Vizinhança: como viver e conviver juntos
Lellolab no condomínio Grand Reserva Paulista (Pirituba, SP), na Virada da Vida em Comum em 2022

Vizinhança: como viver e conviver juntos

Olá! Está no ar mais uma edição da Lellolab News, um espaço para refletir sobre a vida comunitária urbana. As relações entre os moradores, os condomínios e a cidade – e o tanto de coisa que acontece no meio disso – é a nossa matéria-prima.

Trilha sonora: para entrar no clima desse viver urbano cheio de possibilidades e contradições, bora ouvir Augusto de Campos declamando seu poema “Cidade, city, cité”. Repare que o poema, na verdade, é uma palavrona formada pelos radicais das tantas palavras que podem definir o viver urbano acrescidos do sufixo “cidade”. E funciona em português, inglês e francês! Ouça e depois conta pra gente o que você achou! =)

Não esquece que você pode convidar mais gente para fazer parte desta nossa comunidade de curadoria da vida em comum. É só clicar aqui para compartilhar o seu convite pelo WhatsApp.


1. Vivendo cada vez mais empilhados

O nosso ponto de partida é o processo vertiginoso de verticalização das cidades brasileiras. Neste mapa que fizemos com base nos dados mais recentes do IBGE fica fácil de perceber onde se concentram a maior parte de moradores de apartamentos no Brasil.

Alguns destaques que nos saltaram aos olhos:

  • Cerca de 12% dos brasileiros vivem em prédios e apartamentos, segundo os dados do Censo Demográfico 2010;
  • A cidade mais verticalizada do país é Santos (SP), com 63% dos habitantes morando em apartamentos; 
  • Já a capital mais verticalizada é Vitória (ES), com 58% dos moradores em apartamentos;
  • Em São Paulo, 29,5% da população mora em apartamentos;
  • Em Teresina (PI), apenas 5,8% dos habitantes vivem em apartamentos.


2. Próximos, mas distantes

Nos prédios, moramos mais perto de nossos vizinhos – mas isso não significa que estejamos mais próximos em termos de convivência. Pesquisadores vêm identificando um “enrijecimento” da ideia de vizinhança, quando a experiência se reduz a uma proximidade material e pragmática.

Segundo o artigo que linkamos ali em cima, é longo o caminho que nos leva a conviver por anos com estranhos a poucos passos de nós. Ele passa por mudanças nas cidades, com a predominância dos carros no espaço público, a transferência do lazer para áreas privadas (como shoppings e clubes) e também por mudanças tecnológicas e sociais.

Esse conjunto de novidades leva ao que os pesquisadores do artigo chamam de “supervalorização da privacidade e do individualismo”. E aí tem um choque com a ideia de vizinhança, que funciona num campo entre o cuidado e a bisbilhotice.

Mas muita gente já percebeu que algo importante está se perdendo nessa vizinhança enrijecida. Quando fazíamos um bolo e levávamos um pedaço para o vizinho estávamos cultivando relações e afetos que constroem laços de segurança, cuidado e sociabilidade. O que fazemos hoje para cultivar essas relações?

Aqui no Lellolab não gostamos de fatalismos. Somos otimistas e vemos muitas atitudes que colaboram para a criação de vizinhanças vivas. Um exemplo vem da própria Lello Condomínios, que nos momentos mais críticos da pandemia levou música ao vivo para os prédios que administra. Foram mais de 70 mil pessoas que receberam essa serenata.

E você? Tem algum bom exemplo de gestos ou ações que te ajudaram a se aproximar de seus vizinhos? Tem uma boa rede de apoio nas portas e apartamentos ao seu lado? Conte pra gente respondendo no ola@lellolab.com.br.


3. Conectados

A evolução tecnológica nos deixou hiperconectados – atualmente, mais de 81% dos brasileiros têm acesso à internet, grande parte via celular. Mesmo enclausurados em casa – especialmente com a chegada da pandemia –, conseguimos estar em contato com o mundo.

