O Romance os Miseráveis e a Conexão com o Direito

O Romance os Miseráveis e a Conexão com o Direito

ean Valjean é o protagonista do famoso romance "Os Miseráveis", escrito por Victor Hugo e publicado em 1862. A história de Jean Valjean é uma representação vívida dos desafios enfrentados por indivíduos marginalizados pela sociedade e aborda temas como redenção, justiça e a natureza humana.


No início do livro, o protagonista é um ex-prisioneiro que cumpriu uma longa sentença por roubar um pão para alimentar sua família. Após sua libertação, ele luta para encontrar trabalho e estabilidade devido ao seu passado criminal, sendo constantemente estigmatizado pela sociedade. No entanto, Jean Valjean tem um encontro transformador com um bispo benevolente, que o trata com bondade e lhe oferece uma nova chance.

Esse momento de misericórdia muda a vida de Jean Valjean, levando-o a abandonar seu passado e se tornar um homem rico e respeitado, usando uma identidade falsa. Ele se dedica a ajudar os menos afortunados, especialmente Fantine, uma jovem mãe solteira que está em uma situação desesperadora.

A conexão do enredo deste romance com o direito penal brasileiro pode ser percebida a partir de várias vertentes. Primeiramente, a história ilustra o impacto profundo do sistema penal na vida de um indivíduo. O personagem enfrenta não apenas a prisão, mas também a estigmatização e a exclusão social contínuas, mesmo após cumprir sua pena. Isso levanta questões sobre a eficácia da reabilitação e reintegração dos ex-presidiários na sociedade brasileira.

Além disso, a narrativa destaca a importância da misericórdia e do perdão na busca pela justiça. O personagem do inspetor Javert representa uma visão rígida e implacável da aplicação da lei, enquanto Jean Valjean representa a possibilidade de redenção e mudança. Essa dicotomia levanta questionamentos sobre o sistema punitivo e a possibilidade de ressocialização no contexto do direito penal brasileiro.

Outro aspecto relevante é a representação das desigualdades sociais e a falta de oportunidades como fatores que levam à criminalidade. O protagonista é impulsionado a cometer um crime devido à pobreza e à falta de opções. Essa reflexão nos faz pensar sobre as raízes sociais da criminalidade no Brasil e a importância de abordar as causas subjacentes por meio de políticas públicas mais efetivas e inclusivas.

Em suma, a história de Jean Valjean em "Os Miseráveis" oferece uma visão complexa sobre o sistema penal, a natureza humana e a busca por justiça. Embora seja uma obra de ficção ambientada em uma época específica, suas reflexões sobre redenção, desigualdade social e a relação entre a lei e a humanidade continuam sendo relevantes e atuais e podem ser conectadas com questões presentes no direito penal brasileiro.

MINHAS CONSIDERAÇÕES ACERCA DA LEITURA

Uma análise social de época em "Os Miseráveis" revela a fragilidade e as injustiças inerentes ao sistema penal. A obra retrata a maneira como as leis favoreciam (favoreciam!?) os mais ricos, enquanto puniam severamente os mais pobres. Jean Valjean, como um exemplo emblemático, é condenado a uma longa sentença de prisão por um pequeno crime motivado pela necessidade de sobrevivência.

Essa disparidade na aplicação da lei reflete a desigualdade social e econômica existente na sociedade da época e levanta questões sobre quem é punido e por quê. Enquanto os ricos e poderosos muitas vezes escapam impunes de seus atos (inclusive, atualmente), os mais pobres e marginalizados são submetidos a punições severas por crimes que muitas vezes são resultado direto das condições precárias em que vivem. No Brasil, principalmente, vivenciamos isso diariamente.

"Os Miseráveis" também escancara a miséria e a degradação humana presentes na sociedade da época. O autor explicita pormenorizadamente todos os aspectos da França e seus desapegos morais, com críticas pesadas e diretas ao governo da época, bem como das situações das pessoas em constante pobreza e necessidade. Através de personagens fortes e marcantes, como Fantine, uma jovem mãe abandonada que se prostitui para sustentar sua filha, Victor Hugo expõe as condições extremas enfrentadas pelos mais vulneráveis. Essas narrativas são uma crítica contundente às injustiças sociais e à falta de compaixão e solidariedade em uma sociedade que valoriza mais o dinheiro e o status do que a dignidade humana.

Ao explorar essas questões, o autor mostra a necessidade de repensar o sistema penal e buscar por uma justiça mais igualitária. Ele levanta uma discussão sobre a importância de olhar para além das aparências e das circunstâncias superficiais dos indivíduos, reconhecendo que as experiências de vida, as desigualdades sociais e as oportunidades disponíveis desempenham um papel fundamental na determinação de quem comete crimes e por quê.

A narrativa revela as profundezas da desigualdade social e as consequências da falta de compaixão e empatia em uma sociedade. Através de personagens marcantes e uma narrativa envolvente, o livro convida os leitores a refletir sobre as injustiças sociais e a lutar por um sistema penal justo, que trate os indivíduos com dignidade e oportunidades iguais, independentemente de sua posição social ou econômica.

O escritor também mostra uma grande visão transcendente, religiosa. É impressionante, e vale destacar, que Victor Hugo descreve com absurda maestria todas as características das emoções das personagens, deixando o leitor ainda mais imerso na história e causando, ao mesmo tempo, uma necessidade de reflexão interior e de valores ainda permanentes hoje em dia. 

Em relação aos aspectos analíticos literários, é interessante notar a presença de elementos do romantismo, naturalismo e realismo ao longo da obra. O ambiente influenciando as características dos personagens remete ao naturalismo, enquanto os detalhes sobre as duras realidades e a iminente morte pelo amor verdadeiro representam o realismo. No entanto, a obra é oficialmente classificada como romântica, dada sua ênfase nas emoções intensas e na busca pela redenção e transcendência.

O romance é, de fato, uma obra clássica, impactante, rica e complexa, que aborda uma variedade de temas e oferece uma visão profunda da sociedade e da natureza humana.

Tenho certeza de que os amantes de livros clássicos apreciarão sua profundidade e relevância atemporal.

Recomendo a leitura!

Por Meire Rodrigues


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