O que uma aula ruim e um passeio no zoológico têm em comum?
Emenda de feriado, sol, filhas sem aula. Dia perfeito para visitar o Zoológico de São Paulo. Na Alameda Principal, o cisne preto (Cygnus atratus) e o cisne de pescoço preto (Cygnus melanocorypha) nos deram as boas-vindas, mas minha filha queria ir direto para o elefante africano (Loxodonta africana). Depois, na Alameda Aves, ela se encantou com a arara azul (Anodorhynchus hyacinthinus) que ficava perto da arara azul de lear (Anodorhynchus leari), ao lado da ararajuba (Guaruba guarouba). Antes de chegarmos à Alameda Leão para ver o rei (Panthera leo) e o tigre branco (Pantera tigres tigris), resolvi escrever este artigo.
Curioso como sempre fui, fico lendo as placas explicativas dos animais, os nomes científicos, as regiões originárias, a alimentação etc. Entretanto, em menos de dois minutos e três animais, eu já tinha esquecido o que estava escrito na primeira placa. E assim sucessivamente da primeira à última placa, ou seja, vi e li um monte, mas não aprendi quase nada.
Naquela hora associei a visita ao zoológico a um conceito que aprendi e ensino a professores:
“There is no LEARNING BY MENTIONING”
Quer dizer, não é porque o professor leu alguma informação que estava no slide ou mencionou rapidamente algum dado, que podemos afirmar que os alunos aprenderam o que ele estava tentando ensinar.
Por exemplo, em uma aula sobre Gestão de Operações, ao invés de dar 10 conceitos de gestão ágil, é mais eficaz focar em apenas 2 conceitos-chave, elaborar o conteúdo de forma prática, mostrar exemplos concretos e consolidar o aprendizado. Para efeito de comparação, em uma palestra do tipo TED Talk, o palestrante tem 18 minutos para compartilhar uma (e apenas uma) ideia. E em um curso sobre Aprendizado Centrado no Participante que fiz na Harvard Business School em 2015, um professor do MBA disse que em uma aula de 80 minutos, se a turma aprender:
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“One or two big ideas I’m successful. That’s fine”
Ou seja, ele não define um monte de objetivos de aprendizagem, apenas 1 ou 2 por aula, e se aprofunda neles.
Simples e complexo ao mesmo tempo, pois o professor muitas vezes acredita que o público está aprendendo com a verborragia dele, o que é um engano, pois não existe aprendizado profundo pelo simples fato de algo ter sido mencionado.
Às vezes, a verborragia tem outro intuito: o orador quer aparecer, quer falar muito e falar difícil para se mostrar. Isso pode até funcionar uma vez ou outra, mas no longo prazo as pessoas vão se cansar dele. Quer um exemplo prático de que isso não gera nem aprendizado nem mesmo memorização básica? Sem olhar para o primeiro parágrafo, qual o nome científico do cisne de pescoço preto?
Um caso muito comum de LEARNING BY MENTIONING acontece quando um professor planeja mal o tempo. Com certeza você já assistiu aulas quando faltando poucos minutos para o final, o professor ainda tinha vários slides não apresentados e ele acelerou o passo, ficou lendo um monte de dados e informações, passou os slides rapidamente, correu para conseguir chegar ao “Fim da apresentação de slides. Clique para sair”. Entretanto, ele se cansou, você se cansou, e pior, você não aprendeu nada.
Diferente de uma aula, onde o foco é aprender, você vai ao zoológico para se distrair, relaxar. Você não vai ler as placas com o intuito de lembrar todas as informações, até porque não te serviriam para muita coisa no seu dia a dia. Passar os olhos nas placas faz parte da distração, mas o foco do programa são os animais diferentes, coloridos e que chamem a atenção das crianças (minha filha se divertiu com o hipopótamo dando pirueta na água).
Busque sempre bons docentes que lhe traga aprendizado novo e marcante. Fuja de professor “placa de zoológico” que parece um “guia turístico de city tour de cidades pequenas”, onde ele fala, fala, fala, mas você esquece o nome da igreja e o ano de construção no minuto que você volta ao ônibus.
Sócio fundador na i5 Capital
1 aFred F.
Consultor e professor em Gestão, Liderança e Melhoria de Resultados | Colab Results | Headhunter
1 aLiao Yu Chieh, CFP® excelente! Em uma oportunidade quase participei de seu curso, infelizmente não deu certo. Me fez lembrar de algo que sempre reflito: sobre a lista de presença ou certificado que “evidência o aprendizado”, quando na verdade é a mudança de comportamento que realmente tem valor. Grande abraço!
Gerente de Produto Sênior | Marketing | Comunicação | Marca | Inovação de Produto
1 aAdorei a analogia! Por isso que trabalhar com exercícios práticos ou até mesmo com cases em que os estudantes têm que descobrir a teoria por detrás antes da explicação podem ser ótimas soluções para melhorar a absorção e consolidação do aprendizado, não é mesmo? Abaixo à verborragia! ☺️
CTO na Boyce Data & Professor na Universidade Mackenzie
1 aUm grande exemplo e do qual fui parte ativo é a chamada UTI do nosso sistema educacional, o cursinho pré-vestibular. Temos que recuperar 12 anos em 8 meses e grande sacada é a motivação para o aluno treinar modelos de questões e sua interpretação com 3 minutos para cada questão. Isso não é aprendizado mas um aluno motivado consegue se sair bem. Qual o segredo? O professor está sempre mais motivado do que o aluno. Professores burocráticos são o grande o problema de todo esse processo, pelo menos essa foi a minha conclusão depois de 43 anos em sala de aula. Forte abraço Mestre.
Sócio-consultor e Professor de Finanças na Stracta Consultoria Governança e Estratégia Ltda
1 aMuito boa a analogia, prof Liao!