Os 8 Princípios do Inovador Público: Quintessência da Rede de Inovadores

Os 8 Princípios do Inovador Público: Quintessência da Rede de Inovadores

A cultura de experimentação em estado vivo: um ano de Rede de Inovadores

A partir de dezembro de 2018, o LabX tem promovido uma comunidade de práticas, a Rede de Inovadores, que atualmente conta com cerca de 500 membros, permitindo que estejam em interação independentemente da área governativa a que pertençam ou do patamar hierárquico a que estão associados. Os objetivos da Rede de Inovadores passam por criar um espaço seguro para a comunidade de inovadores da Administração Pública, dar visibilidade a casos que estão a transformar o setor público e partilhar as abordagens, metodologias e instrumentos utilizados para inovar. Para tanto, os membros da Rede de Inovadores têm acesso a uma gama diversa de pontos de contacto, que vão desde a consulta de um boletim informativo - LabXpresso, que já conta com 5 edições -, a reuniões informais para partilha de experiências e lições aprendidas – as Oficinas@LabX – e, por último, a integração em programas de mentoria (três dos quais já puderam, aliás, ser apresentadas aos outros colegas da Rede de Inovadores numa Oficina@LabX), em que os colegas contam com o acompanhamento do LabX para promoverem eles próprios experimentação no setor público, através do desenvolvimento de projetos inovadores, sessões colaborativas ou outras atividades participativas. 

Acima de tudo, a ideia é promover o desenvolvimento de competências práticas e a disseminação de uma cultura de experimentação em estado vivo. Por isso se criam oportunidades para que os próprios membros inscrevam na agenda da Rede de Inovadores os seus próprios desafios – são conduzidas regularmente consultas para auscultar propostas de temas para sessões, por exemplo – e para que contribuam com ideias, críticas e sugestões para os projetos dos outros colegas participantes. Foi isso mesmo que sucedeu com o projeto Intranet.gov, em que os colegas promotores desse projeto partilharam as questões que tinham com os outros colegas e reuniram assim propostas que os ajudaram a preparar de maneira informada a continuação do projeto. 

Um compromisso com a mudança

Qualquer trabalhador da Administração Pública pode inscrever-se nesta comunidade, bastando que subscreva a Carta de Princípios do Inovador Público. Ora, este guia para a ação resultou dos contributos dos próprios membros da rede durante uma sessão colaborativa, em que os colegas, usando a metodologia LEGO® SERIOUS PLAY®, tiveram oportunidade de construir em grupo, de maneira colaborativa, a visão que tinham para a Rede de Inovadores, a sua missão e os seus valores. Podendo contar ainda com o influxo das aprendizagens concentradas pela própria atividade do LabX, um aspeto crítico desta Rede de Inovadores é precisamente a autonomia enquanto comunidade de práticas, por exemplo contribuindo para a definição dos seus instrumentos e das suas regras de ação.

Logo numa fase inicial, os membros da Rede de Inovadores foram desafiados a partilhar expectativas e dúvidas e, depois, a melhorar as sucessivas versões do Toolkit para Serviços Públicos centrados no Cidadão, especificamente criado para o contexto da Administração Pública portuguesa. Também na definição dos princípios orientadores, os membros tiveram um papel ativo. Foi nestes oito princípios que convergiram os contributos dados pelos colegas da Administração Pública reunidos pela Rede de Inovadores, tendo adquirido a sua forma definitiva pela combinação com as experiências acumuladas pelo LabX ao longo dos seus dois anos de experiência contínua. Não é suposto serem o equivalente de um novo dogma da Administração Pública. Os oito Princípios do Inovador Público são a quintessência da Rede de Inovadores: a substância ativa que mobiliza os seus participantes. Mais do que princípios abstratos e apenas retóricos, eles destinam-se precisamente a serem operacionalizados nas práticas quotidianas, mesmo as mais correntes e aparentemente insignificantes.

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Imagem - Os 8 Princípios do Inovador Público

Para começar, um inovador público centra-se nos cidadãos e nas empresas. Podemos até não prestar diretamente um serviço a cidadãos e empresas, mas, no fim de contas, é aos cidadãos e às empresas deste país que temos que servir enquanto servidores públicos. Por outras palavras, devemos defender que os serviços públicos sejam desenhados para corresponderem às necessidades e expectativas dos nossos cidadãos e das nossas empresas.

Depois, um inovador público não é só aquele que tem umas ideias originais, é também aquele que contribui ativamente para que aumente a eficiência dos seus serviços públicos, em primeiro lugar da sua instituição e do seu posto de trabalho. O objetivo é que haja uma otimização na utilização dos recursos públicos, que são recursos que dizem respeito a todos nós enquanto trabalhadores - e, obviamente, enquanto cidadãos que também somos.

Um inovador público deve derrubar barreiras à participação. Desde logo, derrubar barreiras à participação dentro das nossas instituições, por exemplo, criando hábitos de trabalho colaborativos entre equipas de diferentes divisões ou departamentos. Derrubar barreiras à participação é também permitir que a Administração Pública portuguesa seja uma Administração Aberta. Portugal é um dos países signatários da administração aberta, que contempla princípios que defendem a integridade, a transparência, a auditoria dos processos, e a participação de cidadãos ao longo de todo o processo de criação ou desenvolvimento de um serviço público.

