O "Tempo de Despertar" e a carta inspiradora de Oliver Sacks
Caro amigo leitor, era um domingo de manhã e, ao pegar o jornal, li na capa uma chamada para um artigo de despedida do grande cientista e escritor Oliver Sacks. Sim, despedida da vida, dessa nossa longa caminhada. Um câncer em estágio avançado o consumia, aos 82 anos. Mas a carta não é triste. Ela é muita coisa, menos triste. Ufa.
Me interessei em ler e foi um dos textos mais inspiradores que já li na minha vida. É para ler em momentos de euforia e de tristeza. É pra ler em todos os momentos. Já espalhei essa carta entre amigos aniversariantes, no intuito de que eles olhem para suas vidas e enxerguem mais propósito no que passa.
A carta foi publicada originalmente no jornal americano The New York Times. Foi traduzida por veículos brasileiros, entre eles a Folha de São Paulo, onde eu a li.
Na imagem abaixo, Oliver Sacks e o ator Robin Willians, durante a produção do filme "Tempo de Despetar", baseado em livro homônimo de Sacks.
Por que a carta me fascinou e por que acho que você tem de ler? Lá não tem receita para a felicidade. Lá não tem receita para ganhar mais dinheiro. Lá não tem receita para ser uma pessoa boa de sexo. Lá não tem receita para nada, logo, não é uma auto-ajuda.
Cada um a interpreta a sua maneira, como sempre é com textos publicados. E o que eu vi? Antes de mais nada, um resumo da trajetória de Oliver Sacks, que aliás você pode ler mais mais clicando aqui, na biografia oficial lançada recentemente pela companhia das letras.
Na imagem abaixo, Oliver Sacks em frente à casa onde passou sua infância, na Inglaterra. Publicada no jornal Folha de São Paulo.
Eu vi uma bela lição de como viver a vida em sua plenitude é compensador. Eu vi uma lição de como o que importa são as amizades verdadeiras, não em quantidade, mas em qualidade e intensidade. Aprendi também que o que levamos conosco são nossas experiências, situações pelas quais passamos e que marcam nossa existência. É um privilégio poder chegar aos 82 anos desfrutando de leituras apaixonantes, de amores vividos intensamente, de ter dado valor ao conhecimento e a sabedoria, que, para além de bens materiais, é o que nos faz viver plenamente.
Tenho trinta anos e minha geração está angustiada, vivendo um momento de crise não só no Brasil, mas no mundo, com a disseminação da violência, do ódio, do conflito. A geração "tarja-preta" está nas ruas, em polvorsa.
Mas, por outro lado, minha geração tem tido o privilégio de viver um momento de proliferação do conhecimento, do compartilhamento em massa de ideias e inovações. Somos, talvez, a geração mais empreendedora que já surgiu na terra. E isso começou lá no fim dos anos 1960. Criamos empresas e soluções inovadoras para problemas da sociedade, e estamos empenhados em salvar o mundo.
Da carta de Sacks, dos vários trechos geniais, destaco:
"(...) sinto-me intensamente vivo, e quero e espero que, no tempo que resta, eu possa aprofundar minhas amizades, dizer adeus aos que amo, escrever mais, viajar, se tiver força para tanto, alcançar novos graus de entendimento e de discernimento.
Isso vai requerer audácia, clareza e franqueza; é uma tentativa de acertar as contas com o mundo. Mas haverá tempo, também, para diversão (e até mesmo para um tanto de tolices).
É inevitável. Uma hora todos nós vamos estar de saída desse mundo. E vai ser neste momento que vamos notar que o que importa mesmo são nossas experiências vividades. Lugares lindos que visitamos - como as montanhas que vi no Peru ou quando vi pela primeira vez a imensidão do sossego da Praia dos Antigos, em Paraty -, os livros que lemos e as músicas que ouvimos, e as pessoas que conhecemos.
Por fim, o último trecho que destaco da carta:
"Não posso fingir não ter medo (diante do câncer e da morte iminente). Mas o sentimento que predomina em mim é a gratidão. Eu amei e fui amado; tive muito e dei muito em troca; eu li, e viajei, e pensei, e escrevi. Eu tive com o mundo o relacionamento especial que os escritores e os leitores têm com ele."
Se tiver interessado, e recomendo fortemente, clique aqui e leia a carta. Se quer conhecer um pouco mais sobre Oliver Sacks, clique aqui. O Brasil Post, num artigo bem interessante, descreveu "os 7 trechos da carta de despedida de Oliver Sacks que vão fazer você repensar a própria vida". Leia clicando aqui.
Depois de uma vida muito rica, Sacks faleceu no último dia 30 de agosto, aos 82 anos, em sua casa, em Nova Iorque.
Financial Manager at Dedic Administração de Condominios
9 aPerfeito Anderson Rodrigues. abços.