E claro que esse movimento que chacoalha o planeta também afeta nossa rua, nosso condomínio, nosso morar. Muitas das experiências típicas de vizinhança cabem agora dentro de um smartphone. A gente separou alguns exemplos:

O ato de ficar paquerando na janela agora é feito nos apps de namoro. Os principais - Tinder, Happn e Grindr - funcionam com base em geolocalização e podem te apresentar só quem estiver pertinho.

A tecnologia também ajuda na hora de resolver os pequenos problemas cotidianos de um condomínio. Um exemplo é o Super App Lello para Moradores, que além de ter tudo o que você já espera encontrar em um app de administradora de condomínios, ainda oferece benefícios como serviços de limpeza e lavandeira com descontos especiais, contratação de seguro casa protegida, permite a reserva de áreas comuns, sem perder aquela data especial, o agendamento de mudanças, acessar assembleias digitais, e muito mais.

Temos ainda o mais polêmico de todos: os grupos de WhatsApp de condomínios, “lugar” de trocas e muita treta. Este tweet resumiu bem o espírito.

Por isso conversamos com a Camila Conti, que trabalha aqui no Lellolab com um método para criar comunidades intencionais e gerir grupos. Ela nos deu dicas sobre como criar um grupo de vizinhos, sem que ele vire um núcleo de brigas. Tiramos da conversa três lições principais:

O convite - Em vez de pedir uma relação com os contatos dos moradores e adicioná-los unilateralmente ao grupo, é melhor optar por abordagens individuais, seja em conversas nos corredores ou através de cartas-convite deixadas para os vizinhos. A gentileza da abordagem e a anuência dos participantes dão um tom muito mais respeitoso e ainda permitem “dar uma cara” à iniciativa de criação do grupo. O responsável deixa de ser o vizinho do fim do telefone 4353 e passa a ser com nome, rosto e uma abordagem amigável.

Moderação - A Camila defende que “conversa em grupo tem método”. Por isso, uma moderação ativa e atenta evita excessos de agressividade e a consequente debandada do grupo. É preciso orientar, intervir, moderar e dar o tom do grupo. Alguém precisa se responsabilizar por isso. É importante que essa pessoa entenda que, no começo, é normal que o pessoal desvirtue um pouco os temas, faça desabafos. As angústias de todos devem ser acolhidas.

Código de conduta - Um bom jeito de manter o papo dentro das quatro linhas é criar um código de conduta e deixá-lo na descrição do grupo. Assim, todos ali sabem sob quais regras a conversa funciona. Vai aqui uma dica de regras básicas:

1 - respeito mútuo

2 - não pode falar mal da atual sindicância nem do/a vizinho/a

3 - pode divulgar seu talento para a vizinhança

4 - pode propor melhorias para o prédio, dar ideias, compartilhar temas interessantes e pertinentes à vida em comum


4. Bisbilhotar faz parte

Somos daqueles que adoram olhar pra dentro do apartamento do vizinho quando tem uma fresta na porta. E pelo jeito essa curiosidade é universal. Tem dois trabalhos bem legais que, no fundo, são sobre isso.

O primeiro é uma série do fotógrafo romeno Bogdan Gîrbovan, que retrata apartamentos do mesmo prédio, com a mesma planta, sob o mesmo ângulo. O que muda é o morador e o uso que ele faz do espaço. É ótimo ver as personalidades materializadas.

O segundo trabalho é o documentário Edifício Master, do cineasta brasileiro Eduardo Coutinho. sobre a vida dos moradores de algum dos 276 apartamentos do tradicional edifício de Copacabana. Trabalho de primeira. 


5. Inspiração de pé de página 

O que é o bairro? - perguntei certa vez a um velho caipira, cuja resposta pronta exprime numa frase o que se vem expondo aqui: - “Bairro é uma espécie de naçãozinha.”

Antonio Candido, em Parceiros do Rio Bonito


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Até nossa próxima edição!


Esta edição é uma produção OExpresso + Lellolab

Edição: Gustavo Panacioni e Camila Conti

Texto e pesquisa: Estelita Hass Carazzai e João Frey

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