Os mistérios de Alhambra e outras histórias: viagens, storytelling e cerveja
Nas minhas andanças pela Espanha, sem dúvida a Alhambra foi o lugar mais esplendoroso e cheio de significado que eu estive, por duas vezes, e ainda assim não foi possível conhecê-la totalmente.
Há tantas histórias, reais, lendas ou ficção em torno desse palácio e da cidade de Granada que fomentam um imaginário de mistério que se reflete nas artes, turismo e até nos negócios.
A Alhambra está situada na província de Granada, na Comunidade Autônoma da Andaluzia, sul da Espanha e é um dos monumentos turísticos mais visitado do país.
Há muitos feitos históricos, mistérios e lendas em torno desse palácio que teve papel fundamental na história da formação da Espanha atual, influência direta nas primeiras navegações e "descoberta" do continente americano.
É uma das maiores representações do legado cultural deixado pelo Al-Andaluz, quando parte da Espanha e Portugal pertenciam ao domínio islâmico.
A inquisição espanhola destruiu grande parte do legado artístico, científico e cultural deixado pelos judeus e islâmicos na península ibérica, sobretudo os livros. No entanto, a Alhambra, maior palácio fortaleza muçulmana, criada no século IX, foi preservada.
Talvez não porque os Reis Católicos percebessem a riqueza cultural e histórica que as próximas gerações tinham o direito de conhecer, e sim porque em época de luta por territórios e "descobertas", a forte resistência de Granada e sua conquista representava o apogeu do poderio da coroa de Castela e Aragão.
Inclusive, em um dos textos de Washington Irving, presente no livro Contos da Alhambra, ele relata uma lenda que remete a uma das portas de entrada do palácio fortaleza. Nessa porta há as imagens de uma mão e de uma chave. A lenda diz que enquanto a mão e a chave não se unirem, a Alhambra será preservada e a cidade de Granada estará protegida.
Alhambra é a alma de Granada. Toda vida turística, artística e cultural da cidade gira em torno desse palácio fortaleza, datado do século IX.
Já foi objeto de estudo em diferentes áreas, já inspirou centenas de artistas, já foi cenário de dezenas de obras cinematográficas, enfim, é uma fonte de inspiração e magia que ronda o imaginário popular de artistas, estudiosos, escritores e viajantes.
Washignton Irving e os Contos da Alhambra
Washington Irving foi um escritor estadunidense do século XIX, autor do clássico "Lendas do cavaleiro sem cabeça" (inclusive foi graças a essa obra que a ideia da abóbora foi introduzida como símbolo do Halloween).
Outra curiosidade é que foi ele quem deu o apelido Gotham à cidade de Nova York, que, logo adiante, no século XX, seria a inspiração para o nome da cidade do Batman. Não é à toa que a história do Cavaleiro das Trevas, seja envolta em uma atmosfera de mistério e fantasia.
Além de um apaixonado por viagens, Irving viveu mais de 17 anos viajando pela Europa, tendo a sua escrita como principal fonte de renda.
Sua obra tinha como característica a contextualização histórica de suas narrativas, misturadas com acontecimentos verídicos e lendas populares, além de um ar de mistério e fantasia que o caracterizou como precursor (?) da literatura gótica romântica.
Em 1829 o escritor esteve hospedado na Alhambra por alguns meses e escreveu ali o "Contos da Alhambra". Uma série de crônicas que relatam lendas que fazem parte do imaginário da cidade em torno do palácio. Algumas histórias têm cunho real, outras foram inventadas pelo autor.
Lapso - storytelling criado pela marca de cerveja Alhambra
Desenvolvi minha dissertação de mestrado sobre narrativas transmídias e essa história do Lapso foi um dos cases que estudei durante minha pesquisa.
A Cervejas Alhambra é uma marca de cerveja original da cidade de Granada. Então toda comunicação da cervejaria é relacionada com a cidade. A começar pelo nome da marca, homônimo ao ponto mais icônico da cidade.
Há alguns anos a marca trabalhou seu reposicionamento com o objetivo de criar uma personalidade própria, única e que reverberasse a atmosfera de Granada. Para isso foram desenvolvidas ações e conteúdos com a proposta de mostrar a nova filosofia da marca que fomenta a criação manual, o artesanato e todas as artes que representam um estilo de vida mais pausado, a paixão por aprender e a filosofia de viver cada momento.
O slogan da campanha de reposicionamento "Parar mais, sentir mais", tem o objetivo de transmitir a importância de aproveitar o tempo, utilizar os cinco sentidos com mais expressividade e incitar o consumidor ao descobrimento do fascinante mundo da arte cervejeira.
Os temas destacados são cultura (origem e tradição, arte e artesanato), gastronomia e música, com a proposta de consumir conteúdo de maneira pausada, disfrutando da leitura e descobrindo experiências desconhecidas que permitam disfrutar de cada momento.
Dentro dessa proposta, uma das ações desenvolvidas pela marca foi a novela gráfica, Lapso. Que conta a história de Lapso Martínez, um caçador de histórias e mistérios que sofre de uma doença rara que o faz viver de noite, descansar durante o dia e viajar no tempo. Sua rotina compreende andar pelas ruas de Granada pela noite desvendando os mistérios mais ocultos da cidade.
Inspirada por toda a atmosfera de mistério da obra de Washington Irving, já na apresentação, o leitor recebe o convite para descobrir os enigmas de Granada, com a possibilidade de conseguir "recompensas assombrosas".
Quando estudei o caso, a história estava no seu 6º capítulo. Hoje, já está no 12º.
Disponível em Lapso.
Texto publicado originalmente em indalocomunica.com