PALAVRAS E AÇÕES, NOSSA DICOTOMIA DIÁRIA
“Todas as coisas podem ser vistas por mais de uma perspectiva.” (Anônimo)
Estava revirando meus e-mails quando um deles me chamou a atenção. Era um que continha uma tirinha do Snoop. Sentado no teto de sua casinha ele datilografava uma cartinha para sua namorada.
Querida namorada, sinto sua falta de manhã, de tarde e de noite!
Uma colega, que acompanhava o que escrevia, fez então o seguinte comentário:
Isso está muito vago! Ao escrever para uma garota você precisa ser mais específico.
Ele, então, reescreveu sua cartinha da seguinte forma:
Querida namorada, sinto sua falta às 8:15; às 11:45 e às 21:36.
Depois de ler esta tirinha percebi como é complexa a arte de entender e se fazer entendido. Afinal, nossas palavras e ações estão sempre carregadas de diversas possibilidades de interpretação. O que é dito e a intenção que damos à fala, nem sempre são compreendidos da maneira que imaginamos.
Aí está o ponto nevrálgico de toda relação. A resposta gerada pela motivação inicial – palavra ou ação – nem sempre corresponde ao verdadeiro estimulo recebido. Dessa forma, ela poderá assumir uma interpretação equivocada da realidade.
E isto pode desencadear um efeito cascata inesperado. Não se foi claro o bastante no estímulo inicial, não se foi claro o suficiente na decodificação da mensagem e por conta disto, a resposta – estímulo resultante – não foi elaborado com a necessária precisão para que a mensagem fosse plenamente respondida.
Assim, é incerto que consiga alcançar o objetivo para a qual foi destinada. Este ciclo pode encerrar-se na primeira volta ou ir adquirindo força através de repetidas idas e vindas até comprometer toda a mensagem.
Alguém se lembra de quando brincávamos de telefone sem fio?
A especificidade a que a colega do Snoop se referia não era a de tempo e sim do que consistia a falta que ele sentia. Contudo, na ausência de cuidado ao se expressar, não foi possível estabelecer um nível de compreensão mínimo para processar a correta decodificação da mensagem.
A nossa ambiguidade, em termos de sermos claros o suficiente para o estabelecimento de uma produtiva linha de comunicação é, provavelmente, a causa de devolvermos os estímulos/respostas errados. Disso resulta o surgimento de um sentimento de insatisfação e frustração, os quais são extremamente ruins.
Em a Arte da Guerra, Sun Tzu diz que se as ordens não são claras é culpa do general se seus soldados não lhe obedecem corretamente.
Nesta análise, existe uma variável de extrema importância na troca de estímulos, a qual não pode ser desconsiderada, ao contrário, deve ser encarada com a máxima cautela, ou seja, os participantes. Somos pessoas e nossas relações se estabelecem também com pessoas. Partindo deste pressuposto é imprescindível que nos antecipemos a qualquer anomalia que inviabilize o processo comunicativo.
O conhecimento mútuo é a solução adequada para se minimizar as ações indesejadas. Se é do conhecimento do grupo social a maneira como se processam as reações de seus membros às situações cotidianas e é interessante que certas respostas sejam dadas, então é preciso que o encaminhamento e o estimulo certo sejam feitos. Se queremos colher laranjas não devemos plantar maças.
Entretanto, a prática de nossas relações sociais não é algo tão simples e isenta de falhas, assim sendo, todas essas partes e/ou etapas transformam-se nas estruturas que formam o que, comumente, chamamos de “minha vida”, a qual somente o tempo pode aperfeiçoar. Se ela ficará bonita vai depender da nossa disposição e interesse em fazê-la da melhor forma possível.