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“Não tenha medo da perfeição. Afinal, você nunca vai atingi-la.“ — Salvador Dalí

Esta frase de Salvador Dali é quase perfeita. Por um lado, porque nos fala da ilusão de se atingir a perfeição. E por outro lado, porque nos fala do medo que nos paralisa e que não nos deixa atingi-la. Confusos? Perfeitamente contraditória, esta minha frase?

Talvez não. Vamos lá 3xplorar esta ideia!

Porque é que a perfeição não existe? Segundo o dicionário, “perfeito” significa “que não tem defeito, falha ou erro”. Quantas pessoas conheces que se encaixem totalmente nesta descrição? Quantas coisas na vida? Até a natureza, que muitos reconhecem perfeita, por vezes nos atira com imperfeições, desde cataclismos a mais pequenos desastres naturais. E se essas imperfeições fazem parte do ciclo da vida, porque não o farão as nossas também?

Mesmo entre as histórias dos grandes génios da história se contam defeitos, desde o mau feitio à arrogância, passando por dificuldades de relacionamento nas suas vidas pessoais.

Por outro lado, também encontramos no dicionário o significado: “completo; total; acabado”. Significa isso que, atingida a perfeição, nada mais há a fazer, a sonhar, a perseguir.

E talvez seja essa uma das razões pela qual tememos a perfeição. Pois o que haverá depois? O que fazer depois de se escrever um best seller, de atingir o topo da montanha mais alta, de pintar o quadro mais belo do mundo, de se ganhar o prémio mais cobiçado? O que fazer com a expectativa que se gera a partir daí – não apenas a dos outros, mas também a nossa? O que fazer com a possibilidade de que a próxima conquista não seja tão grandiosa, ou até, pior dos piores, que o desafio não seja ultrapassado?

Não ter expectativas? Algo muito difícil para a maioria de nós, diria eu. Baixar as expectativas? Perigoso, talvez! E porquê o fazer? Se já conseguimos subir à montanha mais alta do nosso país, porque não apontar à montanha seguinte em altura? Se a nossa paixão for escalar, alimentar essa paixão é um passo natural. E para se alimentar a paixão, é preciso que se tempere também. Por isso, definir objetivos e expectativas realistas, continua a parecer-me algo de bom e com o potencial de nos levar mais longe. Talvez por isso devamos sempre procurar a nossa perfeição, mesmo sabendo que ela não nos espera nem ao virar da esquina, nem no fim do mundo. Procurá-la, sabendo que só assim ficamos um pouco mais perto do impossível.

Mas e se falharmos? Será como, quando éramos crianças e não conseguíamos pôr a bicicleta a andar. Até percebermos a mecânica dos movimentos das nossas pernas nos pedais, enfrentámos alguma frustração. Precisámos entender que não conseguíamos fazer aquele movimento que outros faziam de forma tão perfeita. Até que, com a nossa insistência, conseguimos. Que bela sensação, aquela de andar de bicicleta, sem rodinhas, sem apoios, livres e perfeitos! Até que…se calhar, um dia caímos! E o que foi que fizemos? Sacudimos o joelho esfolado e subimos de novo à bicicleta, continuando a pedalar e sabendo-nos agora, Perfeitamente Imperfeitos!

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Susete Santos

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