Os bastidores de uma carreira vista como "meteórica"​ – a verdade de como me senti nos primeiros dois anos como gerente

Os bastidores de uma carreira vista como "meteórica" – a verdade de como me senti nos primeiros dois anos como gerente

Eu tinha 26 anos quando fui promovida a gerente. Pulando alguns passos da suposta “ trilha de carreira”, e sendo meu primeiro papel oficial a frente de uma área, tendo um grupo de cpfs sob minha responsabilidade.

Para completar o pacote ainda foi para uma área vista como uma das mais complexas e “pesadas” da companhia. Um time relativamente grande de 25 pessoas, rodando turnos 24h 7 dias por semana, responsável por tocar o bumbo da operação ferroviária.

Para completar ainda mais, isso foi em agosto de 2020, no auge da pandemia. Foi também quando sai pra valer da casa dos meus pais.

Até hoje algumas pessoas me procuram para pedir conselhos de carreira. É comum eu ouvir dizerem que admiram minha trajetória, frases gentis como: Qual são suas dicas para crescer rápido assim? Você pode ser minha/meu mentor? Qual o segredo? Como faço para ter uma trajetória parecida?

Essas perguntas sempre me incomodaram porque como todos devem imaginar, não foi tão fácil quanto parece.

Mas além do óbvio, me incomodava porque eu não tinha uma resposta de qual era o segredo. Talvez até recentemente nem eu mesma via o tamanho do desafio que passei.

Hoje, pouco mais de 2 anos depois desta grande mudança, e já por alguns meses em uma outra área, crio coragem para expor “qual foi o meu o segredo”.

O segredo é que eu de fato não estava preparada e não tinha ideia do que estava fazendo.

Simples assim.

E a verdade é que nós normalmente não estamos mesmos preparados para o início de qualquer desafio e quase nunca sabemos o que estamos fazendo. Então vamos normalizar isso. Vamos normalizar que independentemente da idade, experiência, o que for, todos nós estamos enfrentando uma batalha que ninguém imagina.

Ok, mas essa revelação com certeza desanimou qualquer ambicioso de plantão. Então vou tentar contar um pouco da experiência que tive, e dar algumas dicas – aqui me arrependo por não ter escrito um diário ou algo parecido, porque certamente não vou conseguir me lembrar de tudo. Mas vamos lá.

Quando meu então chefe me convidou para o cargo, eu não entendi e minha ficha demorou a cair. Não entendi por que eu estava sendo cotada, afinal, tecnicamente eu não conhecia muito sobre o tema. Ele precisou me explicar sobre o que ele buscava para a área –reconstrução da credibilidade da área através de relacionamento e integração entre times - e qual perfil ele acreditava ser necessário. E então entendi que talvez, quem sabe... lá no fundinho tivesse algo a ver comigo e ganhei 1% de confiança.

E aqui vem a #Dica nº1: toda vez que você for selecionado para um desafio, acredite que há um motivo para tal. E se de imediato não reconhecer, tente enxergar as suas características no perfil procurado, se enxergue no papel.

Para mim, a parte que fiquei mais nervosa de toda a mudança foi a comunicação para a empresa. Eu queria saber como iriam agir, o que iriam achar, tinha a certeza que todos iriam ficar chocados e dizer que seria uma loucura, que eu não daria conta. Clássico comportamento de um perfil que se importa bem mais do que deveria com a opinião alheia.

#Dica nº 2 (principalmente para mulheres): aprendi que a cobrança de sermos ou não capazes vem muito mais de nós mesmas do que dos outros. Há um certo preconceito e menosprezo da nossa capacidade? Talvez, mas sempre que se sentir assim, pare para pensar se não é a sua cabeça lhe dizendo, e não os outros. Para minha grata surpresa, tive muito mais apoio de pessoas que tinham certeza que eu era a escolha certa do o contrário.

Cada novo desafio possui suas características, pessoas chaves envolvidas, temas técnicos complexos. Entenda quem são as pessoas que você precisa se aproximar, quem são as pessoas que vão mais te ajudar. E PEÇA AJUDA.

Não há maior ato de coragem e humildade do que dizer que precisa de ajuda, além de ser uma poderosa forma de criar laços com as pessoas.

#Dica nº 3: seja humilde para aprender e conquistar sua rede de apoio. Aproveite os 3 primeiro meses em que todos ainda são tolerantes e pergunte o que quiser, use e abuse do seu benefício de ainda ser café com leite

Falando em humildade, cuidado com a pressão (também normalmente da nossa cabeça) em querer aparecer, opinar, mostrar serviço e afins no início do novo cargo. Afinal, como novo gerente precisamos ter um posicionamento sempre, certo? Errado, e eu errei neste ponto. Errei em querer sempre dar opinião e centralizar assuntos em mim. Como resultado, não me posicionei bem em várias reuniões e afastei meu time no início, pois eles sentiam que eu estava levando todo o crédito e não confiavam em mim.

#Dica nº 4: Siga aproveitando do seu benefício do café com leite e não tente se posicionar em tudo logo de início. Aceite que você ainda não sabe todas as respostas

#Dica nº 5: independentemente de qual for a relação com seu time direto, nunca, mas nunca mesmo, tome crédito por algo que eles fizeram.

