Os sete pecados corporativos: a soberba
Os sete pecados capitais foram formalizados no século 6 pelo Papa Gregório Magno, que definiu como vícios de conduta a gula, a luxúria, a avareza, a ira, a soberba, a preguiça e a inveja, ilustrados na tirinha abaixo de "Um sábado qualquer."
No século 13, se tornaram oficiais por meio da Suma Teológica publicada por São Tomás de Aquino. Eram chamados de pecados capitais pela característica de liderar outras infrações, já que o termo deriva do latim caput, que significa cabeça, líder ou chefe.
Resolvi começar a abordagem do tema pela soberba por ser esse pecado considerado o mais grave de todos. O pecado original encontra-se nessa categoria, uma vez que Adão e Eva haviam aceitado o fruto proibido da árvore do conhecimento com a intenção de igualar-se a Deus.
Também Lúcifer, que era um dos anjos do Senhor, não querendo servir a uma criação de Deus, o homem, se rebelou por se achar especial. Foi sua soberba que o levou a cair do céu, e o resto da história todos conhecemos.
Fiz uma pequena enquete para descobrir qual pecado capital considera-se o pior, e a soberba liderou o ranking, junto da inveja. Soberba significa sensacional, suntuoso, orgulhoso. Manifesta-se nas pessoas pela sensação de superioridade sobre as demais, também conhecida por arrogância, altivez, orgulho, pretensão, elevação, presunção ou autoconfiança exagerada.
Lidamos com a soberba o tempo todo, mas no mundo corporativo ela encontra o terreno fértil para se revelar.
É ali, no meio de altos cargos, benefícios exclusivos, remunerações suntuosas, promoções, bônus - ou na busca deles - que a soberba aparece.
Onde há espaço para a vaidade, abre-se o caminho para a soberba. O individuo soberbo cultiva um menosprezo por aqueles que ele considera inferiores. O soberbo acredita que ele é único. Qualquer um que atraia elogios e atenção vira seu alvo. Para o soberbo, não há espaço para competição. Ninguém é melhor do que ele, e se alguém ousar pensar o contrário, ele trata de eliminar a concorrência.
O soberbo geralmente tem a necessidade de aparecer, de ter razão, de ser destaque, tudo que dê vazão à imagem inflada que tem de si mesmo. Em reuniões e aparições públicas, ele sempre vai falar, seja para ser percebido ou para enaltecer seus feitos. E fala na primeira pessoa, pois adora a primeira pessoa do singular.
Se alguém questiona sua autoridade ou tem uma opinião contrária que angaria atenção, o soberbo não tem dúvidas: ataca ou os argumentos ou a fonte de admiração. Para o soberbo, o mundo é um pódio e o primeiro lugar só merece ser ocupado por ele. Não é que as outras pessoas não mereçam destaque; para ele, elas simplesmente não são boas o suficiente.
O soberbo não acha que só ele é bom. Ele tem a mais absoluta certeza. Ele não tem senso crítico e só vê qualidades naquilo que desempenha.
Toda empresa tem soberbos e, para piorar, muitas vezes eles se encontram em posições de liderança. Com isso, criam ambientes em que não há liberdade de expressão, cooperação, inovação, empatia e crescimento. Reinam o medo, a rigidez e a adulação; afinal, haverá sempre aquele que alimentará o ego do soberbo, seja por característica pessoal ou como estratégia de sobrevivência.
A cura para a soberba é o exercício da humildade, algo muito difícil para quem possui essa característica. Afinal, o soberbo tem necessidade de autopromoção, uma vez que não acredita que os fatos falem por si. Se falam, não é o suficiente para afirmar o quão bom ele é no que faz. Para o soberbo, não basta ser bom. Ele tem que ser reconhecido como o melhor.
Não é à toa que ilustrei esse artigo com a figura do pavão, que personifica o pecado da soberba, por se comportar de maneira ostensiva durante o cio. Alguns estudiosos afirmam que o mundo individualista, narcisista e competitivo em que vivemos premia comportamentos como a soberba. O pavão seria o ícone de um mundo em que reina o culto ao sucesso e às celebridades.
Se você ainda tem dúvidas de como identificar um soberbo, vale o conselho de Voltaire: "O orgulho dos pequenos consiste em falar sempre de si próprios; o dos grandes em nunca falar de si.". De Voltaire, passo para Ultraje a Rigor, que já há décadas cantava a soberba em um de seus clássicos:
"...Eu era tudo que eu podia querer
Era tão simples e eu custei pra aprender
Daqui pra frente nova vida eu terei
Sempre a meu lado bem feliz eu serei...
... Agora eu sei sem mim eu não sou ninguém
Longe de mim nada mais faz sentido
Pra toda vida eu quero estar comigo
Eu me amo, eu me amo
Não posso mais viver sem mim."
Diretor de Marketing e Desenvolvimento de barcos para pesca e lazer. | Levefort Indústria E Comércio Ltda
4 aÓtima abordagem.
Auditor | Perito Contábil | Gestor de Finanças e Controladoria
5 aParabéns pelo artigo... realmente diz muito...
Gerente de Comunicação l Estratégia l Gestão de crises l Reputação | PR l Branding
6 aParabéns pelo artigo, Cintia. Tenho acompanhado os seus textos, sempre recheados de informações relevantes com referências que propiciam boas reflexões. abraço
Procurador Federal na advocacia geral da união ( AGU )
6 aGarota, vc é demais da conta ! Que beleza !
Editor at Revista Capital Público
6 aNa onda do biscoito Tostines (vende mais pq tá sempre fresquinho, ou tá sempre fresquinho pq vende mais?), eu pergunto o que veio primeiro: o ambiente corporativo propício à soberba ou a soberba encontrando nele o seu palco ideal?