Para onde vai o crédito no Brasil? Como crescer com tamanho endividamento e inadimplência?
Muito tem se falado atualmente sobre o crédito no Brasil. O novo governo se posiciona como um grande agente e responsável pelo “destravamento” do Crédito. Mas vamos lá. O crédito está travado?
Vejam no gráfico acima que a carteira de crédito vem crescento ano a ano e o total atingiu R$ 5,3 trilhões em fevereiro de 2023. De 2022 para 2023 o crescimento foi de 12,91%. Este crescimento tem sido constante mesmo no período da pandemia. Percebemos uma queda nas concessões de janeiro para fevereiro impactada pela paralização das operações do consignado do INSS.
Então sabemos que o crédito não está travado, porém uma das discussões é o quanto o crédito ainda pode crescer?
Com o início do bureau positivo no Brasil e agora com o Open Banking, surgiram inúmeras especulações a respeito das oportunidades do crescimento do crédito, ouvi inclusive que o crédito iria triplicar.
E como é o crédito no Brasil comparado a outros países?
Uma das métricas para comparação do crédito entre países é a relação entre o crédito e o PIB, considerando diferentes instrumentos de crédito, como os empréstimos, financiamentos e títulos de dívidas.
Para a comparação internacional, o indicador do Banco Mundial é o mais difundido.
Nessa métrica, o crédito doméstico ao setor privado brasileiro superou em agosto de 2020 a casa dos 50%, chegando a um pico de 55% em setembro de 22 e com o último indicador em 52,8%.
Na média mundial, esse número é bem maior, alcançando 216% nos Estados Unidos e mais de 124% no Chile.
Mas como pensar em chegar ou superar 100% do PIB, se com 52,8% temos 70 milhões de negativados e um grau de endividamento que chega a 77% das familias?
Importante entendermos algumas questões relevantes. Para isso trago aqui uma pesquisa que realizei comparando por exemplo Brasil, EUA e Chile.
Em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) nos Estados Unidos chegou à marca de US$ 18,6 trilhões, mantendo o 1º lugar na economia mundial.
Já o valor brasileiro, mais de sete vezes menor, fechou em US$ 1,8 trilhões. O PIB do Brasil é o nono do mundo.
Vejam que o Brasil apresenta indicadores com níveis inferiores aos dois países comparados.
Se olharmos a renda anual temos uma renda 10 vezes menor que a americana, e da metade da chilena. Além disso o Crédito no Brasil é 8 vezes mais caro do que nos Estados Unidos, Spreads brasileiros devem se manter de 6 a 7 vezes acima do praticado no mercado internacional pelo prazo de três a quatro anos.
Temos um comparativo que mostra uma particularidade do lado do Brasil. O crédito continua crescendo, porém o endividamento no brasil vem se mostrando também crescente, chegando a 78,3% em fevereiro de 2023. As dívidas em atraso também vem crescendo atingindo 29,8% das famílias dizendo terem dívidas em atraso.
No Brasil sempre imaginamos que a inadimplência é um fator que existe de forma mais acentuada aqui, porém nos EUA a inadimplência também é um fator de super preocupação, o americano por si só é um povo mega consumista, e mega consumo gera inadimplência! Porém a renda lá, como já vimos é 10X maior que a nossa, o que torna o processo de cobrança necessário porém diferente do que vemos aqui no Brasil.
A relação crédito X PIB, fornecem uma boa medida do tamanho do mercado de crédito no Brasil. Como já vimos a relação de 52,8% sobre o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro representa um saldo de 1,8 trilhões de dolares. Ou seja, a metade de tudo aquilo que é produzido no país ao longo de um ano.
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Já vimos que no momento as estimativas de crescimento do crédito estão constantes e, segundo especialistas, elas estão bem acima das estimativas de crescimento do PIB - o que aponta para um avanço da relação entre essas variáveis.
Essa expectativa está alinhada com uma série de medidas transformadoras, encorajadas e apoiadas pelo setor de bureaus de crédito com o advento do bureau positivo e as iniciativas do setor financeiro com o Open Banking e o open Finance.
Porém a questão é: Podemos crescer aos patamares de países como EUA e Chile?
O cadastro Positivo é um dos fatores importantes. Após dois anos da reformulação de seu modelo, surgem evidências que sugerem reduções dos spreads, e ainda a a inclusão financeira de clientes não bancarizados.
O Cadastro Positivo, o Open Banking e outras medidas que incentivam a concorrência no mercado bancário são mudanças estruturais que trazem um excelente potencial para que o mercado de crédito possa crescer e se aproximar da média internacional.
Porém é imprescindível que fatores como renda, emprego, massa salarial (que é a combinação de renda e emprego) e confiança tenham consistência para que sejam pontos chaves para a evolução e crescimento desta relação
Concluindo: não existe dúvida sobre termos um potencial para crescimento do crédito como já acompanhamos nos últimos anos, incusive no período da pandemia.
Porém existem algumas premissas importantes para que este crescimento seja sustentável:
As informações do bureau positivo devem ser aceleradas, com a inclusão de informações de Teles e Utilities e compartilhadas de forma mais simples e efetiva;
O proponente deve ter a consciência que para ter melhor acesso ao crédito ele deve permitir que as empresas tenham suas informações. Quanto maior a informações melhor a qualidade do crédito;
O crédito PODE e DEVE ir além do “preciso pagar dívidas” mas ter a ideia de ter cada vez mais a capacidade de ampliar a economia, financiando sonhos! O crédito hipotecário nos EUA é um exemplo da oportunidade de empreender um novo negócio;
Apesar do mercado norte-americano sempre ser uma referência, a realidade brasileira tem suas particularidades e devemos sempre estar atentos a isso.
O Emprego é fator essencial para o crescimento do crédito e a filosofia de direitos do trabalhador mascara o custo do mesmo para novas contratações e reposições;
Cada vez mais o crédito digital vai ter maior demanda, e compreender a diferença deste do crédito tradicional ainda é um desafio.
Nosso sistema financeiro é, sem dúvidas, um dos mais avançados do mundo. Temos sempre a experiência da síndrome de vira-latas, porém o Brasil tem diversos destaques em relação a outros mercados muitas vezes entendidos como mais evoluídos.
Sem esquecer que temos ainda algumas questões que são características do povo brasileiro:
o brasileiro não desiste nunca!
Ele sempre acredita que “dias melhores virão”, e
sempre tem uma visão otimista de tudo e
sempre faz piada (ou memes) das mazelas.
Enfim, o comportamento com crédito do brasileiro merece ser melhor estudado e já temos histórico já suficiente para, sem dúvida, ampliar a relação Crédito X PIB de forma saudável e próspera!
Basta fazer as lições de casa!
Founder na OFDC e Co-founder na Devee
1 aÓtimo artigo Eduardo Tambellini ! Obrigado por compartilhar. Gostaria de saber sua opinião (e análise) sobre o quanto o crédito concedido informalmente no Brasil pode “mascarar” essa relação crédito x PIB. Sabemos que cartões PL, crediários próprios e outras modalidades de crédito tem uma certa relevância aqui no Brasil. Nesses outros países também é assim? Abraço!
CEO- Founder - Caas-Collection Center
1 aPerfeito Eduardo Tambellini !