Os alimentos ultraprocessados prejudicam a nossa saúde e agridem o meio ambiente. E vai ficar por isso mesmo?
Notícias e reportagens, baseadas em relatórios de pesquisa e em alertas de entidades que defendem os consumidores (Idec, Ministério da Saúde, por exemplo), têm reforçado uma realidade incontestável: os alimentos ultraprocessados representam um risco enorme para a nossa saúde.
Segundo pesquisas recentes, eles já constituem parcela significativa da dieta alimentar das crianças brasileiras menores de 5 anos, atraídas por palhaços que proclamam empresas de fast-food, anúncios em rádio e televisão e, inclusive, pela presença agressiva destes produtos em games, ou desenhos animados que são acessados pelos nossos filhos e netos.
Infelizmente, os prejuízos causados por eles não se resumem à saúde, mas também ao meio ambiente, o que já seria suficiente para que os governantes, os parlamentares e o poder judiciário, efetivamente comprometidos com os interesses da população, dessem um basta a esta agressão condenável.
Em nome da chamada “saúde planetária”, deveríamos estar mobilizados para impedir que este consumo se amplie nos próximos anos, visto que ele favorece a adesão a uma alimentação não saudável e a um processo de produção que degrada o meio ambiente.
Entrevista veiculada pelo “Jornal da USP no ar”, que integra a Rede USP de Rádio (https://jornal.usp.br/editorias/radio-usp/jornal-da-usp-no-ar/), com o pesquisador Leandro Cacau, do Nupens - Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, menciona estudo realizado por esse Núcleo, com a participação do professor, no qual fica evidenciada a relação direta entre alimentos processados e agressão ao meio ambiente.
Segundo ele, “a produção desses alimentos envolve processos industriais complexos e o uso de ingredientes como aditivos químicos, que, a longo prazo, podem causar desequilíbrios ecológicos e aumentar as emissões de gases de efeito estufa” e, por isso, ao lado de especialistas de todo o mundo, ele recomenda é optar por produtos naturais.
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A dieta planetária, comprometida com a sustentabilidade e a qualidade de vida dos cidadãos, está validada por uma publicação que é referência para todos nós, o Guia Alimentar para a População Brasileira, que, em suas diretrizes, tem reforçado, ao longo do tempo, a necessidade de redução do consumo de ultraprocessados e de uma maior presença de alimentos naturais na mesa do brasileiro.
A solução para enfrentar esse desafio, que ameaça a nossa saúde e dificulta a adesão à dieta planetária, consiste em implementar políticas públicas competentes que contribuam para conscientizar a população sobre os riscos inerentes ao consumo abusivo de alimentos ultraprocessados. Além disso, é indispensável combater o lobby agressivo de empresas nacionais e internacionais que auferem lucros gigantescos à custa da saúde e do meio ambiente.
Mais ainda: é importante conseguir o apoio dos meios de comunicação que, de forma voluntária ou intencional, priorizam o aumento de suas receitas, dando guarida à divulgação irresponsável dos ultraprocessados.
A sociedade deve estar consciente e vigilante para vencer, com coragem e determinação, esse desafio. A omissão e a cumplicidade de agências e veículos de comunicação e dos poderes constituídos merecem o nosso repúdio.
Pós doutorado em Comunicação Social
1 mProfessor Wilson, esse assunto tem sido debatido em várias esferas: saúde, alimentação saudável, políticas públicas, mas minimamente na educação alimentar. Avaliei o Guia Alimentar para a População Brasileira, que foi um política pública, quando fiz meu terceiro pós doutoramento, pela ECA/USP. Um dos resultados já esperado, creio eu, é que as nutricionistas que o usavam afirmaram, durante a entrevista, que os pacientes com DCNTs não entendiam os termos ali usados. Um erro crasso, os responsáveis pela elaboração do Guia, não consideram o público alvo, quem utiliza os serviços públicos de saúde no Brasil. Pior ainda. O Guia era destinado a toda população brasileira: do Monte Caburaí, em Roraima, ao Chuí.