Os esquadroes da morte e a liberdade de imprensa

Iam quase para as sete horas da minha insignificância e, o engarrafamento no meu celular se fazia presente. Nada importava-me senão o caminho para Bairro da Liberdade outrora bairro professor Silva Cunha. Parei no entreposto, voltei olhar para o celular as esguelhas, uma mensagem bem nítida no ecrã do meu celular aparecia: Cuidado com a tua Língua! Nos dias seguintes andei ferozmente de loja em loja a procura de produtos dentífricos e não encontrei um para resolver o meu problema local. Andei pelas ruas e os gai gai do mutsua ao chamanculo disseram-me o mesmo de outras formas:- Essa tua frustração de escrever não te vai levar a lado nenhum. 

Parei na contra-mão. Noémia de Sousa apareceu. - “ Bates-me e ameaças-me, agora que levantei minha cabeça esclarecida, e gritei: “Basta “ (…) condenas-me a escuridão eterna, agora que minha alma de África se iluminou, e descobriu o ludíbrio e gritei, mil vezes gritei: Basta “., Armas-me grades e queres crucificar-me, agora que rasguei a venda cor-de-rosa, E gritei:”Basta”

A contra-mão do meu tempo levou-me a Esopo: - “Há mais de dois mil e quinhentos anos, um rico mercador grego tinha um escravo chamado Esopo. Ele era corcunda, feio mas com uma sabedoria única no mundo. Certa vez, para provar as qualidades de seu escravo, o mercador ordenou: Aqui esta uma sacola cheia de moedas de ouro, corre ao mercado e compra o que há de melhor no mundo para um banquete. Pouco tempo depois, Esopo voltou do mercado e colocou sobre a mesa um prato coberto por um fino pano de linho. O mercador levantou o paninho e ficou surpreso: Ah, língua! Mas por que escolheste exactamente a língua como a melhor comida do mundo? O escravo de olhos baixos, explicou a sua escolha O que há de melhor do que a língua senhor? A língua é que nos une a todos, quando falamos. Sem língua não poderíamos nos entender. A língua é a chave da ciência, o órgão da verdade e da razão, graças a língua podemos dizer o nosso amor. A língua é órgão do carinho, da ternura e da compreensão. Com língua dizemos sim, com a língua diz eu te amo! O que pode haver melhor do que a língua senhor? 

No meu pais a língua só tem uma direcção, um caminho e pior ainda ganha contornos e uma posição de classe e conforme a sua origem e o seu freguês podem-na tirar para as catacumbas da vida. Mas como Noémia de Sousa suplica:- “ Tirem-nos tudo, mas deixem-nos a musica!, mas deixem-nos a musica!,Tirem-nos a terra em que nascemos, onde crescemos e onde descobrimos pela primeira vez, que o mundo é assim : um tabuleiro de xadrez…. “

Abro os jornais, são atentados, ninguém pode falar se não for ao gosto do freguês, mas o freguês da classe com a voz do poder. Calo-me mas não consigo ficar calado. Noémia de Sousa ressuscita e diz: “ Tirem-nos tudo…. Mas não nos tirem a vida, não nos levem a música! “

Sai da contramão: “ O mercador levantou-se entusiasmado, muito bem, Esopo! Realmente me trouxeste o que há de melhor. Toma agora esta outra sacola de moedas e traga o que há de pior, pois quero testar a sua sabedoria... Depois de algum tempo, Esopo voltou do mercado trazendo um prato coberto pôr um pano. O mercador descobriu o prato e ficou indignado, o quê? Língua? Outra vez? Não disseste que a língua era o que havia de melhor? E Esopo respondeu ao mercado: a língua senhor e o que há de pior no mundo, é a fonte de todas as intrigas, o inicio de todos os processo, a mãe de todas as discussões … E a língua que separa a humanidade, que divide os povos, a língua e o órgão da mentira, da discórdia, da guerra. E a língua que insulta, que corrompe. Com a língua dizemos não e eu te odeio! Aí esta senhor, por que ela e a pior e a melhor de todas as coisas do mundo… Como sempre, cabe decidirmos se usaremos para o bem ou o mal…”

Os gai gai carregam o poder nas suas costas sem se aperceberem necessariamente de que o poder reside no povo e um dos elementos principais para a sua efectivação e a liberdade de expressão, muitas vezes negligenciada criando vitimas fatais…