O tema da solidão em "A Filha perdida"
Saiu há poucos dias o filmão A Filha perdida baseado no livro de Elena Ferrante. Trata-se de uma professora de literatura comparada que vai para a Grécia de férias. As questões abordadas na história de Leda (Olivia Colman) têm sido bastante discutidas pelos críticos e ainda farão correr muita tinta. Vejam, por exemplo, a coluna de Luiz Zanin Oricchio “ ‘A Filha Perdida’ perturba ao tocar na sacralização da maternidade” ( Estadão), Dadá Coelho “´A Filha perdida’ mostra que ser mãe é tudo, menos romance” ( UOL) e Giovanna Bartucci “ ‘A Filha Perdida’ retrata dúvidas da maternidade” ( Folha de São Paulo), além de muitos outros textos. Os diferentes pontos de vista revelam a riqueza e profundidade dos debates suscitados.
Gostaria de comentar aqui um aspecto não central, mas igualmente importante: a viagem solitária de Leda. Até hoje, em pleno século 21, há quem enxergue as mulheres mais velhas, e que estão sozinhas, como meio ranzinzas, desinteressantes, infelizes enfim. No filme, chama-nos a atenção como Leda aproveita e saboreia suas férias em uma praia linda, onde lê, escreve, analisa e reflete sobre a vida. Faz caminhadas, vai ao cinema, conversa um pouco aqui e ali, até que uma família barulhenta de turistas vem perturbá-la.
Uma pessoa sozinha é muitas vezes observada com desconfiança, estigmatizada como se houvesse algo de errado com ela. Isso vale para todos, mas no caso das mulheres, o preconceito é imenso. Já senti isso na pele quando era jovem e hoje percebo também, nas entrelinhas das conversas, que a solidão, mesmo quando é produtiva e necessária, não é vista com bons olhos. A psicanalista Giovanna Bartucci comenta: “[...] Leda tem sentimentos de estupefação diante da natureza, canta, estabelece vínculos [...]” ( Folha, 15/01/2022). Este belíssimo filme propõe, assim, uma reflexão sobre esses momentos de solidão indispensáveis para muitos de nós.
Em “A Filha perdida” há inúmeras cenas misteriosas, piscadelas para o espectador, silêncios, barulhos inesperados e sustos que não deixam de evocar Hitchcock . Preciso desrespeitar mais uma vez as regras de “Como Escrever Bem “ de William Zinsser segundo o qual devemos evitar o emprego de adjetivos, advérbios e clichês: a fotografia é de tirar o fôlego, os atores são excelentes e Olivia Colman tem mais uma vez atuação arrebatadora, tudo isso vale o tempo dedicado ao filme.
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“A Filha perdida”
Com Olivia Colman, Dakota Johnson, Jessie Buckley, Ed Harris entre muitos outros atores
Roteiro e direção: Maggie Gyllenhall
Netflix
Trazendo Estratégia para a Ação: Especialista em Gestão Empresarial e Inovação | Co-Fundador da Fact Consulting.
2 aMe deu vontade de assistir, se entendi bem, deve falar um pouco de mim 😎. Valeu pela sugestão!
Investidores Institucionais
3 aFilme intrigante e impressionante sem dúvida! Olívia Colman com atuação marcante, traz sentimentos diversos à tona. Ana Luiza Bedê