Nas suas intervenções, um inovador público usa o conhecimento disponível para informar decisões e desenvolver melhores serviços públicos. Não é ignorar olimpicamente o que nos diz o conhecimento existente sobre um certo problema, só porque estamos convencidos de que já sabemos tudo ou temos um bom palpite sobre o que o que vai funcionar como solução. Não. Um inovador público promove uma investigação robusta e aproveita o conhecimento que existe, seja o conhecimento da nossa organização, seja a pesquisa realizada pelo sistema científico nacional, de maneira a que esse conhecimento para informar a tomada de decisões. 

Um inovador público trabalha em colaboração. Esta palavra "colaboração" não tem um sentido despiciendo, porque, entre outras coisas, resume a postura que permite que nós possamos valorizar a diversidade de pontos de vista. Não pensamos todos da mesma maneira o mesmo desafio. Porque num problema público temos múltiplos parceiros que são afetados por eles, temos, sim, que aproveitar de maneira proveitosa essa diversidade: desde a nossa equipa ou outras equipas de entidades públicas até diferentes grupos de cidadãos, os diferentes parceiros que devem ser trazidos para o espaço de debate e devem envolvidos desde uma fase muito precoce dos projetos. 

Ser um inovador público implica testar antes de implementar. Antes de começarmos a implementar uma solução, vamos testá-la a uma escala controlada, com um protótipo ou um piloto, por exemplo. Vamos, desde logo, aprender com a sua concretização, inclusive com os «erros» ou «desvios» que sempre surgem quando se aplica uma ideia ao mundo real, sobretudo quando são inovadoras. Vamos, porém, realizar essa aprendizagem sem comprometer recursos de maneira desnecessária, nem comprometer uma ideia com potencial por causa de um início equivocado. Desta maneira, não só os próprios «erros» e «desvios» se tornam em aprendizagens, como podemos diminuir a margem de risco gradualmente até chegar o momento de implementar a solução definitiva, que estará, por essa altura, muito melhorada em relação à sua versão inicial. 

Um inovador público também se compromete em avaliar para melhorar. Um serviço público deve ser monitorizado depois de ser lançado. Desde logo para se poder integrar as reações, as experiências e as opiniões dos seus utilizadores, dado que todas elas servem para verificar a correta aplicação de recursos no seu funcionamento e para alimentarem, eventualmente, a sua melhoria contínua. Esta iniciativa pode apelar para distintas modalidades de avaliação, desde a avaliação rigorosa do desempenho ou do cumprimento de objetivos em termos quantitativos até à integração de dimensões ditas «qualitativas» da experiência do serviço. Uma cultura de avaliação duradoura e saudável depende desta constante atenção aos serviços públicos.

Porque esta é uma história em contínua mudança, ser um inovador público é estar aberto ao futuro. O que surge hoje em dia como «inovador» pode não o ser daqui a 5 anos, ou menos ainda. Podemos intuir tendências, podemos até tentar antecipar esses desenvolvimentos com instrumentos de visão estratégia – como o foresight, a que temos prestado atenção no LabX -, só que ninguém adivinha o futuro. Podemos, todavia, manter uma atitude de alerta para os desafios emergentes da Administração Pública e para as potenciais soluções que se vêm perfilando à medida que o tempo passa. Mais: devemos aceitar que ser inovador implica assumir a responsabilidade da sua constante superação pessoal decorrente da aceitação de que é impossível «congelar» o curso da história.

«Fazer um balanço» para «tomar balanço»

No passado dia 11 de dezembro, assinalámos o primeiro ano de atividade desta Rede de Inovadores com a organização simultânea de quatro sessões colaborativas, elas próprias demonstrativas da multiplicidade de interesses que aqui convergem. Desde o uso de blockchain pela Administração Pública à integração da participação cidadã no desenvolvimento de políticas públicas, passando pela prototipagem rápida e o uso de modos inovadores de promoção da cultura de trabalho (como o LEGO® SERIOUS PLAY®), a iniciativa contou com a participação ativa de mais de seis dezenas de trabalhadores da Administração Pública. Agora, já depois de cumprir esse aniversario, a Rede de Inovadores está concentrada em encontrar um modo orgânico de continuar a crescer sem perder a densidade dos seus relacionamentos pessoais e profissionais. Se vimos que a Rede de Inovadores serve como plataforma de referência que garante uma continuidade ainda que os seus membros mudem de serviços, pela mobilidade entre entidades por exemplo, a sua nova linha de horizonte abrange agora os pontos agregadores que podem servir para suportar a multiplicação de fóruns e atividades ou a capilarização de ligações pela Administração Pública adentro. A resposta a este desafio, porém, será sempre dada pelos próprios membros da Rede de Inovadores. O tempo de uma rede assim, que deve estar em constante reinvenção para não se tornar supérflua, tem que ser sempre o futuro – e os desafios que implica estar sempre a recomeçar a construi-lo a partir do agora.

Boas leituras!

Equipa LabX

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