Os conhecimentos que não mudam com o tempo
No ambiente tecnológico, quando falamos em conhecimento muitas vezes ele está relacionado a habilidades técnicas e instrumentais. Contudo, o conhecimento técnico por si só não garante a eficiência da sua aplicação, uma vez que por trás dele é necessário ter alguém consciente de como e quanto utiliza-lo. Sendo assim, como podemos adquirir conhecimento necessário para utilizar corretamente as ferramentas disponíveis e promover inovação nos ambientes onde estamos inseridos?
Há uma semana comecei um curso online na Interaction Foundation Design e fiquei fascinado pelo discurso de abertura da professora que dizia que o curso não me daria novas ferramentas para trabalhar, ao contrário o curso me daria conhecimento sobre o qual o conteúdo não muda. Isso significa que, por mais que a tecnologia venha a mudar o que é essencial para se trabalhar com inovação não muda.
Isso me chamou a atenção e foi ao encontro do que eu vinha percebendo há muito tempo. A minha tentativa de aprender novas técnicas o tempo todo seria uma grande frustração a curto prazo, pois técnicas surgem a todo momento e é impossível saber tudo!
Um pouco antes disso, há uma ano atrás eu estava fazendo um curso de facilitação do Programa Germinar, que tem como base a antroposofia de filósofo Rudolf Steiner. Lá também aprendi que o homem é um ser integral, possuindo como qualidade anímica o: pensar, sentir e o querer. Portanto, segundo a antroposofia, o homem é formato de uma integralidade que o constitui e que não pode ser olhado parcialmente uma vez que ele é muito mais complexo do que imaginamos.
O que isso tem a ver com inovação? Tudo! Uma vez que atualmente entendesse ser fundamental colocar o homem no centro de todo desenvolvimento tecnológico. Não é mais aceitável considerar os problemas de maneira isolada ou parcial, sem ter um olhar para todos os atores envolvidos na questão com suas individualidades. Por isso, o viés holístico pode fazer toda diferença na busca pela inovação.
De que serve construir arranha-céus, se não há mais almas humanas para morar neles?"- Erico Veríssimo.
A inteligência e a sabedoria
Antes de seguir para a lista de conhecimentos que não mudam com o passar do tempo, eu gostaria de abrir um paralelo para entendermos a diferença entre a inteligência e a sabedoria, e o por qual razão a máquina nunca substituirá o homem.
Se perguntarmos para uma pessoa se ela se acha uma pessoa inteligente; por quê? é bem provável que ela diga que sim e relacione a sua resposta a algum resultado nos estudos ou êxito no trabalho. Mas se você perguntar se ela se considera uma pessoa sábia; por quê? a reação dela será outra, provavelmente fará uma grande pausa e a dúvida pairará no ar.
Isso se deve ao fato de que a sabedoria é algo mais profundo do que a inteligência, ser sábio é algo que demoramos para adquirir. Geralmente identificamos esta característica em pessoas mais velhas. Mas não precisa ser sempre assim, é possível ser uma pessoa sábia muito antes dos primeiros fio de cabelo branco aparecerem.
Uma máquina, pode ser extremamente inteligente, capaz de fazer cálculos complexos em segundos e processar milhões de dados. Porém, sem uma pessoa por trás do sistema “dizendo” quando ele deve tomar uma ação, ela continuará sendo apenas uma máquina, sem o discernimento fundamental que envolve uma decisão. Se a ação indicada estiver errada, a máquina repetirá o erro zilhões de vezes, eficientemente errado.
Relacionamos esta característica das máquinas e computadores à palavra francesa "savants", que é utilizada para identificar pessoas com alta capacidade de aprendizado ou popularmente conhecidas como "super dotadas". Embora estas pessoas sejam extremamente inteligentes, em alguns casos elas possuem grandes dificuldades de interação social. Em certa medida, os computadores são comparados aos savants, pois mesmo muito inteligentes não possuem o senso fundamental para a utilização da inteligência, a sabedoria. Para tudo correr bem, inteligência e sabedoria tem que “andar juntas”.
O enigma do homem se revela no contato com o outro. — Rudolf Steiner.
Conhecimentos que não mudam
Somos certamente influenciados por aquilo que nos rodeia, e por isso fazemos julgamentos e tomamos decisões - muitas delas decisivas para nossas vidas, baseados em ideias superficiais. Para exercitarmos o uso da inteligência junto com a sabedoria e adquirirmos conhecimentos que não mudam, eu listei a baixo 8 tópicos que considerei importantes para o desenvolvimento pessoal.
SOMOS TODOS IGUAIS
O tempo e as viagens que fiz por aí me mostraram que, não importa qual a sua origem, sua religião, ou como foi sua criação. Os acontecimentos que ocorrem no presente, terão os mesmos efeitos no dentro de nós. Sentimos basicamente as mesmas coisas: frio ou calor, medo ou conforto, alegria ou tristeza.
NOSSA AUTOCONSCIÊNCIA
Apesar de sermos todos iguais, somos diferentes de qualquer outro animal na natureza. Temos a autoconsciência que nos permite dizer “Eu” de nós mesmos. Por isso somos dotados de vocações, talentos e determinações. Onde reside nosso senso de missão e as nossas mais profundas aspirações de vida. Respeite isso!
COMO FAZEMOS ESCOLHAS
Somos capazes de tomar decisões complexas, de fazer escolhas e julgar entre o certo e o errado. O certo e o errado por exemplo, é impossível para qualquer inteligência artificial alcançar ou processar sem que antes não tivesse sido inserido em sua base.
NOSSA CAPACIDADE CEREBRAL
Aqui outra grande diferença entre o cérebro e qualquer tecnologia existente, é que o cérebro é capaz de aprender coisas novas sem a necessidade que as anteriores sejam descartadas, deletadas ou enviadas para “lixeira”. Já pensou? Nenhum processador é tão poderoso quanto o cérebro humano!
A FORMA COMO APRENDEMOS
Segundo a antroposofia, a vida é dividida em ciclos 7 em 7 anos, setênios, e a cada ciclo a pessoa tem a oportunidade de aprender de maneira diferente. Se antes, quando criança, aprendíamos por associação, depois queremos descobrir nosso próprio mundo com o tato. Já adulto, aprenderemos somente aquilo que faz sentido para nós.
NOSSA PERCEPÇÃO DE MUNDO
Aqui também nos apoiamos nos setênios, os ciclos da vida, para explicar como nossa percepção muda com o tempo. Se antes repetíamos tudo que víamos e ouvíamos e éramos seres mais táctil, seres fortemente influenciados pelas externalidades. Chega um certo pronto da vida que os processos internos, aqueles que remetem a autenticidade são muito mais interessante para nós.
ANTIPATIA E SIMPATIA
O pessoa com pouca consciência das suas atitudes geralmente percorre o seguinte caminho: ela percebe, cria um conceito (mesmo que inconsciente), simpatiza ou antipatiza e toma uma decisão impulsiva. Já uma pessoa consciente e integral, ao contrário, percorre o caminho do olhar e da percepção, cria um conceito (consciente), tem empatia, analisa os fatos, pondera, toma a decisão e vai para a ação responsável.
Há ainda outros conhecimentos que não estão listados aqui que poderiam preencher uma vasta lista, como por exemplo: a maneira como fazemos associação, como distinguimos coisas, sobre os nossos temperamentos e etc. Esses conhecimentos não mudam com o tempo ou nem dependem de uma tecnologia para existir.