O que raios é um DI? Percepções e críticas
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O que raios é um DI? Percepções e críticas

Geralmente, sou um “ghost” nas minhas redes sociais, mas, por aqui, acho que encontrei um ambiente seguro para que eu possa falar algumas abobrinhas sem que isso cause um grande prejuízo social, já que não tenho muitos amigos por aqui – nós, da geração Z, não costumamos ser muito sociáveis no LinkedIn. Afinal de contas, somos tratados como aliens por aqui.

O pessoal aqui é meio comedido e careta, então, preciso ser mais polido em terras linkedianas. Uma tarefa difícil para mim, confesso. Mas, se não pode contra eles, junte-se a eles, não é mesmo?

E foi assim que comecei a fazer conexões com algumas pessoas e conhecer um pouco melhor o lado profissional de alguns colegas. Alguns, inclusive, se vendem muito bem por aqui! Preciso aprender com eles. Por outro lado, vejo muitos DIs que não têm clareza sobre o seu próprio ofício.

Essa foi uma grande inquietação minha durante a graduação. No final do curso, ainda considerava as atribuições de um DI muito nebulosas – tanto é que dediquei praticamente metade do meu TCC a essa investigação. Onde vivem? O que comem? O que fazem?

Talvez seja pretensão minha querer esclarecer isso para você que está lendo esse textão, como se eu fosse uma grande autoridade nessa área. Então, deixo o alerta: daqui pra baixo, você tem todo o direito de discordar de mim – afinal de contas, eu sou um zé ninguém.

Pois bem. No Brasil, os termos “desenhista instrucional”, “designer instrucional”, “projetista instrucional”, “designer educacional” e “designer de aprendizagem” são a mesma coisa. Existem algumas pessoas desocupadas que discutem sobre isso, mas, sinceramente? Bullshit.

No meio acadêmico, não existe um consenso para o termo “design”, quanto mais para “design instrucional”. Partindo desse cenário, decidi buscar a descrição dada pelo Código Brasileiro de Ocupações (CBO) para os profissionais dessa área:

Implementam, avaliam, coordenam e planejam o desenvolvimento de projetos pedagógicos/instrucionais nas modalidades de ensino presencial e/ou a distância; participam da elaboração, implementação e coordenação de projetos de recuperação de aprendizagem, aplicando metodologias e técnicas para facilitar o processo de ensino e aprendizagem. Atuam em cursos acadêmicos e/ou corporativos em todos os níveis de ensino para atender as necessidades dos alunos, acompanhando e avaliando os processos educacionais. Viabilizam o trabalho coletivo, criando e organizando mecanismos de participação em programas e projetos educacionais, facilitando o processo comunicativo entre a comunidade escolar e as associações a ela vinculadas.

Quem é Severino perto de um DI, não é mesmo? Somos basicamente um faz-tudo dentro de um projeto. Haja hard e soft skills…

Mas, na vida real, um DI não faz tudo isso. Afinal, cada um de nós é apenas um indivíduo, e o dia só tem 24 horas. Entendo o porquê de encontrar tantos colegas com perfis tão diferentes e olhares tão diversos sobre a profissão. Cada um é exposto a nível micro dentro de um projeto, desempenhando funções de diferentes naturezas dentro desse vasto escopo profissional descrito pelo CBO (e, muitas vezes, além dele).

Considerando o universo linkediano, onde eu vasculho vagas de emprego uma vez ou outra para entender o que o mercado busca nesse tipo de profissional, temos o seguinte panorama (definido por mim – não considerem isso como uma verdade absoluta, ok?):

O DI é requisitado como um profissional incluso no processo de modelagem de conteúdos preestabelecidos pelas instituições proponentes dentro de um curso e/ou trilha de aprendizagem, assim como na gestão das interações e integrações dos processos de trabalho das equipes.

Nesse contexto, entendo que o DI pode ser lido como um designer de produtos (na modelagem de conteúdos) ou de serviços (na gestão de interações e processos). Muitas vezes, na produção de materiais didáticos, o ofício se assemelha ao de um designer editorial, mas considero que o DI ainda se encaixe melhor como um designer de produtos educacionais, numa visão mais generalista.

