Os melhores talentos não precisam de rótulos para terem sua marca
Mario de Andrade dizia em uma de suas obras que as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos. Pois bem, mas porque então temos o hábito de rotular?
O mais natural é "etiquetar" uma pessoa pelos conhecimentos que tem. Mas o que uma grande maioria esquece é que existe diferença entre conhecimento e habilidade.
Quando criança possuímos aptidões que nos projetam para um determinado perfil ou que potencializam algumas características, mas isso não quer dizer que seremos bem sucedidos (ou teremos baixo desempenho) em determinadas áreas.
Desde pequeno costumava gostar de cálculos e problemas matemáticos onde meus parentes me rotulavam e diziam que eu iria me destacar em ciências exatas. Porém com o tempo percebi que apesar de utilizar cálculos e tecnologia a meu favor, o meu lado para humanas foi bem mais desenvolvido.
Alguns líderes de gestão de pessoas que trabalhei utilizam mais que avaliação de desempenho para potencializar um talento, mas sim de técnicas que iam além do conhecimento, envolviam estar inserido no processo. Um exemplo seria um profissional que entende de marketing, criação, webdesign e conhecimento de softwares avançados. Requisitos que rotulam para realizar uma campanha de marketing bem sucedida, porém se o mesmo não possui habilidades de trabalhar sobre pressão, suportar rejeição e não olhar para tendências saindo de sua zona de conforto, este rótulo pode simplesmente cair, não por conhecimento e sim por habilidades (que talvez ainda não desenvolveu) que esse profissional não possui ou não tem perfil.
Quando realizava entrevista de empregos uma das perguntas clássicas de um recrutador era:
Quais são as suas habilidades?
Nessa hora é muito salutar diferenciar habilidades de conhecimento. Um médico pode diagnosticar uma doença e ter conhecimento profundo do que precisa para a cura de uma determinada doença, mas a habilidade de medicação para o diagnóstico apresentado será que não é mais relevante ao farmacêutico experiente (não que o médico não tenha esse conhecimento)?
Hoje se dá muito valor a criatividade de um jovem que irá trabalhar em uma startup, vislumbramos nele o desenvolvimento de sua capacidade de criar. Mas no meio desse processo, alguém já perguntou se ele tem habilidades comerciais ou interpessoais que podem ser mais latentes que sua criatividade?
Como gestor comercial uma das minhas funções era identificar talentos e tentar ao máximo colocar em áreas não só que esses profissionais poderiam solucionar problemas, como em áreas das quais descobririam sua identificação. Sempre bato na tecla que erros fazem parte do processo, porém a forma como solucionamos e minimizamos esses percalços que definem profissionais talentosos e com habilidades de resolução.
Eu mesmo já tachei profissionais e superestimei seus talentos, porém o conhecimento desses profissionais eram tão grande que era natural tendenciar para áreas correlatas. Porém a experiência me fez entender que "não se mata a fome lendo cardápios".
Hoje um dos maiores cuidados que tenho é desenvolver equipes de vendas que tenham foco em encantar o cliente. Isso não é novidade, existe a milênios, mas quanto mais conhecimento temos em estratégias e planejamento, cria-se uma linha tênue entre autoconfiança e soberba que cegam e nos faz esquecermos do relacionamento.
Relacionamento é crucial para conhecermos melhor não só um cliente como um profissional que queira deixar sua marca, e para isso ao invés de rotularmos seus conhecimentos, façamos ele investir em sua essência. Pois como diria Mário de Andrade:
O essencial faz a vida valer a pena.!
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