O que quero na minha vida é compaixão...
"As pessoas que parecem monstros são apenas seres humanos cuja linguagem e comportamento às vezes nos impedem de perceber sua natureza humana." (Marshall Rosenberg)
Continuando o assunto que eu trouxe no último artigo, "Comunicação Alienante da Vida", para auxiliar-nos, Marshall estruturou o processo de comunicação não violenta em quatro componentes, são eles:
1. observação;
2. sentimento;
3. necessidades;
4. pedido.
“Não julgueis, para que não sejais julgados. ” (Mateus 7:1)
O primeiro componente da comunicação não violenta é a observação. A primeira informação importante a respeito deste componente é saber que se precisamos separar observação de avaliação.
Segundo Marshall, quando a observação está atrelada a avaliação, as pessoas tendem a receber nossa informação como uma crítica. Para expressar-se com honestidade por meio da observação, busque não fazer generalizações. Seja específico em seus comentários, por exemplo, diga “quando ele não me liga, sinto-me aborrecida”, em vez de “ele sempre me ignora” ou “não gosto quando você começa a me culpar pelos problemas com as crianças”, em vez de “você não sabe conversar”.
O segundo componente da comunicação não violenta é expressar como nos sentimos. Precisamos desenvolver um vocabulário de sentimentos, pois nosso repertório é bastante escasso.
Para expressarmos nossos sentimentos, precisamos passar pela vulnerabilidade, ou seja, revelar de forma clara o que estamos sentindo ainda que fiquemos expostos por isso.
Ao proferir a seguinte frase “sinto-me bem em relação a decisão que tomamos”, a palavra “bem” pode ser interpretada como diversos sentimentos, por exemplo, alegria, alívio, gratidão, felicidade, segurança etc.
Vamos para o terceiro componente, o reconhecimento das necessidades. Quando nos comunicamos por meio de nossas necessidades e sentimentos, a chance de sermos atendidos se torna maior. Devemos pensar em quais são as necessidades que queremos ver sendo atendidas e deixar claro para quem nos ouve.
Marshall lista algumas das necessidades básicas do ser humano, são elas:
· “Autonomia
· escolher seus próprios sonhos, objetivos e valores
· escolher seu próprio plano para realizar esses sonhos, objetivos e valores
· Celebração
· celebrar a criação da vida e os sonhos realizados
· elaborar as perdas: entes queridos, sonhos etc. (luto)
· Integridade
· autenticidade
· autovalorização
· criatividade
· significado
· Interdependência
· aceitação
· amor
· apoio
· apreciação
· calor humano
· compreensão
· comunhão
· confiança
· consideração
· contribuição para o enriquecimento da vida (exercitar o poder de cada um, doando aquilo que contribui para a vida)
· empatia
· encorajamento
· honestidade (a honestidade que nos fortalece, capacitando-nos a aprender com nossas limitações)
· proximidade
· respeito
· segurança emocional
· Lazer
· diversão
· riso
· Comunhão espiritual
· beleza
· harmonia
· inspiração
· ordem
· paz
· Necessidades físicas
· abrigo
· água
· alimento
· ar
· descanso
· expressão sexual
· movimento, exercício
· proteção contra formas de vida ameaçadoras: vírus, bactérias, insetos, predadores
· toque”
Realizar pedidos claros e específicos é o quarto componente da comunicação não violenta. O que gostaríamos de pedir aos outros? Pedidos claros e específicos aumentam a nossa chance de sermos atendidos. Utilize uma linguagem positiva ao fazer o pedido. Diga o que você quer e não o que você não quer.
A frase “me deixe em paz” não quer dizer muita coisa, o que seria “paz” para o emissor naquele momento da comunicação? Seria mais específico dizer “estou me sentindo com raiva, por conta do meu dia de trabalho. Preciso descansar um pouco. Você pode fazer silêncio por uma hora?”.
Antes de oferecermos empatia já saímos distribuindo conselhos, sem sermos solicitados. Para estabelecermos uma comunicação não violenta, precisamos estar atentos as observações, sentimentos, necessidades e pedidos que outro expressar, sem se apegar a quais palavras ele utilize. Permaneça em empatia, permitindo que o outro possa se abrir e expressar tudo o quanto tem a dizer.
Quando alguém precisa de empatia e a gente assume que a pessoa precisa de uma solução, acabamos por inibir que ela tenha total abertura para esvaziar seu coração.
Cada um é responsável pelos seus sentimentos, mas sabemos que o outro pode ser um gatilho para despertá-los. Portanto, se alguém falou algo que me fez sentir constrangimento é porque suas palavras foram um gatilho para um sentimento e uma necessidade que existe dentro de mim.
A comunicação não violenta, diferente de outras formas de comunicação, não é uma ferramenta de persuasão. Seu objetivo não é alcançar o que queremos e sim melhorar nossos relacionamentos.
Meu desejo é que você consiga compreender a importância de expressar-se com sinceridade, seguindo este modelo estruturado por Marshall Rosenberg, de forma natural, e estabeleça relacionamentos mais sólidos e verdadeiros.
Comunicação é tudo. Conforme Eva Jablonka, em seu livro Evolution in Four Dimensions, um dos atributos que diferem o ser humano dos demais seres vivos é a sua capacidade evolutiva de estabelecer diferentes formas de comunicação.
Por fim, um exemplo para te ajudar a colocar a comunicação não violenta em prática:
“Quando eu vejo os nossos livros bagunçados [observação], me sinto irritada [sentimento], porque eu preciso de organização para localizá-los de forma rápida quando estou escrevendo [necessidade]. Será que você pode organizá-los sempre que tirar da ordem [pedido]?
Muito bom seu artigo Helen Apolinário, claro e com exemplos que facilitam a compreensão. E fica o convite... Vamos fazer mais pedidos e menos exigências? 😘