Ovo de Páscoa
A humanidade passa por uma provação há algum tempo. O progresso muitas vezes se resume a uma expansão contínua lastreada numa base finita. Queremos sempre mais e por mais tempo. Os quintais não nos satisfazem, nem sequer nossos arredores, somos donos do mundo. Produtos são descartados, não por perderem suas qualidades, mas por não cobrir as lacunas do nosso ego. Avaliamos e somos avaliados pelo acumulo material, ou pior, o dinheiro estocado. De repente nos damos conta que para se fazer um respirador é preciso tempo e trabalho, o único meio de gerar valor. Não podemos sacar comida, remédio ou álcool gel de um caixa de banco.
Ao observar a foto do planeta damos conta de que é um ovo, um óvulo azul, no qual milhares de espécies habitam. Apenas uma delas se julga soberana sobre as outras, até que outro pequeno ser, um vírus ironicamente no formato de um óvulo, na sua luta por se perpetuar como espécie nos invade, lembrando-nos que somos pó.
O homo sapiens exalta tanto seu egoísmo materialista que não se dá conta ser uma espécie e que apenas a humildade solidária poderá redimi-lo. Faze-lo digno de ter a consciência de viver, aquilo que o faz ser semelhante a Deus .
Carlos Lopes
abril 2020