Para Poder Viver - a jornada de uma norte coreana para a liberdade
O livro “Para poder Viver”, é a autobiografia de Yeonmi Park, uma norte-coreana nascida em 04 de outubro de 1993, hoje com 23 4/12 anos. Ela fugiu com a mãe para a Coréia do Sul de Hyesan, cidade fronteiriça com a China, e conseguiu chegar lá em 20 de abril de 2009, com 15 ½ anos. Esta é a história de uma pessoa em busca da sobrevivência física, psicológica e da liberdade a qualquer custo. Quando pequena, ela se lembra da falta de barulho e de que deveria ficar calada. “Quando eu era pequena, não ouvia os ruídos mecânicos de fundo, como agora na Coreia do Sul e nos Estados Unidos. Não havia caminhões revirando o lixo, buzinas soando ou telefones tocando em toda parte”. E ainda... “quando me mandava para a escola – [minha mãe] – nunca dizia “Tenha um bom dia” ou mesmo “Tenha cuidado com estranhos”. O que sempre dizia era: “cuidado com a boca”. A autora conviveu com pouca eletricidade e falta de saneamento básico. “Como o fornecimento de eletricidade era muito raro em nossa vizinhança, sempre que as luzes se acendiam, as pessoas ficavam tão felizes que começavam a cantar, bater palmas e gritar. Acordávamos para comemorar até no meio da noite”. Ela explica que na Coréia do Norte existe um sistema de classificação dos cidadãos chamado songbun. Toda pessoa é classificada em três grupos principais e depois constantemente monitorada, com base na sua lealdade ao regime, no que os seus ancestrais fizeram e no que os seus parentes fazem no presente. O primeiro grupo é o “cerne”, formado pelos revolucionários e militares, seus descendentes ou por aqueles que ao longo do tempo demonstraram grande lealdade ao regime. O segundo grupo é o da classe “básica” ou “vacilante”, formada por intelectuais, ex-comerciantes, pessoas com família na Coréia do Sul ou que moraram lá, ou seja, pessoas nas quais não se pode confiar totalmente. O grupo mais baixo é o “hostil”, que inclui ex-proprietários de terras e seus descendentes, ex-capitalistas, ex-soldados sul coreanos, cristãos, famílias de prisioneiros políticos e os considerados inimigos do Estado. Em todos os três grupos existem dezenas de subdivisões. De acordo com a sua classificação você tem uma posição social que te dá, ou não, uma melhor perspectiva de vida. Como o país é um dos mais pobres do mundo, nem os norte-coreanos com histórico de serviço militar, que tem os melhores empregos, tem boa condição econômica, e ninguém desfruta do que consideramos liberdade, inclusive de movimentação dentro da Coréia do Norte. O regime exige lealdade absoluta à família do ditador, e se algum parente seu cometer um crime grave, como ser pego em corrupção ou matar alguém, toda a família sofre, com perda de emprego, baixa do exército, impossibilidade de ir para a faculdade e outros. Adicionalmente as pessoas são ensinadas a idolatrar, como deuses, a família que governa a nação. “... a minha mãe...acreditava que Kim Il-sung e Kim Jong-il tinham poderes sobrenaturais. Acreditava que Kim Il-sung fazia o sol se levantar e que quando Kim Jong-il tinha nascido em uma cabana em nosso sagrado monte Paektu (ele na verdade nasceu na Rússia), sua vinda foi marcada por um duplo arco-íris e uma brilhante nova estrela no céu”. “... muitos anos se passariam até que percebesse que Kim Il-sung e Kim Jong-il eram apenas homens que tinham aprendido com Josef Stálin, com seu modelo soviético de governar, como fazer com que as pessoas os cultuassem como se fossem deuses”. A autora conviveu com a fome persistente. Por muitos anos o seu único pensamento foi o de comer, comer e comer, enquanto que com a queda da União Soviética o regime definhava. “O país no qual cresci não era igual àquele que meus pais tinham conhecido quando crianças, nas décadas de 1960 e 1970. Quando eles eram jovens, o Estado cuidava das necessidades básicas de todos: roupa, tratamento médico, alimentação. Quando terminou a Guerra Fria, os países comunistas que tinham amparado o regime da Coréia do Norte a abandonaram - [URSS e a China ] -, e nossa economia controlada pelo Estado entrou em colapso. Os norte-coreanos subitamente ficaram sozinhos”. O regime não abriu a economia e já em 1994 a fome chegou. “No mundo livre, as crianças sonham com o que querem ser quando crescerem e como poderão utilizar seus talentos. Quando eu tinha quatro ou cinco anos, minha única ambição como adulta seria comprar tanto pão quanto quisesse e comê-lo todo. Quando se está o tempo todo com fome, só se pensa em comida. Eu não conseguia entender por que minha mãe voltava para casa com algum dinheiro e tinha de guarda-lo para mais tarde. Em vez de pão, comíamos apenas um pouco de mingau de batatas. Minha irmã e eu combinamos que se alguma vez ficássemos adultas, usaríamos nosso dinheiro para comer pão até ficarmos satisfeitas ....eu achava que poderia comer uma montanha de pão e nunca estaria completamente satisfeita”. Estima-se que 1 milhão de norte-coreanos tenham morrido de fome e inanição no conjunto dos piores anos. Com o tempo o atraso do país foi se tornando gritante em todos os aspectos da vida. “Algumas pessoas tinham parentes na China e podiam solicitar permissão para visita-los ... eles contavam sobre as coisas incríveis que se podiam encontrar no lixo na China, até mesmo roupas em perfeito estado. Nada se desperdiçava na Coreia do Norte, e não podíamos nos imaginar jogando fora qualquer coisa que pudesse ser usada novamente, mesmo garrafas de plástico vazias, sacolas e latas. Para nós, eram como ouro”.
