Olhares sobre a Aprendizagem Motora na perspectiva da Pedagogia e das Neurociências

Olhares sobre a Aprendizagem Motora na perspectiva da Pedagogia e das Neurociências

por Prof Msc Jorge Ricardo Menezes da Silva

A Aprendizagem Motora é compreendida como um conjunto de processos cognitivos e motores que estão associados à experiência e à prática, que resultam em mudanças relativamente definitivas no comportamento motor, ou seja, no fazer, no agir.

Neste sentido, encontramos na taxonomia de Bloom o “domínio psicomotor”, no Relatório Delors e os Pilares da Educação no século XXI o “aprender a fazer” e em Zabala em seu livro “A prática educativa: como ensinar”, os “conteúdos procedimentais”.

A taxionomia de Bloom traz como contribuição a tarefa de classificar metas e objetivos educacionais. Desenvolve um sistema de classificação para três domínios: o cognitivo, o afetivo e o psicomotor. O domínio cognitivo valora processos como memória, interpretação e pensamento crítico. O domínio afetivo lida com percepções, crenças, emoções e valores. O domínio psicomotor acolhe os movimentos físicos, a coordenação e as habilidades motoras e tem como caminhos os movimentos amplos ou restritos. Congrega as artes, esportes e procedimentos ligados às áreas profissionais e laborativas que envolvem a motricidade humana em sua essência, nas ciências da natureza e em suas tecnologias. O desenvolvimento da aprendizagem motora exige e requer praticidade e observa destreza em relação a velocidade, precisão, inteligência espacial, educação procedimental conforme normas e códigos de ação.

Segundo Delors, a prática pedagógica deve preocupar-se em desenvolver quatro aprendizagens fundamentais, que serão para cada indivíduo os pilares do conhecimento: aprender a conhecer indica o interesse, a abertura para o conhecimento, que verdadeiramente liberta da ignorância; aprender a fazer mostra a coragem de executar, de correr riscos, de errar mesmo na busca de acertar; aprender a conviver traz o desafio da convivência que apresenta o respeito a todos e o exercício do diálogo como caminho do entendimento; e, finalmente, aprender a ser, que, talvez, seja o mais importante por explicitar o papel do cidadão e o objetivo de viver.

Sob as lentes de Delors, o aprender a fazer compreende que o indivíduo esteja apto a enfrentar novas situações e a trabalhar em equipe, desenvolvendo espírito cooperativo e de humildade na reelaboração conceitual e nas trocas, valores necessários ao trabalho coletivo. Ter iniciativa e intuição, gostar de uma certa dose de risco, saber comunicar-se e resolver conflitos e ser flexível. Aprender a fazer envolve uma série de técnicas a serem trabalhadas.

Com as reformas advindas com a Lei 9394/96 e a forte influência da educação francesa e espanhola, Antoni Zabala contribui significativamente com o traçado das diretrizes curriculares nacionais, quando houve uma revisão do que deveria ser considerado como conteúdo e que merecia ser objeto de estudo dos educandos. A partir de então, nos parâmetros curriculares, os conteúdos (aquilo que se deve aprender) passaram a aparecer considerando quatro naturezas básicas: conteúdos conceituais, conteúdos factuais, conteúdos procedimentais e conteúdos atitudinais. A aprendizagem motora é contemplada nos conteúdos procedimentais, que se referem à aprendizagem de um procedimento, regras, técnicas, métodos, destrezas ou habilidades, estratégias, isto é, um conjunto de ações ordenadas e com um fim. Os procedimentos são vistos através da realização da ação, da exercitação múltipla, reflexão sobre a atividade e a aplicação em diferentes situações.

Para a aprendizagem motora estão envolvidas a ativação de determinadas partes cerebrais, tais como o córtex frontal dorso lateral que ativa as funções estratégicas de planejamento das ações motoras e solução de problemas - seu papel planejar quais soluções motoras devem ser implementadas para atingir uma meta ou objetivo.

O córtex parietal posterior, que tem função associada à percepção espacial e à identificação e reconhecimento de objetos processando os estímulos captados pelos sistemas sensoriais e pré-processados no tálamo. Consiste em uma região que transforma a informação visual e de mais sentidos em uma informação motora. Trata-se de uma região que às vezes aparece dentro da classificação motora devido ao fato de ter relação com o movimento, ainda que em outras ocasiões ela apareça entre as áreas sensoriais, pois também tem relação com os sentidos.

No córtex motor superior estão centradas as aprendizagens das sequencias motoras. Sua principal função é a de favorecer o movimento. Então, através dele geramos, mantemos e finalizamos os movimentos. Graças ao córtex motor podemos fazer os movimentos voluntários de forma consciente.

Os interneurônios encontrados apenas no Sistema Nervoso Central, conectam um neurônio a outro. Eles recebem e transmitem informações de outros neurônios (neurônios sensoriais, neurônios motores ou interneurônios). Por fim, os Interneurônios são a mais numerosa classe de neurônios. Eles estão envolvidos no processamento de informação, tanto em simples circuitos reflexos (como aqueles desencadeados por objetos quentes) quanto em circuitos cerebrais mais complexos.

O cerebelo, na perspectiva da aprendizagem motora, tem como função controlar os movimentos voluntários do corpo, a postura, o desenvolvimento de competências e habilidades que permitam um saber fazer com ajuste fino dos movimentos, o equilíbrio, o tônus muscular e a harmonia entre os músculos agonistas (ativos em determinado movimento) e músculos antagonistas (que estão inativos em determinado movimento). Essas funções motoras estão relacionadas, por exemplo, à manutenção do corpo numa linha média, ao equilíbrio, à marcha, à coordenação motora, entre outras.

Dado ao exposto, a motricidade e as aprendizagens motoras podem ser compreendidas como a sucessão de posturas e movimentos divididos em três categorias: movimentos reflexos, movimentos rítmicos e movimentos voluntários. Os movimentos reflexos, de baixa complexidade, têm respostas simples, rápidas, estereotipadas, involuntárias, que são integradas na medula espinhal – de baixa complexidade e evocados por estímulos específicos (defesa). Os movimentos rítmicos, de média complexidade, por meio da geração de contrações esteriotipadas e alternadas da musculatura. Os movimentos voluntários, de alta complexidade, estão presentes no planejamento e na estratégia e é amplamente modulado pela aprendizagem, inclusive as laborativas.

Durante a aprendizagem motora a elaboração dos aspectos táticos é responsabilidade mais direta do córtex motor e cerebelo. E a ativação de interneurônios e motoneurônios que participam tanto da geração quanto das correções dos movimentos, ou seja, a execução do plano motor, é responsabilidade fundamentalmente da medula espinal e de núcleos do tronco cerebral.

Diante da complexidade da aprendizagem motora, parâmetro importante para o desenvolvimento das magnitudes tratadas no domínio psicomotor da taxonomia de Bloom, no saber fazer desenvolvido por Delors enquanto um dos quatro pilares para a educação no século XXI,, e para a apresentação dos conteúdos procedimentais desenvolvidos por Zabala na sua obra “prática educativa: como ensinar”, é salutar o entendimento da neurofisiologia do comportamento motor e suas implicações pedagógicas, para o ensinar por parte do educador e para o aprender por parte do educando.

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