Os impactos que a pandemia tem causado na sinistralidade da empresa e como uma consultoria pode auxiliar no equilíbrio da apólice
Vale refletir sobre os principais impactos potenciais na sinistralidade:
I – Aumento dos custos
Análise de relatório da Credit Suisse feito com operadoras de mercado, que aponta impacto sobre a receita de 1% a 2,6%, levando em consideração o número de usuários dessas empresas com mais de 65 anos (5%) e a probabilidade de infecção (50% deste público) e internação (10% dos infectados) de UTI por um período de 14 dias.
II – Esgotamento de leitos de internação
As Operadoras poderão passar por um esgotamento dos leitos de internação. A demanda de leitos de UTI causada pelo COVID-19 tem potencial para esgotar toda a oferta de leitos públicos e privados. Já apresentamos um estudo detalhado por região, no qual verificamos que com apenas 20% da população infectada em um curto prazo, não há suporte de estrutura para atender a demanda. Ou seja, os hospitais poderão ficar super lotados com elevados custos com internações para as Operadoras;
III – Maior taxa de internação
As taxas de internações do COVID-19 são maiores e serão acrescentadas às taxas de internações atuais. Os dados do CDC-COVID-19 informam que as taxas de internações estimadas são de 20% do público infectado, sendo 5% dos infectados alocados em leitos de UTI, com tempo médio entre 14 e 21 dias (cerca de cinco vezes mais tempo do que a média geral). A título da comparação, a taxa de internação média do setor é de cerca de 17,2% (ANS, 2018) do total de beneficiários por ano. Os dados do observatório da ANAHP de 2019 indicam que o prazo médio de internações de 4,13 dias em seus hospitais. Ou seja, a COVID-19 tem potencial para gerar muito mais internações (com taxa e prazo maiores). Sabendo que a maior parte da população será infectada no médio e longo prazo, as internações do COVID-19 serão acrescentadas ao cenário padrão de internações;
IV – Crescimento da inadimplência do setor
A inadimplência vai aumentar e gerar prejuízos às Operadoras. A margem de lucro líquido das Operadoras em 2018 foi de apenas 4,4% (XVI Finance, com base nos dados da ANS 2018). Portanto um crescimento na inadimplência de apenas 5%, por exemplo, seria suficiente para gerar prejuízos às Operadoras. Além disso, diversas iniciativas estão sendo conduzidas para impedir o aumento do plano de saúde e a suspensão dos usuários inadimplentes durante o período de pandemia, tal como o projeto de Lei 846/2020. Portanto, seria bastante razoável projetar inadimplência muito superior a este patamar. Sabendo que os trabalhadores informais perdem suas fontes de renda e, considerando que 81% dos planos de saúde são coletivos e empresariais, o efeito da crise econômica poderá ser devastador sobre os resultados e liquidez das Operadoras de Saúde já nos próximos 90 a 120 dias;
V – Aumento do desemprego
O desemprego reduzirá as receitas das Operadoras. A perda de postos de trabalho é um reflexo real decorrente da crise no mundo todo. No Brasil, o desemprego já havia crescido em fevereiro para 11,6% atingindo 12,6 milhões de pessoas (PNAD de 31 de março 2020). A XP Investimentos, por exemplo, chegou a projetar 40 milhões de desempregado no Brasil (UOL, Mar/2020). Além do efeito da inadimplência, o desemprego irá reduzir o tamanho do setor e as receitas das operadoras. Em setembro do ano passado, a XVI Finance mostrou como a crise de desemprego iniciada em 2015 impactou o setor.
VI – Ampliação do risco e sinistralidade das carteiras
Em cenários de crise, saem os jovens e saudáveis, mas ficam os beneficiários idosos e doentes nos planos de saúde. Com a perda da renda da população e com o desemprego, as famílias se sacrificam para pagar os planos de saúde dos mais necessitados, tais como idosos e doentes. Portanto, o efeito de redução do número de vidas do setor, reduz a pulverização da carteira de clientes, ampliando em muito o risco e a sinistralidade das Operadora.
VII – Aumento da judicialização
É também provável o aumento da judicialização. Com a perda do emprego e da renda, espera-se o aumento da recorrência judicial para garantir a conclusão de tratamentos e atendimentos aos beneficiários mais necessitados, ampliando custos com multas e sinistros sem a contrapartida de receita. Na economia e na saúde, não haverá vencedores com a pandemia. Todos se agarrarão às medidas emergenciais e de austeridade, planos de contingência e decisões de sobrevivência. Que prevaleçam o bom senso e a solidariedade.
