O trabalho cansa ou nos reabastece com vitalidade e energia?

Um dos maiores cronista que este país já teve, Antonio Maria, engendrou coisas do tipo sobre o trabalho: “... A primeira providência seria não antecipar as obrigações. Fazer tudo à última hora, embora o mais bem-feito possível. Porque, se na quarta-feira eu fizer todo o serviço de sexta e morrer na quinta, eu trabalhei depois de morto”.

No fundo, Maria quis dizer que trabalhar não é tão legal quanto parece, e que você deve aproveitar um pouco a vida antes de passar dessa para melhor. Errado ele não está, mas não está 100% com a razão. Pelo menos é assim que eu acredito e pretendo expor aqui os benefícios sobre o trabalho, colocando-me, certamente, em confronto com a opinião de Maria e de boa parte da população (risos). Vejamos no que isso pode dar.

A Psicologia Organizacional e do Trabalho (POT) enquadra a temática para os alunos da seguinte maneira: “primeiro o trabalho, depois o prazer”. Ou, pelo menos é assim que eles entenderam as visões dos filósofos e pensadores que se debruçaram sobre o tema e disseram alguma coisa a respeito.

Existem mais de vinte definições de trabalho para a POT. Além disso, expressões como “trabalho exaustivo”, “pagar contas” e “desgastante”, ganham destaque nos slides. De Platão a Marx, as interpretações sobre a palavra trabalho ganham notoriedade controversas.

Ao longo da história, a palavra “trabalho”*, que tem origem no termo latino “tripalium”, vem numa constante evolução. No início, referia-se a um instrumento de tortura composto por três estacas, destacando o sofrimento e a dor que algum sujeito poderia experimentar. Com o passar dos séculos, trouxe a visão de esforço, fadiga e/ou uma atividade para manutenção da sobrevivência. Com a chegada da época Cristã, tomou uma forma divina, de modo que o ser humano poderia contribuir com a obra de Deus na Terra. Hoje, além dos aspectos materiais que o trabalho oferece através do salário e benefícios, oferece também propósito e realização pessoal.

Em física, trabalho e energia se complementam e podem nos dar uma versão interessante sobre as dúvidas que pairam no ar: afinal, cansa mesmo ou nos reabastece com vitalidade e energia?

Não vou me aprofundar na física, porque definitivamente não é minha praia. Porém, já vimos em algum lugar a fórmula T = F . d (T – trabalho; F – força; d – deslocamento). O trabalho, portanto, só acontece se tiver força mais deslocamento. Se for aplicada uma grande força, mas não tiver deslocamento, entendemos que o trabalho não existiu. É por isso que Lourenço Prado sugere que “A aplicação conveniente da energia é o trabalho, portanto, a aplicação correta de suas energias é sua preparação para trabalhar melhor” (Prado, 2009, p.121).

Façamos a imagem de uma casa que não há moradores. Com o passar dos dias, por não ter ninguém que faça o trabalho de manutenção, a casa vai se acumulando de sujeira, pó, mofo. Como não houve um desprendimento de energia (T = F. d), tudo passa a ficar deteriorado. Na sua casa, no entanto, como o chão recebe uma belíssima vassourada, os móveis panos úmidos e a cozinha organização diária da louça, tudo fica vibrante e com vida.

Faço aqui um simples paralelo, perguntando: “Imagina se o Universo parasse de trabalhar, o que seria da nossa casa Terra?”

Perceba que o que estou dizendo aqui vai de encontro à programação que recebemos desde a meninice. A ideia de trabalho fácil, de que o dinheiro pode vir com o mínimo de esforço e que a aposentadoria deve ser aproveitada numa ilha distante e isolada, sempre fez parte da nossa vida. Contudo, quero que você se lembre de uma situação que provavelmente já vivenciou. Quando está de férias, e passa alguns dias na praia, por mais que seja agradável e prazeroso, chega uma hora que você vira para alguém e fala: “Já estou cansado de não fazer nada”.

(Mas como pode, senhoras e senhores, não fazer nada e ficar cansado?).

Na verdade, é que a sua casa (vida) está parada, sem trabalho, sem energia e, portanto, juntando sujeira, pó e mofo. Então, você volta para o trabalho contente e serelepe, porém, com apenas uma semana de esforço e cafezinhos, você já se vê cansado de novo. Afinal de contas, o que é que acontece?

Tudo é uma questão de objetivo e programações. A fórmula é simples: se você pensa que depois de um dia de trabalho ficará cansado, e que após uma aula de funcional ou yoga ficará bem, então, você continuará cansado após um dia de trabalho e se sentirá bem após uma aula de funcional ou yoga. O corpo acompanha a mente e os pensamentos. E a sua vida acompanha o que você programa.

Desse modo, Guilherme, você está querendo dizer que meus momentos de lazer me cansam, e que trabalhar me enche de força e energia? É claro que as células, o cérebro e o corpo são diariamente exigidos, independentemente da atividade, e precisam de descanso. Contudo, o que eu quero dizer é que se você sabe o quer, tem um objetivo bem definido e entrega sua vida de corpo e alma, provavelmente, você não se cansará como a grande maioria das pessoas se cansam no trabalho. Aliás, ainda poderá evitar ansiedade, depressão, Síndrome de Burnout e entre outros transtornos.

Há um capítulo no livro, “Alegria e Triunfo II”, de Lourenço Prado, que oferece uma visão esclarecedora a respeito do parágrafo anterior. Eu destaquei alguns trechos, e vou apresentá-los aqui, sem medo de ser feliz, para que Antonio Maria e grande parte da população voltem a entrar em conflito comigo. Vejamos no que isso pode dar! 😊

Repito: “A aplicação conveniente da energia é o trabalho, portanto, em última análise; a aplicação correta de suas energias é sua preparação para trabalhar melhor”.

“Para quase todos nós a palavra ‘trabalho’ significa gasto, cansaço, deterioração, porém, na realidade, deveria significar prazer, força e desenvolvimento”.

“... o seu verdadeiro mal não está no excesso de trabalho, mas, sim, na falta de organização conveniente”.

“Enquanto você trabalhar metodicamente, será praticamente impossível trabalhar demais, já que não é o trabalho que enruga a sua fonte, embranquece seus cabelos, envelhece seu corpo e enfraquece sua mente; é a tensão e o impulso nervoso com que você o executa que produzem essas coisas; enfim, é a ação sem método”.

“Ao trabalhar calmamente, o trabalho lhe dará forças, você não se cansará, e poderá provar essa verdade”.

“... se agora você estiver empenhado num trabalho que não lhe seja agradável nem proveitoso, não permanecerá muito tempo nessa posição, desde que comece a trabalhar com método, porque assim se aperfeiçoará constantemente e logo você se tornará necessário em um lugar melhor”.

“... quando considerar todo trabalho como um processo construtivo de você mesmo e empregar esse trabalho para construção da sua mente [...] preparará uma vida melhor para você mesmo”.

 Bom trabalho a todos!

* @opresentedapalavra (Instagram).