ODISSEIA LUZ
ODISSEIA LUZ (XVII)
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Tingir de verde milhões de seres humanos foi uma fórmula insólita que deixou o planeta estranhamente colorido e bem diferente daquele a que todos estavam habitados. Porém, após o impacto inicial, as pessoas rapidamente se habituaram à transformação e foi já numa fase em que tudo se conjugava para o sucesso da medida que surgiu o impensável, ao emergir das entranhas das cinzas esquecidas, as raízes de um racismo fanático, primitivo e desumano.
Foi nessa fase que germinou e cresceu nas sociedades novos conceitos de antagonismo, de vingança e de afronta gratuita entre seres semelhantes. No fundo, uma nova forma de racismo ... um novo modelo para vincar diferenças inexistentes.
Foram assim criados em locais estratégicos, com ramificações por todo o mundo, vários grupos de pessoas, uma espécie de gangue, denominado de “verde claro” para a raça branca e de “verde escuro”para a raça negra. Os outros que não se enquadrassem em nenhuma das versões anteriores eram chamados de “verdinhos”.
Esta aversão desprezível entre pessoas extravasou a cor da pele para envolver motivações de natureza cultural, religiosa, económica e foi crescendo, sobretudo entre os mais jovens, dando origem a situações de discriminação totalmente surreal, como os jogos online, onde não era permitido que um “verde-claro” jogasse com um “verde-escuro”.
Como esta medida não resultou e o espetro de uma guerra civil surgia no horizonte, o rei “Juan Odisses” ordenou a implementação da penúltima medida do manual de irradicação do racismo no planeta. Esta determinava que o Sol deixasse definitivamente de iluminar a Terra, levando-a a permanecer na escuridão durante as vinte e quatro horas do dia. (continua ...)
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Agostinho Silva
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