver uma vida onde eu acordo com bons pensamentos, ideias novas para aplicar e compartilhar, que eu possa trabalhar com aquilo que me faz uma pessoa melhor, ainda poder ajudar outras pessoas com meus conhecimentos, é um valor que eu acreditava ser utópico, coisa de gente que encontra desculpa pra não buscar um 'emprego'.

Eu estava errado! Eu ouvia pessoas e achava esquisito elas dizerem que não se enxergavam no mundo corporativo, com metas para bater, relatórios para entregar, reuniões infindáveis. Para mim, eram meras desculpas.

Eu estava cego e surdo, pelo comodismo, pela rotina e pelo medo da insegurança.


E hoje?

Dia 12 de Maio de 2021, após 8 meses do meu libertador segundo pedido de demissão?

Estou aqui, escrevendo este artigo, compartilhando minha história!

Meu sonho a longo prazo é fundar uma ONG com foco em Educação Criativa, para ajudar pais e famílias inteiras a compreenderem que só educar seus filhos, não é mais suficiente. É preciso educá-los de forma criativa e ajudá-los na construção do seu conhecimento e comportamento, para que eles explorem suas capacidades e inteligências com confiança criativa e não tenham medo de experimentar o novo e arriscar seguir caminhos ainda desconhecidos ou negligenciados por outros.

Enquanto isso não acontece, estou seguindo com outros projetos, que inicialmente eram para ser paralelos, mas tomaram outras proporções.


O que aconteceu nos 2 últimos meses?

Lancei meu primeiro ebook sobre 'Educação Criativa Familiar', que já está disponível na Amazon e Hotmart, e já estou escrevendo o segundo ebook, e também estou com um projeto para um livro infantil.

Ainda,

Há um mês lancei meu canal no Youtube onde abordo questões sobre paternidade e educação. Tive que aprender a gravar vídeo, escrever roteiro e editar, coisa que nunca havia imaginado antes.

Me lancei nas redes sociais e agora produzo conteúdos sobre um universo que me reconheço como verdadeiro amador: paternidade, educação e criatividade!

São temas que me brilham os olhos, estudo, trabalho, produzo por horas, dias, e não me canso, não me entedia e não me deixa ansioso. Pelo contrário, só aprendo e me entusiasmo mais, dia após dia.

O planos a médio prazo são muitos: criar um curso online sobre educação familiar, criar grupos de mentoria e abrir uma consultoria.

Ideias não faltam. Vontade, determinação e motivação também não!

Como diria Mario Sérgio Cortella: "A sorte segue a coragem".


Muito obrigado por ler este artigo.

Se quiser conhecer um pouco mais do meus 'projetos amadores', te convido a visitar meu site e redes sociais:

www.magnosan.com.br

Instagram: @magnosan

Youtube: MagnoSan - Educação Criativa

Um Magno Abraço!!!












Erico Verissimo

Assessor - Assessoria de Proteção de Dados - Sesc SP | Mestre em Educação: Currículo - PUC-SP | MBA em Business Intelligence - FIAP | LGPD | AP | Comissão de Privacidade e Proteção de Dados - OAB-SP

3 a

Ótimo texto, camarada. Inspirador e corajoso. Claro, não é pra qualquer um se lançar ao vazio a partir de um desconforto, ainda que ele cresça até se transformar em surto. Bom, parabéns: que você se encontre no que faz agora e que cada novo desconforto sirva pra uma nova reinvenção...

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