Ostentando o direito de pensar

Ostentando o direito de pensar

Neste final de ano, um tempo que apesar de festivo, traz consigo uma série de reflexões, tenho percebido sintomas de uma tristeza coletiva que para mim tem uma causa importante.

Não, não são os dados aterradores da pandemia que nos bombardeiam em todas as mídias possíveis e nos confinam mais uma vez, mas sim uma sutileza, algo que se percebe com o canto dos olhos, aquilo que classificamos como interdito.

 Acredito que cada novo dia traz todo um mundo consigo, possibilidades quase infinitas de novas conexões com o que chamamos de humanidade. Viver é a maior e melhor oportunidade que temos, uma maneira de abastecermos as nossas almas para o desconhecido que inevitavelmente virá.

O mundo está se acelerando cada vez mais. Mas é um erro pensarmos que tal fato se deve aos avanços tecnológicos ou algo mais holístico, como uma nova era, um novo paradigma mundial.

A aceleração vem porque estamos abrindo mão do direito de pensar. Somos atropelados de todas as formas possíveis apenas para evitar essa atividade. Redes sociais, lives incessantes, programas que trazem respostas prontas, fast food, fast vida, fast tudo.

Conseguimos a proeza de comer, fotografar, opinar e ignorar quem está a nossa frente de uma só vez. Que habilidade estranha que estamos adquirindo. Nossos dedos ganharam um poder em detrimento dos nossos sentidos. Perdemos o dom de acompanhar nossas experiências cotidianas.

Oferecemos opiniões pré-fabricadas, baseadas em algoritmos desenhados para impor hábitos e nos anestesiar. Abrimos mão de receber críticas, da discordância saudável que nos faz amadurecer, de agregarmos riqueza na nossa mente. E com isso o mundo se torna mais estreito, menor, desinteressante.

Pensar é uma atividade exaustiva. Um bom pensamento consome nossa energia, mas traz consigo uma delicadeza leve, uma elegância em sua estrutura. Pensar de verdade, refletir por dias sobre uma situação leva a um aprendizado sobre quem somos, o que conseguimos fazer, o que aceitamos e o que consideramos incompatível com nosso ser.  

Ao usufruirmos do pensar (não me refiro ao ócio criativo), do velho e desconfortável ato de nos concentrarmos em um pensamento, nos tornamos mais fortes. Deixa-lo vaguear em nossas mentes, sair e voltar e sair e voltar de novo, acrescido de novas maneiras de se olhar o pensamento, nos traz uma semente de felicidade.

Pensar com calma, como um prazer, não um foco de ansiedade (quem está ansioso não pensa, é esmagado por sentimentos) demanda tempo e uma certa solidão solidária, afinal, é quando pensamos que somos humanos.

Neste Natal, deste ano tão imprevisível, o que mais desejo para todos é que possamos abraçar esse presente que nos foi dado e recomeçarmos a pensar de maneira descarada, útil e valorosa. Que possamos ostentar de maneira acintosa o nosso direito de pensar. Que se faça a luz em nossas mentes.

Um feliz natal a todos.

Stefanea Campanha



Maria Aparecida F.

Gerente Financeira - Controladoria e Finanças

3 a

Feliz Natal Dra Stefanea com muitaaa ostentação desse valoroso direito de pensar. Me deliciei em cada palavra maravilhosamente escrita . Obrigada por esse presente. Deus abençoe você e toda sua casa😘

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