Ao analisar as vagas disponíveis por aí, a maioria delas pede formação em letras, pedagogia, comunicação ou produção editorial, com pós-graduação em design instrucional ou experiência profissional prévia, sem formação na área.

Xeretando o perfil dos meus colegas, encontro várias pessoas que vêm do universo educacional e estão atuando na área. Essas pessoas têm diversas visões de mundo, acredito eu, influenciadas por suas vivências acadêmicas e profissionais. No entanto, ao observar o meu feed, eu me incomodo muito com a apatia desses colegas pelo "design" e o apreço pelo "instrucional".

Talvez seja por conta do recorte ao qual fui exposto – e posso estar equivocado –, mas percebo que os colegas esquecem da parte projetual do negócio. Na minha concepção, não basta você ser o fodão em metodologias de ensino e aprendizagem ou o pica das galáxias em IAs gerativas. Design é sobre projetar, agregar valor e dar forma. Se não, qual seria a diferença entre um formador/autor empoderado tecnologicamente e um DI?

Acredito que ainda precisamos encontrar um ponto de equilíbrio entre o “design” e o “instrucional”. Afinal de contas, conceber serviços ou produtos sem pensar em design é o mesmo que ignorar aspectos importantíssimos que tanto se falam, como inovação, identidade, desejo de consumo, utilidade, satisfação etc.

Reforço aqui que não falo em colocar o "design" acima do "instrucional". Falo em pensarmos, como profissionais, em um combo muito bem equilibrado de habilidades e competências capazes de potencializar o nosso ofício, onde, com práticas de design bem aplicadas, aliadas às metodologias de ensino e aprendizagem adequadas e o uso de diferentes suportes tecnológicos, o DI consiga criar experiências de aprendizagem mais engajadoras, eficazes e personalizadas, atendendo às necessidades dos alunos e alcançando os objetivos educacionais desejados com maior precisão.

Mas acho que isso é papo para outro momento. Depois, posso trazer mais conteúdos que considero interessantes sobre o tema, além dos tão queridinhos (e manjados) frameworks ADDIE e 6Ds.

Para finalizar o textão de hoje, trago um mapa de atuação do DI (nessa imagem, DE) que gosto bastante:

Imagem original de SILVA, A. F. (p. 139, 2014)

Beijos de luz para você que ficou até aqui! Nos vemos (ou não) numa próxima. :)

Texto excelente! Eu adoro as “provocações” da geracao z. Vocês entregam na mesa o simples muito bem feito, descomplicam por meio do frescor das ideias e, de forma orgânica, fazem a engrenagem girar. Obrigada por fazer a diferença em nosso dia a dia de trabalho, Rafa! Sucesso.

Luanda Santana

Gente e Gestão |Treinamento & Desenvolvimento| Talent Management

6 m

Rafael, excelentes provocações. E, você tem muito a contribuir nesta rede. Gostaria de saber sua perspectiva considerando que este profissional passou a ter mais exposição e espaço a partir do grande boom do EAD, apenas do Design instrucional não trabalhar apenas neste ambiente.

Thais Cattucci Dantas

Sócio fundadora da DoubleT Consultoria

6 m

👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽🫶🏾🫶🏾🫶🏾🫶🏾

Thalyta Mabel

Designer Educacional | Assistente Social | Tutora | Professora Conteudista | Licenciatura em Pedagogia

6 m

Rafa, que texto maravilhoso o seu. Aguardo outras publicações por aqui. Ah, vc pode até não saber, mas o consideramos, eu a Neide Araujo, um fera!

Elis S.

Mestranda em Tecnologias Emergentes da Educação | Especialista em Design Instrucional e Tutoria em EaD

6 m

Um "zé ninguém" que muito DI avançado pode tomar como exemplo em didática textual e clareza quanto à profissão. E como assim você não escrevia por aqui? Rafael, posso andar com vc no recreio? Feliz por encontrar seu texto e ansiosa pelas próximas produções 🧡, já passou da hora da rede linkediana derrubar as 4 paredes do escritório caretão, bora escrever Geração Z!!!!

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