Os novos cursores da escola
Março é o mês da escola. A data 15 é o seu dia. No Brasil, se faz pouco caso da efeméride, até porque ESCOLA é apenas um detalhe!! O ex-presidente Kennedy ficou famoso com esta observação: “Não pergunte como vai a educação. Antes, examine como as escolas estão funcionando!”.
Em nosso país, há muitas escolas sem banheiros, sem água, sem equipamentos, sem internet, sem biblioteca e até sem professores. Os dados do Censo Escolar Inep/MEC – 2022 revelam que, além de faltar tudo isto nas escolas, não menos grave, faltam, também, escolas! Ou seja, falta vergonha aos nossos governantes! Há alguns anos, eu estava na Alemanha, participando de um Simpósio Internacional de Educação Comparada. Acabara de falar sobre o Currículo Escolar e Metodologias de Ensino na Escola Básica, quando fui interpelado por uma professora, nos seguintes termos: “Muito interessante sua exposição. Mas... tenho uma questão anterior a tudo isto: No Plano Nacional de Educação do seu país, há uma meta assim formulada: Assegurar a todas as escolas públicas de educação básica o acesso à energia elétrica, abastecimento de água tratada, esgotamento sanitário e manejo dos resíduos sólidos... além da garantia de acesso dos alunos a espaços para a prática esportiva, a bens culturais e artísticos e a equipamentos e laboratórios de ciências... é isto mesmo?” – Diante daquela intervenção surpreendente, fiquei atônito e confesso que a única coisa que me veio à mente foi a letra da música de Cazuza: “Que país é esse?!”. Bem, em outra oportunidade, conto o resto!...
Na evolução da história humana, há marcos de uma transcendência ímpar. Dentre estes, está a fundação da escola. No alinhamento de um princípio de racionalidade, a cultura e o conhecimento ocasional ou intencionado, a antecederam. A cristalização desta irmandade de canais de irradiação encorpa-se precisamente na escola, em suas múltiplas faces e formas. Ora em visão pragmática, ora como espaço de mutações da atividade sociocultural. Este o berço dos desafios do conhecimento. Em visão plana, a educação está enraízada na cultura e a educação escolar, nas formas de elaboração dos alicerces territoriais e sociais, com demarcações variadas. Algo, porém, parece impositivo: o efeito escola tem sua face mais eloquente no advento da sociedade do conhecimento. Estaria aqui a eficácia global da escola? – Não há dúvida de que, ao lado da eficácia global, é possível enxergar-se, também, uma eficácia diferencial com base nas categorias plurais dos alunos. Às vezes, este tipo de eficácia é identificado como “equidade”.
A intuição perceptiva de ensinar e aprender nos conduz, por vezes, à compreensão de que a escola tem escalas. Seria o caso de retomar a questão proposta por Scheerens BOSKER (1997): Qual a amplitude do efeito escola?
O eixo educar-instruir sustentou a ideia do processo embrionário das redes/agrupamentos de escolas durante séculos. Depois, com a evolução teórica e prática da educação, a escola foi mudando sua prima facies, pautando-se por uma preocupação de atender a novos processos de “socialização metódica das novas gerações, nas instituições de ensino”, segundo expressão de Émile DURKHEIM.
Pode-se dizer que a escola movimentou-se, historicamente, sobre o impulso de três cursores. Primeiro, o pragmático, segundo, o pedagógico e, terceiro, o científico. Concomitantemente, para a sociedade e para ela – escola – foi-se estabelecendo um novo chão: o dos direitos humanos, do que tem resultado a busca pela afirmação do direito “de uma só escola PARA TODOS”.
Neste palco, o domínio do falar – ler – escrever, embora uma exigência funcional da “forma escolar” prevalecente desde longo tempo, revelou-se insuficiente. Impôs-se à escola operar sob o enfoque do desenvolvimento, com conteúdos atualizados para o desempenho do indivíduo na sociedade, e ainda, com a exigência de uma sólida capacitação para a vida profissional. Consequência: a rede de escolas posicionada em diferentes territórios deve estar sintonizada com a sociedade em rede, sob a conformidade da refundação organizacional dos conteúdos dos saberes, da reconceituação das práticas docentes, com reserva de espaços e programas pilotados pelo desenvolvimento científico, pela aquisição de competências e pela onipresença da tecnologia: os novos cursores da escola.
Este é o novo horizonte da escola ou, se quiser, o “novo tempo”. O novo chão da escola, ou, se quiser, seu novo espaço. De imediato, já vale lembrar que não há identidade descolada das circunstâncias de tempo e espaço. E mais: o tempo da sala de aula é o contexto da escola. Vamos comemorar o Dia da Escola com duas ideias-piloto:
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a) Estamos acostumados com a escola refém de uma educação canônica. Vamos torná-la refém da vida.
b) Para mudar o ensino, é necessário mudar a compreensão de sala de aula. Não podemos continuar com a sala de aula dos professores e a sala de aula dos alunos!!!
Moaci Alves Carneiro
Doutor em Educação/Paris
Ex-professor da Faculdade de Educação da UnB
Diretor do Encontro de Laboratórios de Cidadania e Educação/ENLACE