Os investidores conservadores vão desaparecer?
Por Luís Artur NOGUEIRA*
Olá, amigas e amigos da Jornada de Investimento$. Desde o dia 1º de julho, tenho o privilégio de contar com a audiência e o carinho de vocês nesta jornada de informações sobre o mercado financeiro. Com o auxílio da minha parceira de conteúdo, a Necton Investimentos, venho tentando proporcionar Educação Financeira para os investidores “comuns”, que não são especialistas no tema, não têm milhões de reais sobrando para investir nem estão dispostos a correr riscos excessivos. Detalhe: antes que me atirem alguma pedra, os investidores “comuns”, para o padrão de renda brasileiro, estão no topo da pirâmide social. Infelizmente, a grande maioria dos brasileiros não tem renda nem conhecimento financeiro para investir.
Logo no início desta jornada, que tem duração prevista para 12 meses, eu lancei uma enquete no meu LinkedIn e no canal gratuito do Telegram para tentar traçar o perfil médio dos meus seguidores. Havia três alternativas: conservador, moderado ou arrojado. Apenas 14% escolheram a última opção, ou seja, a ampla maioria (86%) tem exatamente o perfil do investidor “comum”.
Logo de cara, declarei publicamente que o meu perfil como investidor é moderado. Isso significa que eu não quero perder noites de sono por causa de variações bruscas na Bolsa de Valores, mas, ao mesmo tempo, não ficarei de braços cruzados vendo o meu dinheiro apanhar da inflação. Montei, assim, uma carteira pública de investimentos no valor de R$ 50 mil, que tem pitadas de “arrojo” e doses de “conservadorismo”, típicos de um moderado.
Percebi, no entanto, que uma parte relevante dos meus seguidores (segundo a enquete, 41% têm perfil conservador) ficou assustada quando eu incluí na minha carteira diversos ativos que são classificados como renda variável: ações, fundos imobiliários, fundos multimercados, câmbio e até investimentos offshore (ativos no exterior). A renda fixa, para o desespero desses meus seguidores conservadores, representa “apenas” 34% da minha carteira.
Confesso para vocês que não foi fácil escolher os ativos que colocaria na minha carteira. Pelo fato de ser um investimento público, a minha responsabilidade parecia triplicada. Além de aplicar dinheiro de verdade (ninguém gostar de queimar dinheiro), eu não queria passar vergonha por alguma escolha descabida nem influenciar negativamente outros pessoas.
Embora eu tenha sempre deixado claro que as decisões eram exclusivamente minhas (com a ajuda competente dos assessores da Necton) e que eu não estava recomendando nenhum ativo, muitas pessoas copiaram a minha carteira ou montaram a sua própria composição, com percentuais e tipos de ativos muito parecidos. Fico feliz pelo voto de confiança pois, afinal de contas, estamos literalmente no mesmo barco. Ganharemos e perderemos juntos.
Mas... e os meus seguidores conservadores? Tenho uma mensagem importante para vocês. O Brasil dos juros baixos (a taxa Selic está em 2% ao ano), felizmente, veio para ficar e isso vai tirar muito investidor da zona de conforto (leia-se: reduzir aplicações em Tesouro Selic, fundos de renda fixa e caderneta de poupança). Claro que a Selic pode subir um pouco nos próximos anos, mas não vejo espaço para voltarmos ao patamar de dois dígitos (exceto se os governantes tratarem as contas públicas de forma populista).
Senso assim, espero sinceramente que o rentismo seja uma atividade em extinção. O que é o rentismo? É ato de gerar renda por meio de taxas de juros escorchantes com baixíssimo risco (essa atividade existiu num país chamado Brasil por muito tempo). Com juros básicos de 2% ao ano, a caderneta de poupança paga, atualmente, apenas 1,4% em 12 meses. É uma remuneração muito baixa que, inclusive, perde da inflação.
Os fundos de renda fixa podem apresentar retornos um pouco mais atraentes desde que cobrem taxas de administração inferiores da 0,5% ao ano. Já Tesouro Selic ou CDBs que pagam 100% do CDI só fazem sentido para aquele dinheiro de curto prazo (reserva de emergência, por exemplo).
Com opções nada atraentes, os investidores conservadores terão de aceitar um pouco de risco, com foco em títulos privados de renda fixa ou até mesmo em ativos de renda variável. Vou ser muito franco com vocês e responder ao título deste artigo. Os investidores conservadores vão desaparecer? Não, eles vão se reinventar, adquirindo gradativamente características dos investidores moderados. Assim como os moderados vão incorporar comportamentos dos arrojados (mas isso é tema para outro artigo).
No final do 1º ano da Jornada de Investimento$, em junho de 2021, pretendo repetir a enquete sobre o perfil dos meus seguidores. Aposto dois pirulitos que o resultado vai constatar uma migração do perfil conservador para o perfil moderado. Se eu perder a aposta é porque a Educação Financeira que eu pretendo difundir nesta Jornada de Investimento$ não foi suficiente para sensibilizar os 41% dos meus seguidores.
Esse artigo é um conteúdo exclusivo da Jornada de Investimento$, uma parceria do autor com a Necton Investimentos. A reprodução do conteúdo é autorizada desde que citada a fonte com o link para o artigo original.
*Luís Artur Nogueira é economista, jornalista e palestrante.
Professor at University of Brasilia
4 aA maior parte dos poupadores é conservadora, porque não tem como enfrentar custos de informação e transação. Eles têm de trabalhar e auferir renda para poder poupar. Eles é que decidirão o perfil da maioria dos fundos.
Profissional de Bancos
4 aArtur, você investiu em cinco diferentes ativos, se algum deles estiver rendendo pouco, resgata- o e divide entre os outros, antes ou depois do vencimento?