Pé no freio
Durante uma conversa do projeto Escritor na Comunidade com os jovens animados do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos Cruzeiro do Sol, percebi o quanto estamos nos tornando uma sociedade apressada. “Quando estamos vindo pra cá e meu vô precisa parar no semáforo, parece que estou perdendo muito tempo e já estou me atrasando ainda mais”, soltou uma das meninas. Infelizmente, o mundo acelerado com essa avalanche de informações e de cobranças, nos faz corrermos, corrermos, corrermos... Mas para onde, afinal? Não sabemos! Parecemos cachorros correndo atrás do próprio rabo. Estamos sempre com pressa, mas nem sabemos ao certo onde queremos chegar e nem o porquê precisamos correr. A vida? Está corrida! E assim entramos no piloto automático. Ora ou outra, se seguirmos nesse ciclo vicioso, adoecemos ou pifamos, justamente porque não somos máquinas.
Por que temos tanta pressa? Por que aceleramos os áudios do WhatsApp? Por que pulamos as aberturas dos filmes e séries? Porque queremos otimizar o tempo e gastá-lo com outras distrações. E assim nos tornamos uma sociedade acelerada, barulhenta e cansada. Acelerada, porque está sempre correndo contra o tempo em vez de desacelerar e nadar contra a maré. Barulhenta, porque nos tornamos cada vez mais impacientes, intolerantes e ruidosos. E cansada, porque na sobrecarga da nossa rotina vivemos o vazio de uma vida ocupada demais e nunca temos um tempinho para nós mesmos.
Recomendados pelo LinkedIn
Precisamos normalizar o ato de desacelerar, de diminuir a velocidade, de colocar o pé no freio, de se dar ao luxo de cuidar de si próprio e relaxar. Essa cobrança (e autocobrança) está tão impregnada que se formos nos dedicar para o nosso lazer ou mesmo descansar, nos culpamos. Parece até que estamos fazendo algo de errado. Nos sentimos uns monstros se resolvemos assistir um filme ou curtir um passeio em família. Estamos fora da lei se dormirmos umas horas a mais no domingo para recarregar as energias. Nos tornamos grandes vilões se pararmos um pouco para respirar fundo e meditar. Deveríamos estar produzindo durante todo dia e a toda hora, sem parar. E o cuidado com nós mesmos? Sempre deixamos para depois que as tarefas acabarem. Spoiler: elas nunca terminam e a lista de pendências só aumenta. Ou tu se prioriza agora (e não é egoísmo nenhum) ou vai dar uma pane no sistema e será tarde demais.
Meu dilema é viver sem pressa, mas com rumo. É muito melhor ir, de pouco a pouco, e não se perder da sua rota do que acelerar em alta velocidade e não chegar a lugar nenhum. Só quando pausamos é que percebemos a beleza da paisagem e as singelezas que nos cercam. Só desacelerando conseguimos apreciar o tanto que já conquistamos e quantos perrengues já superamos. Apenas quando nos permitimos colocar o pé no freio, reconhecemos os milagres do dia a dia e quantas pessoas especiais temos ao nosso lado. Atenção para a placa no percurso: não é proibido colocar o pé no freio sempre que precisar.