O retorno do Rouge: fruto de uma boa leitura de mercado e parcerias corretas

Lá em meados de 2002 quando o Rouge surgiu no reality show Popstars do SBT a música pop brasileira estava repleta de artistas em alta. Sandy & Júnior se arriscava em carreira internacional, Kelly Key tocava em todos os cantos com seu Baba Baby e Luka com seu Tô nem aí. Com exceção do SNZ, não havia grupo pop feminino de grande repercussão, então o surgimento do Rouge foi num momento bem oportuno.

Em 2006, com a dissolução do grupo, o espaço de um grupo feminino pop brasileiro ficou vazio. Rick Bonadio, produtor de hits do Rouge, bem que tentou, mas não conseguiu. As Girls, juntadas num reality show do canal pago Multishow, lançaram só um disco em 2013 e no ano seguinte foram demitidas da gravadora devido às baixas vendas. Em 2016 no X Factor Brasil da TV Bandeirantes foi formado o grupo Ravena, que com uma roupagem e uma imagem sensualizada lançou seu primeiro disco em 2017, mas sofre pra ter um público núcleo expressivo.

A primeira tentativa de retorno do Rouge foi em 2013 (como um quarteto), com lançamento de um single promocional. No entanto, problemas jurídicos com a marca Rouge impediram as meninas de concretizarem um projeto mais robusto.

Em Setembro de 2017 elas começaram uma sequência de parcerias que finalmente permitiu um retorno de fato. A primeira delas foi com Pablo Falcão, empresário e dono de uma das principais festas de música pop do Brasil: Chá da Alice. Foi marcado um show de comemoração de 15 anos do Rouge, desta vez com as 5 integrantes, no Rio de Janeiro: o Chá Rouge. Cerca de 5000 ingressos se esgotaram em 3 horas. Foi marcado um segundo show no Rio de Janeiro e um em São Paulo. O resultado de vendas foi similar nas duas ocasiões. O que era apenas um show comemorativo se transformou na turnê Chá Rouge, com shows em capitais do Brasil e com direito a bloco de carnaval próprio.

A segunda parceria certeira foi com o Spotify Brasil. Os fãs estavam sedentos pra ter as músicas da girlband na plataforma de streaming desde 2014, mas elas não apareciam por lá. O Spotify criou uma playlist chamada This Is: Rouge que inicialmente estava vazia, sem nenhuma música. A ideia era fazer os fãs seguirem a playlist no aguardo da liberação dos principais sucessos por lá. Em Novembro de 2017 finalmente a discografia inteira do grupo foi adicionada. Sem contar os banners no próprio aplicativo do Spotify chamando pro perfil do Rouge e as divulgações no Facebook e no Instagram. Ainda em Novembro de 2017 elas assinaram contrato com a Sony Music, gravadora que havia lançado seus discos anteriores e não perderia a oportunidade de aproveitar a popularidade em alta das meninas.

Domingo passado (04/02/2018) elas participaram pela primeira vez de um programa da TV Globo, o Domingão do Faustão. Ora, elas se originaram de um programa do SBT e nunca haviam participado de nenhum programa global devido a rivalidade entre emissoras. Não estar mais diretamente associadas ao canal de Silvio Santos pareceu ser uma boa vantagem hoje em dia, não é mesmo? O programa do Faustão bateu recorde de audiência do ano. Coincidência? Acho que não (eu particularmente odeio o programa dele, mas só assisti pra vê-las)!

Uma exposição dessas, claro, seria a oportunidade perfeita para lançar sua música nova: Bailando. É o que você espera do Rouge: uma letra fácil e inocente, um ritmo dançante e um toque latino. Um prato cheio pra quem não curte tanto o pop com influência do funk carioca que está em alta por aqui. Em 3 dias o clipe da música somava 2,5 milhões de visualizações no YouTube e a Vevo Brasil o divulgava em todos os cantos que podia.

É muito irônico, mas as meninas do Rouge vieram preencher um gap de mercado que elas mesmas criaram. Bem, mesmo no meio de projetos individuais incluindo filhos recém nascidos, musicais e vida em outros países, elas perceberam que o todo é melhor que as partes.

Nada como estar no lugar certo, na hora certa! Bem vindas novamente ao pop brasileiro, que estava precisando de vocês.