Os benefícios da aplicação da telegestão da iluminação pública
1. Panorama atual brasileiro
Como várias cidades brasileiras têm já possuem iluminação 100% LED. Essa realidade favorece a destinação dos recursos para a implantação massiva de tecnologia na gestão do serviço de iluminação pública por meio de sistemas de telegestão. Desta forma, os sistemas de telegestão estão sendo e serão implantados nas cidades de forma a realizar telemetrias de grandezas elétricas dos ativos de iluminação pública. Dessa maneira, serão gerados dados preciosos que, a partir de ferramentas analíticas de software, serão transformados em informações que facilitarão o processo de tomada de decisões por parte dos gestores do serviço de iluminação pública. Com isso, haverá ampliação da eficiência na manutenção proatividade diante de problemas identificados via software e uma maior economia com o custeio deste serviço público – quer seja com a redução do consumo em razão da dimerização, quer seja com a otimização das equipes operativas e de ronda/fiscalização da iluminação. Desta forma, podemos definir a telegestão da iluminação como sendo o processo de gestão realizado a partir de telemetrias das grandezas elétricas efetuadas nos equipamentos de iluminação pública. Devido à ausência de normas técnicas específicas que tratam do tema “telegestão” no Brasil, a ABCIP (Associação brasileira das concessionárias privadas de iluminação pública) formou uma comissão composta por técnicos das principais empresas de tecnologia do segmento de iluminação pública – a BottomUP Technology participou desse processo tendo como representante o seu CEO, Frederico Braga, e a elaboração de tal guia vem para auxiliar o gestor de iluminação pública no processo de definição de tecnologia, funcionalidades, requisitos de desempenho, entre outros requisitos e funcionalidades necessários para a adoção de um bom sistema de telegestão. O documento “Telegestão em iluminação pública – Guia para especificação técnica, edição 02 – 2023” exige, entre tantas recomendações, a aplicação de tecnologias e soluções que possuam homologação, desta forma, antes de especificar ou adquirir quaisquer sistemas ou equipamentos de telegestão, destaca-se a importância de analisar, junto à ANATEL e ao INMETRO, se há homologação das soluções. Ao lado disso, destaca-se a importância de avaliar e ensaiar novamente os equipamentos adquiridos de forma amostral quando do recebimento dos lotes definitivos. A auditoria e a fiscalização por parte dos contratantes serão a melhor solução para garantir a aplicação de uma boa tecnologia e a seleção de fabricantes comprometidos.
2. Benefícios da aplicação da telegestão na iluminação pública
Visto como um serviço que pode gerar redução de custos com a dimerização e com as demais atividades relacionadas à obtenção de receitas acessórias, a telegestão é muito mais do que isso: é uma ferramenta que pode auxiliar o gestor no processo de garantir a continuidade, qualidade e performance do serviço de iluminação pública, em especial a partir das telemetrias realizadas. As telemetrias das grandezas elétricas auxiliam o gestor de iluminação pública no processo de tomada de decisões. Vejamos, então, alguns dos benefícios obtidos a partir do uso de sistemas de telegestão:
a) Estabelecimento de padrões de dimerização: É possível estabelecer padrões de dimerização nas vias públicas da cidade a partir da aplicação de dispositivos de telegestão nas luminárias com tecnologia LED. É bem verdade que há necessidade de acompanhar o fator de potência de forma a evitar um afundamento desta grandeza, mas desde que acima de 0,92 é possível dimerizar as luminárias em momentos em que há fluxo reduzido de pedestres, ciclistas e veículos nas vias públicas da cidade, bem como nos momentos em que ainda há luz solar de forma que não há necessidade de acionamento com 100% da capacidade nominal das luminárias. Essa técnica permitirá uma eficiência energética ainda maior e possibilitará aos cofres públicos uma economia financeira com os custos referentes ao consumo energético dos ativos de iluminação pública.
b) Telemetria do consumo energético (kWh): Existem duas formas de realizar o faturamento de energia elétrica de um ponto luminoso de iluminação pública:
A primeira é o faturamento medido, que se dá através do consumo registrado nos equipamentos de medição instalados pelas próprias distribuidoras de energia elétrica do Brasil. Esses equipamentos registram todo o consumo energético, imputando ao município faturamento indevido quando há ligações clandestinas em circuitos exclusivos de iluminação pública.
A segunda forma de faturamento se dá por meio do método por estimativa, previsto na Resolução n° 1.000/2021 da ANEEL. Tal método leva em consideração a quantidade de pontos, a tipologia de lâmpada, o tempo estimado de uso, a potência do conjunto luminoso e a quantidade de dias do mês. Este método não leva em consideração a latência da manutenção de iluminação pública e, portanto, pontos que ficam acesos indevidamente durante o dia e que ficam apagados indevidamente durante a noite serão faturados como se funcionassem perfeitamente durante o ciclo de faturamento.
