O vinho verde que não é verde!
Revista Voto Edição 150
O vinho verde que não é verde!
Se você tem o hábito de beber vinhos brancos na praia ou na piscina durante o verão, provavelmente já ouviu falar dos vinhos brancos da região do Minho (Noroeste de Portugal), também conhecida como região do vinho verde. Essas bebidas normalmente têm baixo teor alcoólico (em torno de 10 a 12% de álcool por volume – abv, do inglês alcohol by volume) e costumam apresentar bastante acidez, o que as tornam uma opção de vinho bem refrescante e ideal para os longos dias da estação no Brasil. O vinho verde contém um pouco de borbulhas, conhecidas em Portugal como “agulhas”. Esse dióxido de carbono (CO₂) às vezes ocorre naturalmente, mas, mais frequentemente, é adicionado durante o engarrafamento. Essa sensação de agulhinhas no palato é a cereja no bolo para dar ao vinho verde um caráter gastronômico e extremamente versátil quando o assunto é harmonização. O fato de harmonizar com diversos pratos diferentes, desde carne de porco (mais gordurosa) até a peixes frescos e gastronomia oriental (tailandesa ou japonesa – sushis e sashimis), fez com que o vinho verde se tornasse um coringa em mui- tos restaurantes ao redor do mundo.
No entanto, o que muitos não sabem é que o vinho verde pode ser tinto, rosé e espumante também. Muitas pessoas associam o nome vinho verde à ideia de que o vinho vem da uva verde e, consequentemente, imaginam que apenas vinhos brancos seriam produzidos com ela. Porém, o ter- mo vinho verde não tem nenhuma relação com a cor da bebida, mas com a região onde ela é produzida.
Claramente, o vinho verde não é verde. A explicação desse nome, portanto, está relacionada à denominação de origem controlada desses vinhos ser conhecida como a região dos vinhos verdes. Não se sabe ao certo porque o Minho (Noroeste de Portugal) é conhecido como a região do vinho verde, mas existem duas boas hipóteses para essa alcunha. A primeira – e a que eu, pessoalmente, gosto mais – é o fato do local ser muito verdejante, ou seja, sempre chove e a mata é exuberante, ao contrário do que acontece em outras regiões portuguesas. Já a segunda conjectura, a mais disseminada, diz que as uvas da região, mesmo com maturação completa, normalmente possuem alto teor de acidez e baixo açúcar, resultando em vinhos ligeiros e prontos para beber, ou seja, são vinhos não ma- duros, portanto, vinhos verdes.
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Existe uma comissão vitivinícola na região dos vinhos verdes responsável por auditar as regras de produção, as uvas autorizadas e as demarcações regionais onde esse tipo de vinho pode ser produzido. As principais uvas da região são brancas, sendo elas a Alvarinho, a Arinto, a Avesso, a Loureiro e a Trajadura. Porém, as tintas também têm o seu espaço com a Vinhão, a Padeiro e a Espadeiro. Os vinhos verdes tintos são elétricos e extremamente gastronômicos. Os vinhos feitos da uva Vinhão são encorpados e podem ser até densos algumas vezes.
Não posso deixar de comentar que a uva Alvarinho é a rainha da região do vinho verde e encontrou dentro da sub-região de Monção e Melgaço o seu ápice. A Alvarinho de Monção e Melgaço se reconhece pelo ar cristalino, de aroma elegante, e notas cítricas misturadas com nuances florais e de frutas tropicais. Normalmente, as garrafas de Alvarinho dessa região têm um formato de flute e os valores dos seus vinhos são sempre superiores.
Seja branco, rosé, tinto ou espumante, o que não podemos negar que os brasileiros são apaixonados por vinho verde. Em 2020, segundo números da Ideal Consultoria, quase 10% dos vinhos tranquilos* importados de Portugal eram vinhos verdes. O consumo despojado, ligeiro e casual desse tipo de vinho no Brasil é reflexo de uma cultura vínica que não para de crescer. Como sou uma militante do mundo do vinho, espero ver muitos deixando a cervejinha na praia e aderindo aos refrescantes vinhos verdes.
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