O que ninguém conta sobre intercâmbio

O que ninguém conta sobre intercâmbio

Por trás de belas fotos ao redor da Europa estão brasileiros que trabalham arduamente para honrar as contas, estudar(e também pagar as renovações) e realizar os sonhos (que são muitos). 

Gente guerreira que dá um dobrado, se vira nos 30, pra ter o saldo positivo na conta bancária. Gente otimista que tá lá contando moedinha, mas sempre com aquele sorrisão lindo no rosto.

Acho interessante, que no início via aquelas rodas de estudantes e ficava pensando o que será que estão conversando? Se era sobre profissão, porque afinal, cada um tem curso superior e experiência de sobra na área, mas não, geralmente o papo é sobre como limpar bem um espelho, uma casa, que tipo de produto usar. O que tira mancha melhor, enfim dicas de emprego, para fazer um bom currículo. 

E quando a gente consegue o primeiro emprego a felicidade é contagiante. Agora sim dá poder pagar as contas e ficar por mais tempo, mas trabalhar em “subemprego” também é desafiador. 

É comum ver nas mãos de quem trabalha como assistente de cozinha(kitchen porter), por exemplo, queimaduras e cortes.. porque eles lavam louça com água muito quente, pegam panelas bem pesadas fervendo... 

Já quem trabalha na faxina (cleaner) geralmente tem calos, muita dor nas costas. A gente brinca que a pessoa não tem mais coluna. 

Chega até a ser engraçado, tanta gente que estudou e agora esta aqui recomeçando como estudante again. 

E nesse aprendizado a gente “Mata um leão por dia” abraça o desconhecido, o emprego que vier. Se tiver medo, vai com medo mesmo, a necessidade fala mais alto nessas horas. 

Acho que um dos momentos que somos mais vulneráveis na vida. Tudo é novo e começa praticamente do zero: Amizades, idioma, trabalho, enfim… A maioria vem sem inglês nenhum.

E por falar em inglês, ele não vem na velocidade que a gente imagina ou gostaria, pelo contrário tem que ralar e muito. 

Uma das maiores novelas acho que são as casas, além de caras você geralmente passa por entrevista, sendo aprovado (a) - ufa problema resolvido -nada disso, aí que vai começar o Big Brother, mas nesse caso não tem premiação, a luta é pela sobrevivência. 

Limpeza é um caso sério aqui e o bicho pega. Tem brigas porque fulano é folgado, beltrano e maníaco por limpeza e por ai vai… O lixo que não foi trocado, banheiro ocupado e imundo, enfim.... cada casa tem suas próprias regras. 

E é interessante quando tem louça suja - ninguém lava e vai brotando e nunca é de ninguém. 

Ah, a geladeira - geralmente é bem pequena para o número de pessoas na casa. Quando você chega cansado e vai beber seu leite, sumiu! Não tá mais lá e não foi ninguém. Tem casa que todo mundo coloca o nome nos alimentos. Faz parte! Até que você banca o louco (a) e as coisas se resolvem por um tempo. 

E os barulhos, meu Deus... (essas casas velhas são terríveis), além disso é comum ouvir o ronco do flatmate que parece uma britadeira.. 

Tem também os loucos que falam sozinhos enquanto dormem e parecem poliglotas, você nunca sabe que idioma é aquele. 

Aí vem a saudade de casa que devasta o coração e as vezes você quer chorar sozinho, quietinho e não tem lugar pra isso porque o quarto é compartilhado com um monte de gente e as vezes a sala virou quarto também ou está repleta de pessoas. 

O tempo aqui passa numa velocidade impressionante, não parece 24 horas e sim bem menos porque tudo é intenso. 

Mas o que seria da vida se não tivesse essas adversidades, são muitas histórias pra contar, tudo bem que na hora da raiva, mas depois a gente morre de rir das coisas que acontecem nas casas. Cada um tem suas histórias, uma pior que outra, acredite!!! Aí você vai começar a agradecer que você não tem problema nenhum… 

E como tem gente mudando de casa quase todo mês… É comum ver o tempo todo nas ruas, malas pra lá e pra cá, seja viajando ou trocando de lar again. 

Mas a vida não é só espinhos, têm flores também. 

Você vai fazer amigos do mundo inteiro, abraçar, rir de felicidade, de tristeza também com tantas partidas e chegadas. 

Ah, tá cheio de cupido por aí escondido nessa Ilha Mágica, já vi muita gente descrente no amor que casou e está muito feliz! 

Assim é o intercâmbio. É quente e frio, não tem espaço para o morno. 

Bem vindo ao mundo!

Aqui a vida nunca mais será o mesmo. Agora o intercambista pertence ao mundo e nessa jornada vai aprender a ceder, a se respeitar, a viver em comunidade, ajudar, repartir e pedir ajuda. E vai viajar muito também. 

Acredite essa é, sem dúvida, uma das melhores experiências da VIDA!



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