Sendo assim, os sistemas de telegestão se apresentam como a alternativa perfeita, uma vez que poderão informar com fidelidade o real consumo dos equipamentos de iluminação pública, independentemente de problemas de manutenção.
c) Telemetria da tensão (V): Como os relés de telegestão podem efetuar a telemetria da tensão, é possível fazer o monitoramento nos terminais da luminária. Desta forma, situações de subtensão e sobretensões permanentes serão registradas pelo sistema, que poderá, por meio de alertas e de relatórios, informar ao gestor de iluminação pública acerca de tais problemas. Assim sendo, o gestor poderá agir rapidamente, enviando equipes técnicas para evitar a queima precoce dos equipamentos de iluminação.
d) Telemetria da corrente elétrica (A): É possível monitorar a corrente elétrica que flui através das luminárias e dos circuitos exclusivos. Desta forma, é possível emitir alertas quanto ao mal funcionamento das instalações, bem como é possível avaliar o status de cada luminária ou circuito exclusivo do parque de iluminação, pois é possível identificar se as luminárias estão acesas indevidamente durante o dia ou apagadas indevidamente durante a noite. Logo, a telemetria auxiliará no estabelecimento de uma rotina de manutenção preventiva na iluminação.
e) Telemetria da potência (W): A auditoria nos ativos de iluminação pública precisa ser permanente, em especial no comissionamento quando do recebimento de lotes de luminárias de LED, o sistema de telegestão, ao realizar a telemetria da potência da carga, informará ao gestor e o apoiará na auditoria e fiscalização quanto às características dos equipamentos de iluminação.
f) Telemetria do fator de potência (FP): As luminárias com tecnologia LED, bem como os sistemas elétricos em geral, devem apresentar um FP igual ou superior a 0,92, pois essa grandeza determina o quanto de potência aparente deve ser fornecida pelo sistema elétrico para produzir uma determinada potência ativa. É importante frisar que altos percentuais de dimerização impactam significativamente numa redução do FP. Sendo assim, o gestor poderá manter seus circuitos exclusivos de IP com fator de potência dentro dos limites normativos evitando que as distribuidoras cobrem multas por FP abaixo de 0,92.
3. Benefícios que extrapolam o âmbito da iluminação pública
Os benefícios da telegestão da iluminação pública não param por aí. É possível perceber o quanto a iluminação pública, na realidade brasileira, contribui para uma melhor percepção de segurança, para uma maior acuidade visual. Como diz Frederico Braga, CEO da BottomUP Technology, “A telegestão se apresenta como a porta de entrada para a digitalização das cidades inteligentes e integração dos serviços públicos”. Vejamos:
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a) Segurança pública: A atuação dos sistemas e do serviço de segurança pública, tais como: rondas de equipes de campo, estabelecimento de postos físicos de policiamento, guardas e patrulhas da cidade, câmeras e sistemas de monitoramento é muito mais efetiva na identificação de meliantes quando os ambientes estão bem iluminados. O mesmo pode ser dito sobre o quanto a iluminação pública, pois contribui para a ocupação dos espaços públicos em períodos noturnos e para o desenvolvimento da economia local. Esses fatores fazem com que haja uma minimização das ocorrências de ações de criminosos nas cidades. Diante disso, a telegestão atua como um sistema que permite ao gestor garantir uma maior continuidade e confiabilidade do sistema de iluminação e se torna uma ferramenta essencial que contribui para a melhoria da segurança pública.
b) Redução de acidentes: Segundo o Relatório de Status Global em Segurança Viária (2018) da Organização Mundial da Saúde (OMS), os acidentes de trânsito podem custar cerca de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) de países de baixa ou média renda, como o Brasil.
De acordo com o Conselho Federal de Medicina, entre 2009 e 2018, o Sistema Único de Saúde (SUS) gastou quase R$ 3 bilhões apenas com acidentes de trânsito. A Escola Nacional de Seguros calculou em 2017 a economia que seria gerada pela não interrupção do trabalho das vítimas se o acidente houvesse sido evitado e contabilizou um total de R$ 199 bilhões perdidos com acidentes de trânsito.
Bem sabemos o papel crucial que a iluminação pública possui no âmbito de mitigação dos acidentes de trânsito. Vias mal iluminadas ou que não possuam iluminação pública proporcionam uma maior probabilidade de ocorrência de acidentes tendo em vista que reduzem a acuidade visual do condutor frente aos ciclistas, objetos, pessoas e animais que trafegam ao longo dos passeios e vias. Dessa forma, podemos inferir que a continuidade do serviço de iluminação pública (o qual pode ser potencializado e otimizado a partir da adoção de sistemas de telegestão) contribui decisivamente para a redução dos índices de sinistros de trânsito no período noturno.
Iluminação pública inteligente salva vidas!
c) Viabilização de conectividade com outros dispositivos inteligentes: A telegestão é uma ferramenta poderosa quando falamos sobre atividades relacionadas à iluminação pública e que podem trazer enormes benefícios para a administração pública e concessionárias de IP – como as tão conhecidas receitas acessórias. Pelo Brasil, já temos visto iniciativas de implantação de sensores de estacionamento, sensores de drenagem e alagamentos, sensores climáticos (com a disponibilização de conectividades como IoT, Wi-fi e BLE) e tantos outros usos que têm encontrado na rede de comunicação inteligente formada pelos dispositivos de telegestão da iluminação pública o principal aliado para o seu desenvolvimento e para a formação das cidades inteligentes.
Como enfatizado frequentemente pelo Diretor Comercial da BottomUP Technology, Moisés Silva, “a digitalização das atividades de uma cidade é o primeiro passo para torná-la inteligente, o que ocorrerá com a integração da gestão operacional dessas atividades, potencializando assim os benefícios ao munícipe.”
4. Conclusão
Portanto, é possível perceber o quanto a utilização dos sistemas de telegestão auxilia o gestor de iluminação pública na execução de suas atividades. Os benefícios que se iniciam com a geração de dados técnicos, que podem ser transformados em informações e, consequentemente, podem favorecer o processo de tomada de decisão, extrapolam essa realidade e trazem inúmeras vantagens diretas à administração pública – fortalecendo a digitalização da gestão e acelerando o estabelecimento das bases de uma cidade inteligente.
Pós-graduado em Engenharia Elétrica,
Especialista em iluminação pública e
Sócio do Escritório de Iluminação.