O regime ensinou Yeonmi a não pensar e decidir por si pois o Estado fazia isto pelos cidadãos. “Tudo o que eu conseguia ouvir, aprendi rapidamente a não repetir. Fui ensinada a nunca expressar minha opinião, nunca perguntar nada. Fui ensinada a simplesmente obedecer ao que o governo me dizia para fazer ou dizer ou pensar”. Na Coréia do Norte ela desconhecia os conceitos da religião, do “eu” individual ao invés do “nós” coletivo (“a minha vida nada vale perante a nação”), das várias formas de amor (não só a pátria e ao seu líder) e a possibilidade de existência de um sistema legal que protegesse os cidadãos.
Conforme a conjuntura e os infortúnios faziam com que sua família ficasse próxima da morte por inanição, ela sabia que atravessando o rio estaria na China, onde as cidades tinham luzes, as pessoas comiam, havia vários canais na televisão e a possibilidade de ouvir música com relativa liberdade. Na ânsia para poder viver fugiu para lá (onde norte-coreanos se pegos são deportados), viveu escondida, se prostituiu, quase morreu mas conseguiu chegar a Coréia do Sul. Ela inicialmente foi levada para um Centro Nacional de Inteligência, por onde todos passam quando chegam, e onde as pessoas são estudadas e interrogadas. Os objetivos são vários, sendo um dos mais importantes identificar e descobrir impostores. Depois foi transferida para um Centro de Realocação, onde ensina-se a um norte-coreano como se tornar um sul-coreano. No Centro e na vida real Yeonmi aprendeu a viver como nós, percebeu como a liberdade pode ser penosa, que ela nos faz pensar o tempo todo, como a competição nos obriga a estudar para avançar, como a individualidade te leva a tomar posições (gosto desta cor, tenho esta opinião) e a escolher sempre, e como a vida pode ter diversas possibilidades de ser vivida. Sobretudo entendeu que em uma democracia se você der duro via de regra é recompensado. Sendo ambiciosa foi atrás. Um dos resultados é o livro “Para poder Viver” e a sua vida hoje nos Estados Unidos. Por outro lado, pagou o preço. A sua família foi perseguida na Coréia do Norte e obrigaram os seus parentes a falar mal dela na televisão. Também entendeu um dos contrapontos do mundo de hoje no Ocidente: “Quando você tem tão pouco, a menor coisa pode fazê-lo feliz – e essa é uma das poucas características da vida na Coréia do Norte das quais eu realmente tenho saudade”. De leitura fácil e com 302 páginas, o livro te prende, te faz refletir e é bom para fazer as pessoas pararem de reclamar da comida que têm em casa, da vida, do Brasil e da sua suposta falta de opção. Podemos ter um pequeno exemplo do culto à personalidade do ditador da Coréia do Norte passando em frente à embaixada do país em Brasília. Afastada das demais e bem protegida, ela tem um mural envidraçado com iluminação noturna acessa todas as noites. Nele se pode “contemplar” três imagens enquadradas, dentre outras, do ditador da nação. Marco da Camino Ancona Lopez Soligo
Vice Presidente de Participações na Cemig - Companhia Energética de Minas Gerais
7 aAna Maria, obrigado. Abraço, Marco
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7 aMarco da Camino Ancona Lopez Soligo Amei o livro. Muito bom. Agora comecei a ler a trilogia do Gê-gê. 🙄
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7 aAdorei Marco, com certeza vou buscar para ler. Bebel vai adorar.