Pai 2.0 - Por que as marcas não falam com a gente?
Foto: Flavia Valsani

Pai 2.0 - Por que as marcas não falam com a gente?

Eu sou o pai do Chico, um rapazinho de 9 meses, e pertenço a uma geração de homens que participa ativamente na criação dos filhos.

Outro dia, com a maior naturalidade do mundo, coloquei um comentário criticando uma marca famosa de fraldas no facebook. Alguns amigos, também pais, começaram a me responder contando suas experiências a respeito. Causou tanto espanto nas pessoas ver 4 ou 5 caras discutindo o assunto que me fez parar pra pensar. Pensar que estamos mudando, assumindo novos papéis e esse mundo (e mercado) ainda não está tão preparado pra nós.

Homens não conversam entre si sobre filhos e, por isso, não se mobilizam. Não imagine que a gente vai sentar na mesa do bar, pedir uma cerveja e soltar um “Porra, tive que trocar todos os bicos das mamadeiras do João porque o gato mastigou na noite passada...”. Não vai acontecer.

Não chega a ser objeto de militância, mas é curioso notar que, com tanta desigualdade de gênero, onde as mulheres sofrem diante de uma sociedade predominantemente machista, exista algo tão fundamental a ser reivindicado pelos homens para ocupar espaço em uma função vista por essa mesma sociedade como "exclusivamente" feminina. Trocando em miúdos, é o machismo sacaneando o próprio homem.

Se falar de fraldas causa espanto, você não imagina as reações ao nos ver trocá-las em público. Reflexo disso é que quase não há banheiros masculinos equipados com trocadores.

Tudo bem, mas que diferença faz dar a um homem a opção de trocar seu filho no banheiro de um restaurante, por exemplo? Simples: entre o lugar com e sem trocador, prefiro o primeiro. E aí entra o pai que, além de cuidador, é também consumidor.

Uma coisa é certa: 100% das decisões de compra relacionadas ao Chico são tomadas com a minha participação. E, veja bem, essas decisões vão muito além de escolher “crédito ou débito”. Estou por dentro de todas as marcas de roupa, sabão, pomada, chupeta, mamadeira, carrinho e tudo mais que fizer parte da vida dele. Avaliei cada uma delas, ouvi opinião de outros pais (e mães), fui impactado em ponto de venda, pesquisei na internet e dei meu dinheiro para algumas delas.

Então aqui cabe uma pergunta: por que não há nenhuma publicidade falando comigo? Para não ser injusto, apenas a Bepantol tem se comunicado com nosso público (alguém me corrija se estiver enganado).

Não é mimimi. É uma questão que passa pela minha mesa de trabalho: por que será que as marcas e agências ainda não abriram os olhos para esse movimento? Ainda não se deram conta da nossa existência, do nosso papel decisivo e do nosso poder de compra?

Acho que vale (mal) comparar com a propaganda de cerveja que acha que todas as mulheres do mundo só tomam água quando estão com sede. Só tem filme com bunda na praia e piada machista.

Por mais que sejamos minoria (minha mulher diz que somos pais hipsters que habitam a Vila Madalena), isso certamente é uma forte tendência de comportamento.

E, convenhamos, até quem não se envolve ativamente na criação dos filhos é um grande consumidor. Lembra quando seu filho era pequeno e sua esposa dava de mamar de 3 em 3 horas? Quantas vezes você foi à farmácia, ao supermercado ou à loja de bebês atrás de fraldas, protetores de seios, bicos de mamadeira, chupetas, remédios para cólica, pomada para assaduras, etc…?

Nos 6 primeiros meses de uma criança, essa tarefa é quase que exclusivamente do pai.

Isso sem falar todas conquistas recentes das uniões homoafetivas que estão formando suas famílias através da adoção. Aí temos 2 pais juntos encarando todos os desafios de criar um filho.

Bom, nós estamos por aí. Trocando fraldas, dando mamadeira, educando, cantando “O sapo não lava o pé”, dando banho, fazendo papinha, penteando cabelos e brincando de chá das 5 segurando a xicrinha com o mindinho levantado.

E aonde está sua marca em tudo isso?

Rodrigo Natalino

Especialista em Planejamento de Marketing

8 a

Não são apenas Hipsters da Vila Madalena, já sou pai de 2 filhos e tive que trocar fraldas em cima da pia do banheiro do Cinemark, pois meu filho com 2 anos fez o numero dois na metade do primeiro filme de sua vida, e o cinema não tinha trocador no banheiro masculino. Foi um momento onde eu achei inadmissível que eu, na qualidade de pai, não pudesse trocar as fraldas do meu filho... além de muitos outros exemplos.. Porém existem alguns avanços como os espaços família instalados em shoppings...

Vinícius Veçoso

Diretor de Criação, Marketing e Experiência de Produtos / Visual Designer / Líder Criativo / Pai da Luísa

9 a

Tenho uma filha pequena e já parei pra pensar sobre essas mesmas coisas! Muito bom texto.

Lusia Nicolino

Market research specialist | Senior business leader | Marketing and communication strategist | Consumer knowledge

9 a

adorei

Paula Puzzi

Executiva de Corporate Venture Capital @ Suzano | Inovação Aberta e Novos Negócios | Investor & Business Development | Estratégia, Marketing & Comunicação | Sustentabilidade

9 a

Excelente artigo!

Rodrigo Conde

Chief Brand Officer & Brand Strategist at Led Project

9 a

Baita reflexão, belo texto, abs!

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