As organizações precisam de poesia

Este vídeo me atravessou de diversas formas. Esbocei um riso mas em seguida veio uma tristeza. Fiquei pensando neste momento delicado onde deixamos o casulo, a bolha protegida e vamos pro mundo. Lembrei na pele de quando cheguei na escola, na memória quando minhas filhas foram para escola. Lembrei de todos os momentos em que cheguei em uma nova empresa para conhecer novos mundos. Sempre havia algum nível de medo envolvido - o mundo é assustador, a princípio. Mas ele pode ser bom. A depender do acolhimento, escuta, cuidado e amor com que nos deparamos vamos dissipando o medo e o transformando em criatividade, colaboração e potência de ser.

Estamos em um momento crucial de retorno aos escritórios ou a um modelo híbrido de trabalho após um período muito peculiar onde vivenciamos dores profundas mas também onde resgatamos a convivência no casulo com toda delícia e dor que isso traz. Estamos mais frágeis, mais sensíveis, mais porosos e a meu ver este estado traz consigo a possibilidade de transformar o status quo. Estar vulnerável é estar mais vivo.

Temos nas mãos a chance de criarmos outro presente e outro futuro nas organizações. Não tenho as respostas de como fazer isso mas desconfio que o ambiente corporativo está carente de poesia. Isso mesmo. Estamos tão hipnotizados pela entrega, mecanizados pela produtividade, embriagados pelos resultados que esquecemos da graça, da cor, do viço, do vigor, do vivo, da vida. São muitas planilhas, PPTs e reuniões de resultados e quase nada de "Arts and crafts" como diz a garotinha do vídeo.

Costumo dizer que quando a prosa não dá conta, recorro à poesia. A palavra poesia em sua raiz grega poiesis, significa criar, fazer. Estes dias descobri um tesouro em um sebo - Amor, Poesia e Sabedoria de Edgar Morin. Maravilha pura! Morin diz que produzimos duas linguagens à partir da língua: a racional que é empírica, técnica e prática e a outra que é simbólica, mítica, mágica. À linguagem racional ele deu o nome de prosa e à linguagem simbólica, poesia.

A vida só em prosa fica literalmente prosaica, banal, repetitiva, sem cor, sem graça, sem tesão. A prosa precisa de poesia para permanecer viva. E vice-versa.

Que tal, na sua próxima reunião de trabalho, ao invés de começar com a agenda, você ousar e começar com versos de Clarice, Pessoa ou Conceição Evaristo? Ou quem sabe você ousa mais ainda e vai com versos seus?