O Síndico, a Cidade e o Caos

O que nos leva a escolher um ambiente ou espaço para morar? O que nos motiva a escolher um determinado lugar? O que esperamos encontrar? São perguntas aparentemente subjetivas, mas que refletem uma necessidade prática que poderíamos chamar talvez de segurança, no sentido da proteção física, dada a realidade da qual vivemos, onde os espaços habitacionais vão se constituindo em ilhas isoladas dentro de um espaço maior, ou seja, sistemas e subsistemas, sem comunicação com o entorno e com eles próprios.

Aqui, podemos pensar um pouco sobre o custo de se morar nesses espaços no tocante a segurança física. Não é difícil perceber que toda essa estrutura geralmente é concebida por meio de um aparato tecnológico, que vão de câmeras, sensores, drones, dentre outros, visando tal proteção. O curioso disso é que as pessoas parecem não fazer parte dessa estrutura de segurança a ser montada, cabendo toda a responsabilidade a tecnologia, faz sentido isso?

Creio que podemos pensar em mais uma pergunta, qual seja, a nossa forma de pensar a segurança por meio da tecnologia, não é um incentivo ao setor para desenvolver ferramentas cada vez mais sofisticadas e atrativas aos olhos e as necessidades humanas de segurança sem a sua participação? Aqui, me parece que podemos estar caminhando a uma situação insustentável de morar com segurança.

Pensemos mais um pouco, agora incluindo a taxa condominial que é um rateio em partes proporcionais relativo a cada unidade privativa, que nem sempre é consensual quando se trata de fazer uma adequação aos custos operacionais de um próximo exercício corrente. Perceba que aqui, estamos tratando de um item apenas, por acreditar que ele é um dos vetores de conflitos entre moradores, quanto ao custo de se morar com segurança.

Refletindo um pouco mais sobre esses empreendimentos que levam a altos custos de segurança para seus moradores, se a causa não está relacionada a maneira como concebemos as cidades, cuja segurança tal como a entendemos, também podem levar a insustentabilidade. Perceba que nossa reflexão está pautada em custo e é possível perceber a similaridade entre os empreendimentos residenciais e as cidades no tocante a segurança. Acho que talvez possamos pensar na possibilidade de estarmos reféns do mercado, cujo contexto é criado por nós mesmos, devido a forma como pensamos a cidade e a forma como moramos.

Outro ponto importante, que vale a pena citarmos diz respeito ao custo de se movimentar na cidade devido a falta de estrutura presente em muitos bairros ou localidades, que em muita das vezes não pensamos sobre isso ou não damos a devida importância. Isto envolve deslocamento para o trabalho, para levar os filhos na escola, para o supermercado, etc. além do custo de moradia.

Acho que uma questão importante a se pensar também diz respeito a que tipo de cidade queremos, mas para isso, é importante começarmos sobre que tipo de cidadãos queremos ser, isso envolve uma mudança de paradigma, ou seja, devemos abandonar velhos hábitos, como por exemplo, o de transferir responsabilidades a terceiros, lembra quando falamos da tecnologia? Pois é, devemos começar a entender que os problemas anteriormente citados, exige de nós uma postura mais proativa, no sentido de entendermos que somos parte da solução dos problemas que envolve uma cidade, a começar pelos condomínios em que moramos, onde devemos nos envolver mais nas soluções dos problemas e não transferir tudo ao síndico.