O Rato na Fazenda e o Afrouxamento do Isolamento Social
Obrigado a quem tem me seguido e interagido com os artigos e publicações que escrevi, vocês me deram forças para persistir aqui.
Nesta última semana, o prefeito daqui de Rio Grande permitiu que a população visitasse a praia para tomar um chimarrão e pegar um sol dentro de seus carros, aqui podemos trafegar com os veículos próximos a beira da praia, que é considerada uma atividade de lazer para os moradores nas épocas mais geladas do ano.
Neste final de semana a praia estava cheia. Muitas pessoas interagindo e despreocupadas com o contágio do vírus. Até aí nada de novo. Com a reabertura de mais atividades comerciais o número de casos aumentou, como também já era esperado.
Hoje (01/06), enquanto escrevo este fragmento, segundo as estatísticas oficiais 29.341 pessoas foram a óbito motivado pelo Covid-19.
Juntando os dois fatos, o povo na praia e o avanço do vírus, lembrei daquela fábula do rato na fazenda que ficou desesperado porque os fazendeiros haviam adquirido uma ratoeira e foi pedir ajuda para a galinha, o porco e a vaca(leia aqui).
A verdade é que enquanto boa parte das pessoas não vê a água batendo na bunda, o caos geral não é problema delas e todo esse trabalho de prevenção e a comoção com a dor do outro não fazem sentido. O país é grande, com mais de 200 milhões de habitantes e quase 30.000 mortes, a estatística gera um alívio que só a dor pessoal pode abalá-lo.
Ainda estamos em um processo de evolução para atingir níveis maiores de empatia a fim de sentirmos a perda de uma vida ao invés de um leve aumento no percentual de mortos. O efeito colateral da epidemia vem se destacando nas mais diversas manifestações populares alimentadas pelo estresse diário e por fatos que já eram de nosso conhecimento, mas que no contexto atual estão sendo explosivas. Para ilustrar isso, ontem abri os trending topics do Twitter e haviam:
Gaviões, Ku Klux Klan, Anonymous, Os 300 e George Floyd.
Se uma dessas já seria motivo de atenção, imagine as cinco juntas.
Não se trata de mais um vírus ou de algo pequeno, mas um momento que soma a Gripe Espanhola e a Grande Depressão em um único ano. Não é simples para se resolver apenas com estatística.
O percentual nos deixa tão frios e distantes que somente a impossibilidade de estar próximos daqueles que amamos acabe nos preenchendo novamente com sentimentos.