Como a consultoria pode auxiliar neste momento:
Neste momento em que mais de 100 países procuram se preparar ou gerenciar os impactos de uma pandemia, muitas empresas desempenham ativamente suas responsabilidades diante de seus profissionais e da sociedade. Como protagonistas da economia e do ambiente de negócios, as organizações têm como responsabilidades básicas a boa condução dos negócios e o cuidado com seus funcionários. E ter uma consultoria para direcionamento é o melhor neste momento tão difícil.
Com base em nossas análises das principais práticas de empresas de nossa carteira, recomendamos as 6 ações a seguir para lidarem com as incertezas futuras:
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1. Estabelecer equipes de tomada de decisões de emergência
Elencar pessoas chaves, que sejam da área da saúde, para compor o “comitê” de contingência. Podem ou não ter alguém do RH para reporte ao comitê executivo.
2. Avaliar os riscos e esclarecer mecanismos de resposta a emergências
Elaborar “planos de contingência de emergências”, que primordialmente deve haver uma avaliação imediata e abrangente de todos os riscos, incluindo questões com funcionários, terceiros, demais públicos externos – se houver- e toda a sua cadeia logística.
3. Estabelecer um mecanismo positivo de comunicação de informações para os funcionários e criar documentos de comunicação padronizados
É importante estabilizar cadeias logísticas de suprimentos e dar segurança aos funcionários, assim como fortalecer o gerenciamento de informações em forma de comunicados e cartilhas com cuidados, dicas, curiosidades, perguntas frequentes etc.
Ao mesmo tempo, o sistema de informações existente na empresa deve ser usado para coletar, transmitir e analisar informações da pandemia e emitir imediatamente avisos de riscos.
4. Manter o bem-estar físico e mental dos funcionários e analisar a natureza de diferentes negócios e trabalhos para assegurar a adequada retomada desses trabalhos
Recomendamos que empresas estabeleçam imediatamente mecanismos de férias e trabalho flexíveis, com o suporte de tecnologias, com parâmetros de trabalho não presencial e à distância durante períodos específicos;
Além disso, a consultoria acredita que monitoramento da saúde dos funcionários (relacionado a saúde geral e principalmente a mental) neste momento pandêmico pode fazer a diferença no comportamento e no engajamento dos funcionários. Sempre mantendo a confidencialidade das informações sobre sua saúde;
As empresas devem garantir a segurança de ambientes de trabalho, limpando e desinfetando com rigor locais de trabalho de acordo com as exigências de gestão das autoridades sanitárias e de saúde pública nacionais e regionais em períodos de grande propagação de doenças infecciosas;
As empresas devem fortalecer a educação sobre segurança durante pandemias, estabelecer diretrizes de proteção pessoal para funcionários baseadas em fatos e aumentar a conscientização sobre segurança e prevenção de riscos.
5. Prática de responsabilidade social e gerenciamento de partes interessadas e incorporação de estratégias de desenvolvimento sustentável às tomadas de decisão
A divulgação adequada de informações corporativas pode melhorar a imagem da empresa aos olhos de seus funcionários, podendo reter talentos;
A mais importante prática é a de conseguir implementar responsabilidade corporativa social nos setores ambiental, social, econômico e de estabilidade de funcionários, assim como coordenar relações com a comunidade e fornecedores. É necessário avaliar o possível impacto e a duração da pandemia, ajustar planos e, quanto aos acionistas ou conselho diretivo, comunicar medidas propostas e resultados de avaliações.
6. Melhoria dos mecanismos de gestão de risco
A consultoria julga importante o desenvolvimento de manuais relevantes e baseados em cenários de emergência. Entendemos que a maioria das empresas deve encarar eventos de risco inesperados a qualquer momento − não há dúvida de que eventos desse tipo irão acontecer, mas não há como prever sobre quando irão acontecer. As empresas devem estabelecer ou melhorar seus sistemas de gestão de risco para identificar os riscos-chave e desenvolver planos para mitigá-los. Fortalecer o sistema de gestão de riscos é tão importante quanto lidar com eventos negativos quando eles se concretizam.