O sentido da vida




O que não falta nas prateleiras das livrarias e nos sites de autoajuda e/ou espiritualidade são livros, textos e ofertas de cursos para encontrar um propósito de vida, o sucesso, a felicidade, o dharma, ou seja lá que nome você queira dar para o sentido da vida.

Essa pergunta permeia a filosofia desde os primórdios e, verdade seja dita, até hoje ninguém a respondeu. E não é para menos, se existisse algum sentido universal para a vida, uma receita de bolo para encontrar seu caminho e significado no mundo, existiria, por força da lógica, uma verdade absoluta. E a menos que você seja algum tipo de radical, já deve ter percebido que não existe uma verdade universal sobre nada.

A essência do universo são a mudança e o movimento, bem como a relatividade. A física explica, para quem deseja explanações científicas. E, se o universo no qual nos inserimos está sujeito à teoria da relatividade, impõe a lógica que isso se aplique às questões filosóficas da vida.

A religião, o direito, a moral e a ética traduzem, em dado momento histórico, a verdade socialmente aceita, senão pela maioria, ao menos pela minoria dominante. São conceitos criados pelo homem com base em determinadas circunstâncias e, porque não dizer, interesses, que, por convenção, aplica-se a todos. Da mesma forma, as respostas encontradas no pensamento filosófico acabam sendo inseridas não tanto num momento histórico, necessariamente, mas em circunstâncias de certa forma genéricas.

Exemplifico. Ninguém relutaria em defender o direito à vida ou qualquer questão de cunho filosófico defendendo a vida. Mas imagine uma situação limite. Isso pode mudar. O judaísmo explica o amor próprio por meio de uma parábola sobre dois amigos que decidiram atravessar o deserto a pé. Um calculou bem o volume de água a levar, enquanto o outro subestimou suas necessidades. O fato é que ambos se viram em uma situação em que havia água para apenas um deles completar a caminhada. Se o amigo que tinha água suficiente a dividisse com o outro, ambos morreriam de sede; se não o fizesse, apenas o outro morreria e ele não. E aí? Como ficam as verdades? Seria justo aceitar uma água cuja falta posterior mataria ambos? E não dividir? A solução oferecida pelo judaísmo é não dividir e amar a si mesmo, sob pena de ambos morrerem, afinal, se o amor ao próximo existisse no amigo, esse não aceitaria uma água que levaria ambos à morte.

Viu, tudo é relativo!

Consequentemente, o significado da sua vida e o seu caminho também. O que funciona para um pode não funcionar para o outro. E o que funcionou para você ontem pode não ser mais verdade hoje. Não há fórmula mágica. Cuidado com gurus que prometem, a preço de ouro, a solução para as suas dúvidas existenciais em apenas alguns meses. É bem possível que você leve a vida toda procurando um significado e jamais encontre.

Mas, então, o que fazer? Bem, procure aceitar a vida como ela é. Isso não significa ficar inerte, mas compreender que a você cabe fazer tudo o que está ao seu alcance para alcançar determinado objetivo ou prazer, mas o resultado depende de incontáveis variáveis que não estão sob o seu controle e que nem sempre a ciência explica.

Compreender que, para além da religião, da filosofia, do direito, da moral e da ética existe o oculto, o sagrado, aquilo que não se explica, é sinal de sabedoria. É a partir dessa compreensão que você pode chegar à aceitação de resultados e acontecimentos alheios ao seu controle e lidar com eles de forma construtiva.

Aprender a apreciar o caminho, com seus desníveis e obstáculos, ao invés de indignar-se a todo momento sobre como as coisas não aconteceram como você desejou que fosse e/ou entendeu que deveria é compreender que não existe uma verdade universal para nada, que, no fim, aquilo que não se explica se impõe e cabe a você decidir se vai ser feliz ou infeliz diante disso.

Nem sempre nós poderemos trilhar caminhos ou alcançar destinos que achamos que queremos e que nos farão felizes, mas está em nosso alcance decidir por aceitar e gostar do caminho e destinos que foram possíveis em dado momento, imprimindo significados e propósitos que criamos a partir dessa não escolha, a fim de tornar a vida mais suave.

Essa é uma tarefa casuística e não universal, você fará isso a todo instante e os significados e propósitos vão mudar conforme a roda da vida gira. E isso, meus caros, é, quem sabe, compreender o mistério da existência, que, como o próprio nome sugere, ainda permanece como algo oculto em relação ao qual nos resta a aceitação e a criação, a cada instante, de impressões que nos tragam paz. 


Lázaro Soares

Gestor do Setor de Utilities e Infraestrutura | Assuntos Regulatórios | Energia | Saneamento | Engenheiro | Administrador | Setor Elétrico - Equatorial Energia

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