O que as mudanças revelam?

O que as mudanças revelam?

Ao longo de quase sete anos trabalhando na mesma empresa, vivenciei uma quantidade impressionante de trocas de liderança. Um número que parece sólido mas que guarda uma instabilidade: nos primeiros três anos, mudei de gestor mais de 15 vezes. Confesso, no começo eu contava. Talvez porque, naquela época, precisava de uma justificativa para o desconforto que sentia. Cada troca parecia uma mudança forçada, um terremoto que sacudia minha rotina e desafiava minha zona de conforto. Eu resistia. E, nessa resistência, mais sofria do que aprendia.

Depois disso, desisti de contar. 

Mas a vida tem um jeito peculiar de ensinar lições. Aos poucos, comecei a enxergar o que antes ignorava. Cada líder que passou pelo meu caminho trouxe uma lição importante, mesmo sem perceber. Aprendi como ser — inspirando, mesmo em cenários desafiadores. Descobri como modelar — adotando comportamentos positivos sem perder minha autenticidade. E, o mais significativo, entendi como não ser — evitando posturas e valores que não condizem com quem sou. Essa mudança de mentalidade foi um marco no meu desenvolvimento pessoal e profissional.

Reconheço que, assim como qualquer ser humano, sou imperfeita. Estamos todos em constante transformação, mesmo que muitas vezes resistamos ou não enxerguemos isso. É impossível ser exatamente a mesma pessoa dia após dia. Esse aprendizado não veio sem dor. Durante muito tempo, lutar contra mudanças consumiu minha energia, abalou minha saúde mental e me fez questionar minha capacidade. Mudanças cansam. Elas são desconfortáveis, desafiadoras e, muitas vezes, parecem nos testar além do que achamos suportável.

Foi o autoconhecimento que me salvou.

Entendi quem eu sou, quais são os meus objetivos e, principalmente, diferenciei o que está sob meu controle do que não está. Essa perspectiva fez toda a diferença. Percebi que resistir ao inevitável só aumentava o peso que carregava e prolongava o “sofrimento”. E mais: que as mudanças, por mais difíceis que fossem, não eram minhas inimigas. Elas eram mestres disfarçados. Ao aceitar as mudanças e buscar aprender com elas, passei a encará-las de forma mais leve. Não quero romantizar essa jornada ou minimizar os desafios. Eles existem, e são reais. Porém, hoje, ao vivê-los, permito-me sentir minhas emoções, entender minhas reações e escolher como responderei a elas. Não controlo as circunstâncias, mas escolho como reagir a elas.

E essa escolha é libertadora.

Hoje, ao enfrentar mais uma troca de gestão - sem saber se é o vigésimo ou trigésimo gestor -, percebo como minha perspectiva mudou. Não conto mais. Não porque seja irrelevante, mas porque a quantidade deixou de importar. O que realmente importa é como decido me adaptar, aprender e crescer com cada nova experiência. 

Uma das maiores lições que aprendi é que hierarquia não define liderança. Títulos podem impor autoridade, mas não conquistam respeito. O verdadeiro líder não é aquele que ocupa o cargo mais alto, mas aquele que inspira confiança, age com integridade e lidera pelo exemplo.

E, muitas vezes, o poder revela as verdades que estavam escondidas. As máscaras caem. As aparências desmoronam. É por isso que digo: não finja ser quem você não é. Não molde sua essência para caber em espaços que não foram feitos para você. Ao invés disso, pergunte-se: o que eu quero construir? Que impacto desejo causar?

Nos momentos mais difíceis da minha carreira, encontrei forças nas pessoas ao meu redor. Construí uma equipe que é minha maior fonte de orgulho. Não somos perfeitas, mas juntas criamos um espaço de respeito, colaboração e crescimento. Mesmo diante do caos, mantemos resultados sólidos — média de 99,6% de assertividade em uma de nossas grandes entregas que é a Folha de Pagamento. E, mais importante, olhamos para os 0,4% que não atingimos, porque acreditamos que ninguém deve ser deixado de lado, porque liderança não é sobre resultados perfeitos; é sobre cuidar das pessoas que fazem os resultados acontecerem.

O que me trouxe até aqui não foi apenas a resistência. Foi a resiliência. Aprendi a aceitar as mudanças, a acolher minhas emoções e a transformar desafios em aprendizado.

E é isso que quero deixar como reflexão para você: o que as mudanças na sua vida estão tentando te ensinar?

É fácil resistir. É confortável culpar as circunstâncias. Mas o crescimento acontece quando nos permitimos olhar para o desconforto com curiosidade. Quando escolhemos aprender, mesmo nos cenários mais adversos.

Aceite as mudanças. Olhe para dentro. Descubra quem você é de verdade. E, acima de tudo, confie no processo. Acredite no seu potencial. Não se prenda a rótulos, títulos ou expectativas externas. Crie a sua definição de sucesso.

Hoje, tenho orgulho de quem me tornei. Não porque sou perfeita, mas porque continuo me esforçando para crescer. Orgulho por não ter desistido quando tudo parecia difícil demais. Por ter encontrado força na vulnerabilidade. Liderança, para mim, não é sobre cargos ou hierarquia. É sobre quem você decide ser, independentemente do título que carrega.

Então, se você está enfrentando mudanças — seja no trabalho, na vida ou em qualquer área —, convido você a parar de resistir, não subestime o poder das mudanças na sua vida. Escolha crescer. Escolha aprender. E lembre-se: é a forma como você reage às mudanças que define a sua jornada.

Paula Carvalho Albuquerque é Coordenadora RH Sênior no iFood, Mentora de Desenvolvimento Pessoal e Liderança, pós-graduada em Psicologia Organizacional, Gestão de Pessoas, Coaching, Carreira e Liderança pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-RS)

Beatriz Aquino Morandim

Tech Recruiter | Talent Acquisition | Recrutamento e Seleção | Analista de RH | HR Business Partner | Psicóloga

1 m

Seus textos sempre me acolhem e me fazem refletir

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