Os Anormais dos Publicitários

Os Anormais dos Publicitários

O “normal” é algo perigoso.

Distinguir o “normal” do “anormal” sempre foi uma das principais questões das ciências humanas. Na psicologia, o desafio é definir o que é a normalidade e as suas implicações para a saúde mental de indivíduos e da sociedade em geral.

“Será que sou normal?” é, aliás, das perguntas mais angustiantes e comuns no ser humano e no publicitário. Mas por razões diferentes.

Enquanto que a sociedade sempre determinou que ser “normal” é bom, já o estereotípico publicitário acha que ser “normal” é sinónimo de banal e antónimo de criativo. Por isso quanto mais “anormal” melhor.

Falta-nos então descobrir o que é “normal” e o que não é.

O problema é que a normalidade é muitas vezes determinada de forma estatística. Ou seja, se a maioria das pessoas dentro de uma sociedade tem o mesmo comportamento, ele é considerado “normal” por todos nessa sociedade.

Por sua vez, a sociedade faz pressão a todos os indivíduos para se comportarem dessa forma “normal”. Os que pisam fora da linha são recriminados pelos pares, de forma a manter o sentimento de segurança e paz dado pela homogeneidade do grupo.

No entanto, um comportamento ser “normal” não quer dizer que ele seja eficaz ou mesmo saudável.

Por exemplo, é considerado “normal” que uma agência publicitária, ao contrário dos trabalhos “normais”, não tenha horas de saída. Que a força criativa faça todas as horas necessárias, noitadas e directas para entregar um trabalho - seja uma campanha 360 ou um e-mail marketing.

Devido à sua natureza irreverente e à sua vontade de fugir à carneirada, há inclusive criativos que se orgulham um pouco disto. Ajuda-os a sentir que pertencem a uma elite de profissionais “especiais” que não se amarram por aquilo que é expectável na sociedade em larga escala.

Claro que, por outro lado, estas horas não existem de um ponto de vista financeiro ou humano. Os trabalhadores não ganham mais pelas suas horas de trabalho extra, dedicadas a fazer com que as empresas envolvidas no cliente e na agência (e uma agência de publicidade, por muito que custe encaixar na cabeça de alguns, também é uma empresa) façam alguns trocos a mais ao mesmo tempo que, de forma paradoxal, não cobram valores reais. Por sua vez, isto é tudo considerado normal dentro da sociedade publicitária - muito provavelmente porque dá jeito aos que têm mais poder dentro das ditas empresas.

Poder-se-ia dizer que a existência de tal (a)normalidade é, no melhor dos casos, um sinal de uma profunda incompetência instalada em todos os aspectos do funcionamento de uma agência como negócio. No pior dos casos será uma premeditada ganância e despreocupação pelos seres humanos que a constituem - porque todos sabemos que o trabalho de um criativo mal se pode chamar de trabalho, é mais uma brincadeira que nem devia ser paga. “Eles gostam disto”.

Mas para quase todos os casos, é uma questão das pessoas terem sido convencidas, ao longo das gerações, que tudo isto é normal. Isto dentro de uma sociedade publicitária que supostamente se orgulha de ser tudo menos normal.

O “normal” é, deveras, perigoso.



É normal ver mais disto n'O Pubsicólogo.

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