O segmento de mercado mais famoso do universo (ou "sobre nossos atos falhos")
Eu sou fã de Lego, portanto "os adultos" gostam de Lego... será mesmo?

O segmento de mercado mais famoso do universo (ou "sobre nossos atos falhos")

É aceitável que, no dia-a-dia, a gente se refira ao mundo de forma genérica. "As pessoas não têm mais paciência"... "as pessoas andam muito intolerantes...", "as pessoas estão optando cada vez mais por uma vida saudável..." e por aí vai.

Isso é ótimo - para o dia-a-dia. Imagine se tivéssemos que detalhar quem são essas "pessoas" às quais nos referimos, a cada conversa entre amigos ou em família, por exemplo? O mundo seria extremamente chato.

Acredito que faz parte do nosso instinto (de comunicação e vida em sociedade) usar referências vagas sempre que estamos conversando despropositadamente.

Mas, no trabalho, na escola ou qualquer ambiente de aprendizado e produção, o profissional que usa esse termo genérico "as pessoas" em sua argumentação de marketing, esse deveria levar um puxão de orelha. Um cartão amarelo.

As pessoas...

  • de qual região?
  • em qual faixa etária?
  • de qual sexo e/ou orientação sexual?
  • em qual corrente política, religiosa etc?
  • com qual característica comportamental?
  • em qual contexto social, econômico, cultural?
  • expostas a qual estímulo ou situação?
  • em qual período do dia, do mês, do ano?

Enfim, só aqui já se pode perceber a quantidade de filtros disponíveis, possíveis e até obrigatórios para descrever um segmento sobre o qual se pretende inferir alguma informação com a devida relevância para análises de marketing.

No mundo data-driven (orientado por dados) de hoje, se alguém compusesse o utópico segmento "pessoas", ele seria populado por milhões, até bilhões de registros - e seria inútil para a maioria das finalidades de estudo

Eu me lembro de uma única vez em que alguém teve condições de se referir ao segmento "pessoas" com propriedade. E foi no cinema (X-men 2, filme de 2003 baseado nas histórias da Marvel ainda da segunda metade do século XX)!

No filme, o Prof. Xavier, pilotava seu equipamento chamado de Cérebro (nome bem sugestivo) e, através dele e de suas faculdades mentais, fazia uma consulta para visualizar o segmento "pessoas"; em seguida, mudando os parâmetros da query, realizava outra consulta e dessa vez obtinha o segmento "mutantes".

Separei o trecho para você:

Xavier sim, podia se referir às "pessoas", porque conseguia acessar informação sobre todas elas (que inveja), enquanto Logan (Wolverine) assistia, surpreso...

Resumindo:

Se você não é o Prof. Xavier ou não possui o mesmo Cérebro instalado em seu escritório*, mas tem uma reputação profissional a proteger, evite usar o termo "pessoas" (ou "mutantes!") ao se referir a segmentos de mercado, interpretar dados e até para dar palpites com base em seu conhecimento ou opinião.

O profissional que se refere de forma genérica às "pessoas" para sustentar seu ponto de vista merece levar um cartão amarelo na conferência, reunião, aula, grupo de trabalho e seja lá qual for o contexto em que cometer essa gafe.

Para piorar, alguns ainda abusam do pseudo-segmento "EU" para extrapolar as opiniões sobre segmento "pessoas". Para mim, essa gafe deveria render cartão vermelho :-)


Dica:

Ninguém é perfeito (nem o Prof. Xavier).

Tenha a humildade de se auto-diagnosticar de tempo em tempo, de se corrigir sempre que perceber esses atos falhos e a grandeza de aceitar quando alguém, geralmente com boa intenção, lhe apontar esses deslizes no uso profissional.

Em tempo: eu cometo meus erros (claro!), e coleciono meus próprios cartões amarelos como forma de me manter atento - e de evitar os cartões vermelhos.


Comentários são sempre bem-vindos.

Um abraço e até a próxima!

Márcio

*Ainda em tempo: quanto ao Cerebro, o Google Trends, o Facebook IQ e outras plataformas de insights estão evoluindo nessa direção - e sem você precisar daquele capacete.

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