Não se enganem achando que tudo foi se resolvendo facilmente e que identifiquei essa falhas rápido. Tive meus dias e dias, meses bons e meses não tão bons.

Nos meses não tão bons, por exemplo, aprendi e nunca mais liberar mais de uma pessoa do time de férias ao mesmo tempo. Erro de principiante? Com certeza.

O ano foi passando e eu trabalhava muito, muito mesmo. Vivo dizendo isso por aqui: não tem almoço grátis e isso não é surpresa para ninguém. Abri bastante mão do meu lado pessoal mesmo minha família sendo algo tão fundamental para mim. Por isso, me desdobrei demais para estar presente tanto em um trabalho 24h quanto com a minha família e com meu namorado, todos extremamente pacientes comigo, diga-se de passagem. Nessa, meus amigos acabaram ficando mais de lado, e hoje sinto por algumas amizades que acabaram esfriando.

Também teve dias que chorei em casa dizendo que quem achou que eu não estava pronta estava certo, realmente era algo grande demais para mim. Era um choro até que saudável para desabafar por que a verdade é que no dia seguinte eu não tinha lá muita escolha, era acordar cedo e tentar de novo. E de novo. E de novo.

Até que tudo foi ficando mais natural. Paciência, consistência, coragem. Repeat.

 Meu segundo ano na cadeira foi totalmente diferente - eu estava mais confiante, mais leve. Para essa mudança, atrelo a alguns fatores:

I. Meu gestor incrível, incansável e paciente. Me ajudou todos os dias. Me deu todos os feedbacks bons, e ruins. Me deixou “apanhar” um pouco sim, mas só para me tornar mais forte.

#Dica nº 6: enxergue seu gestor como um coach. Use e abuse dos seus conselhos. Faça perguntas diretas que vão realmente te ajudar a progredir: “como você escolhe as reuniões a participar?”, “estou com dois candidatos para uma vaga, quais requisitos você usuária para desempate?”, “você acredita que fui clara no posicionamento sobre x na reunião y?”. Sempre bom lembrar que se você está pedindo um feedback, é bom aceita-lo com coração aberto.

II. Ao time que construí. Como gerente, indiscutivelmente sua função principal é construir um bom time, alinhado com seus objetivos, e ajudá-los a serem melhores a cada dia. Eu tive claramente dois momentos como gerente: com um time precisando de mudanças e em construção vs com um time robusto, alinhado e em quem eu confiava plenamente. Este segundo momento foi uma virada de chave para mim como líder, para eles como profissionais e para a área que ganhou muita credibilidade.

Hoje, olhando para trás, o que mais me orgulho sem a menor dúvida foi do time que deixei.

III. A maturidade que ganhei. Levou tempo, mas ganhei.

#Dica n º7: não tente forçar uma maturidade que ainda não está em você. Se permita errar, demonstrar mais emoções do que deveria,  ter algumas belas discussões por aí, se arrepender...

Me desculpem os impacientes (me incluindo nessa), mas maturidade leva seu tempo.

Paciência, consistência, coragem. Repeat.

#Dica nº8: tão importante como mergulhar de cabeça no início, é a sabedoria de qual a hora para sair.

Sabe aquela história dos atletas saírem no seu auge? É sábio sair no seu “auge” de uma área também.

Eu soube minha hora de sair através de dois sinais:

I. Meu time já estava tão alinhado e tão capaz que precisava de mais espaço. Precisavam da minha cadeira para continuar crescendo. E não há nada mais gratificante do que entregar a sua cadeira para alguém que você ajudou a evoluir.

II. Na ansiedade já de um novo desafio, minha paciência com alguns temas já não era mais a mesma e eu não conduzia com a mesma leveza. Fique atento a esse momento, e seja sua melhor versão até o final. Trago comigo o arrependimento e aprendizado de algumas últimas discussões desnecessárias.

E por último, #Dica nº 9: não imagine que o próximo desafio será mais fácil.

Também errei achando que depois de tudo que aprendi nestes dois anos, minha próxima cadeira seria mais simples. Afinal, nunca estamos 100% preparados não é mesmo? Mas nesse papel estou somente a 6 meses e fica para uma próxima onda de coragem para compartilhar.

Por enquanto seguimos assim:

Paciência, consistência, coragem. Repeat.

Parabéns Manu! Texto incrível, cheio de verdades! Não posso deixar de te parabenizar também por sua carreira, por sua coragem, por sua persistência! Vc é, de fato, uma mulher e profissional sensacional!

Sofia Pimenta Campos

Deloitte Innovation & Ventures | MsC in Entrepreneurship and Innovation at USP | Driving & building impactful ventures

2 a

Manu, quantas dicas valiosas em um tema extremamente necessário! Parabéns pela coragem de ser vulnerável e pela trajetória incrivel!

Cabeça daquela veterana dmiravel do pensamento moderno com demonstração da vulnerabilidade que aponta as boas oportunidades e a mentalidade que faz crescer e crescer...

Giovanni Trombini Taques

Partner at Trombini, Slaviero, Mombelli & Waller Advogados

2 a

Show Mano!!

Luiz Teixeira

Armazenagem e Operação Portuária | Saúde e Segurança do Trabalho | Sistema de Gestão Integrada SGI | Saúde, Qualidade e Meio Ambiente

2 a

Espetacular. Um dos melhores textos lidos nos últimos tempos. Parabéns. Exemplo

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